A parte boa de um drama juvenil (entre outras) é a capacidade de se transformar num desfile de dores crescidas e maduras. Pela mais simples das razões: sendo adulto, quem vê o filme já foi adolescente, não há grande remédio contra isso. E é grande a probabilidade de que tenham acontecido uns quantos momentos desagradáveis – porque não traumáticos? – durante esses anos mágicos.
“Respira”, adaptado do livro com o mesmo título de Anne-Sophie Brasme (2001), é uma viagem a uma dessas histórias. Não temos necessariamente de encontrar paralelismos com as nossas próprias vivências de escola secundária.
O mais provável até é que, dada a evolução dos acontecimentos, isso não aconteça. Mas esta é a desventura de uma jovem de 17 anos, Charlie (Josephine Japy), que prefere estar sempre na escola quando em casa o quase-divórcio dos pais não é acolhedor; e é também a epopeia melancólica de Sarah (Lou De Lagge), a rapariga nova na turma, misteriosa e cativante, sedutora só de existir, ela não tem culpa.
Aproximam-se muito, alguns dirão que se aproximaram demais. E há sempre o momento em que duas vontades aparentemente sintonizadas se revelam diferentes.
“Respira” é um conto sobre os malefícios da amizade e da obsessão, uma bem enrolada na outra, com as protagonistas dedicadas à narrativa como nem sempre se vê. A inocência transforma-se aqui numa arma e a isso é difícil escapar.