Têm 2700 km, as auto-estradas de Portugal. Mal ou bem, estão construídas, e haverá umas por finalizar, mas todas feitas em nome da “coesão nacional”, com nobres e justas intenções, e essa será porventura uma das maiores marcas da nossa “integração europeia”. Todos nos recordamos do calvário que era viajar de automóvel até Braga, Guarda, Elvas ou Faro, ou do que era a morosidade do transporte rodoviário de mercadorias, vindas de fora ou do interior do país.
O processo levou tempo, e é bom recordar: em 1974, mais de metade do país estava às escuras e sem água canalizada. Em 41 anos infra-estruturaram-se os concelhos e, para lá das perdulárias rotundas, ergueram-se equipamentos sociais de qualidade que pretensamente dariam ao interior uma real capacidade de absorção e fixação demográfica. O alcatrão ligou, quebrou isolamentos e, mais tarde, a internet, a banda larga, e a comunicação fizeram o resto. Em tudo isto há certamente uma lógica, ou assim parecia que houvesse.
Mas não. Ao contrário de tudo o que seria razoável prever, depois da obra feita, a macrocefalia das áreas metropolitanas, o anacrónico “iluminismo” do Terreiro do Paço e a voragem concentracionária dos recursos fizeram com que, logo no primeiro momento de aperto e com a pesada factura por pagar, fosse, como sempre, o interior a dar o pesado naco aos cobradores do fraque. Mais migração e mais desertificação. Desgraçadamente, mesmo vinda da província, a política deslumbra-se demais com a cidade. E, também desgraçadamente, a cidade é provinciana. Bem poderia, com inteligência, ter o tamanho de Portugal. Todos ganharíamos com isso.
Historiador. Escreve ao sábado