Não há uma sondagem em que uma força política esteja sequer perto da maioria absoluta nas próximas legislativas. A multiplicação de pequenos partidos, complica esse objectivo, mas nem por isso Pedro Passos Coelho e AntónioCosta o deixam cair dos seus discursos. E até já concordam num ponto: as duas propostas (sobretudo nos absolutamente centrais temas económicos) são inconciliáveis. E não ficam por aqui nos encontros… de estratégia, claro.
A certeza foi expressa ontem, de parte a parte. Numa entrevista publicada no semanário “Sol”, o presidente do PSD afirmou que o que está em “jogo nas próximas eleições é saber se damos maioria absoluta ao actual governo ou se damos maioria ao PS”. E ainda acrescentou que “não há, no actual contexto, nenhuma hipótese de um governo juntando CDS, PSD e PS”. De uma assentada arruma a hipótese de Bloco Central e põe o CDS no mesmo saco de ruptura com os socialistas. Do outro lado, em reacção ao primeiro-ministro, o líder do PS achou “útil que o país tenha maioria absoluta”. E ainda se declarou “muito contente” por concordar com Passos: “Claro que não há nenhuma possibilidade de entendimento entre o PS e esta coligação de direita.” De uma assentada arruma a hipótese de Bloco Central e põe o CDS no mesmo saco do PSD.
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E quando já se sente o calor do período de pré-campanha eleitoral, os dois líderes sublinham mesmo o fosso que os separa. Nas palavras de Passos: “Os programas económicos são divergentes, os modelos económicos são diferentes, a forma como o PS – e já vão em duas lideranças – vem colocando o problema político e económico não é conciliável com os objectivos que temos”. “Há uma diferença abissal na forma como olhamos para a recuperação da economia.” Costa não diria muito diferente de Passos. Aliás, não disse: “Os portugueses vão ter a possibilidade de escolher dois caminhos absolutamente distintos nas suas prioridades e forma de governação.”
Afinal as diferenças entre os dois são nenhumas (pode tentar distingui-los no desafio em cima), pelo menos no que a estratégia diz respeito . E até quando se diabolizam mutuamente, para chegarem à mesmíssima conclusão. Vejamos. Passos agarra no exemplo da privatização da TAP e na ameaça do PS em reverter o que está em curso:“Como é possível dar consistência e coerência a um governo nessas condições? Sinceramente espero que a campanha sirva para dizer às pessoas que o pior que nos pode acontecer é ninguém ter maioria.” ECosta?
“Estamos certos que depois desta experiência tão traumática, tão negativa que foram estes quatro anos de coligação de direita em Portugal, certamente os portugueses vão perceber que não podemos estar com um período de instabilidade, com um Presidente da República em final de mandato a impedir o PS vencedor das eleições de governar e portanto irão criar condições para podermos governar.”
A história da democracia estabilizada acaba por dar-lhes razão. Só por uma vez um governo de maioria relativa chegou ao fim, o primeiro de AntónioGuterres (1995-99) e já não conseguiu repetir a proeza (foi reeleito nas mesmas condições e caiu dois anos depois). Claro que também ambos se recusam em falar neste cenário, mas é para a maioria relativa que as sondagens da última semana mais apontam. No estudo da Aximage, para o “Jornal de Negócios” e “Correio da Manhã, coligação e PS apareceram separados por uma décima. E no da Eurosondagem, para “Expresso” e SIC, a diferença é de 4,5 pontos percentuais. São os primeiros estudos de intenções de votos sobre as próximas legislativas depois de o PS ter avançado com o seu plano económico e depois de PSD e CDS terem anunciado a coligação.
O acordo é assinado por Pedro Passos Coelho e Paulo Portas hoje em Guimarães, mesmo com o episódio-SMS a manter-se sobre as cabeças (na entrevista ao “Sol”, Passos reafirmou que soube da demissão de Portas, em 2013, por SMS, quando o líder do CDS já disse tê-lo feito por escrito).