O teletrabalho é frequentemente associado a uma melhoria da qualidade de vida. O tempo poupado em transportes e deslocações permitiria a vivência de um quotidiano com menos pressão e stresse, mais tempo livre e um melhor equilíbrio com a vida familiar e pessoal. Estimulada por uma das propostas recentemente em discussão na AR em torno da natalidade, recuperei um estudo que fiz há alguns anos sobre o tema. Este permitiu observar que o controlo sobre o tempo é bastante limitado. São comuns as longas jornadas de trabalho, o prolongamento dos afazeres profissionais durante a noite ou fins de semana, assim como a perceção de isolamento profissional e social.
Foi possível notar que os homens e as mulheres apresentam motivações diferentes: enquanto estas salientaram a procura de flexibilidade na gestão do tempo e na articulação entre as responsabilidades domésticas/familiares e as profissionais, foram sobretudo os homens que mais referiram os benefícios de uma maior concentração, eficiência e produtividade.
A maioria das teletrabalhadoras-mães reportou a necessidade de trabalhar à noite (período em que as crianças já estão a dormir), sacrificando os seus tempos sociais, de lazer e repouso. Os seus testemunhos deram ainda conta de uma jornada de trabalho subordinada à rigidez dos horários escolares (e extracurriculares) das crianças, de uma perceção de desgaste físico e psicológico decorrente da simultaneidade de afazeres diversos e da constante interferência das tarefas domésticas e dos apelos ao educar e cuidar…
Sim, a experiência do teletrabalho tem também a “marca” do género.
Professora no Instituto Superior de Economia e Gestão
da Univ. de Lisboa.
Escreve à quarta-feira