Patrick Watson. No peito dos seus robôs também bate um coração

Patrick Watson. No peito dos seus robôs também bate um coração


O músico canadiano trouxe a ficção científica para o seu novo disco “Love Songs for Robots”.


Pode dizer-se de Patrick Watson que já é da casa, se pensarmos que o músico canadiano tem em Portugal, há vários anos, uma boa legião de fãs, seguidores atentos do seu trabalho. O próprio acaba mesmo por não rejeitar a expressão ao confessar que por cá não se sente propriamente um forasteiro. “Quando vim a primeira vez surpreendeu-me ter cá tantos fãs e pensei: ‘C’um caraças!’ Não fazia ideia. E quanto mais venho a Portugal melhor compreendo o país.

Não sei se é uma coisa daqui, as pessoas são muito dadas, naturalmente sociáveis, e o que é certo é que não sinto nenhuma diferença cultural quando venho a Portugal. Vivo em Little Portugal, em Toronto, e estou sempre rodeado de portugueses, talvez isso também ajude.” Talvez. Tendemos a concordar com a análise feita entre cafés e bolos na esplanada de uma pastelaria em Lisboa, numa manhã soalheira de Março. Foi esse o mês escolhido para mais uma visita de Watson, desta feita para promoção à imprensa do novo disco, “Love Songs for Robots”, lançado esta semana. Coisa rara num músico que nos habitou a fazer de cada passagem por Portugal uma demonstração ao vivo dos seus discos. O regresso aos palcos nacionais para mostrar o novo trabalho está desde já prometido. “Não há como não vir”, garante, mas até lá é tempo de perceber do que trata afinal “Love Songs for Robots”, gravado nos estúdios Capitol Records, em Los Angeles. Ficção científica, “Star Trek”, marionetas, emoções e inspiração são ideias em torno das quais se pode dizer que girou este registo.

Apesar de alguns conceitos associados, Watson não pretende fazer discos conceptuais. “Costumo escolher um título que me inspira e pode levar a pensar em milhares de coisas, e depois faço a música a partir daí”, começa por dizer, acrescentando que o que aquele lhe dá é “apenas e basicamente a direcção, a forma como se pega na instrumentação e na cor do trabalho”, refere. No caso de “Love Songs for Robots” a direcção veio da paixão pela ficção científica, que compara com uma espécie de cavalo de Tróia da realidade. Referindo como exemplo a saga “Star Trek”, o músico considera que muitas vezes é a ficção científica que acaba por abordar questões sociais, de certa forma tabu, evitadas noutros géneros. “As pessoas assistem a essas questões e como estão fora da sua vida permitem a si próprias pensar sobre elas de forma diferente, porque não têm de as aceitar na sua realidade, mas a ideia vai ficando nas suas cabeças, como uma espécie de cavalo de Tróia, e eu adoro isso na ficção científica.” A esta junta-se outro tipo de fuga à realidade: um programa com bonecos a cantar temas de amor “bastante pirosos”. “Por serem marionetas ficaram engraçadas, como se desligássemos os mecanismos que não nos permitem gostar delas quando são as pessoas a cantá-las”, explica.

Neste disco, para o qual recuperou as suas influências mais electrónicas e adicionou o hip-hop e o R&B que o grupo foi ouvindo nos últimos tempos, há outros pormenores que talvez passem despercebidos a quem o ouve, mas tornaram o processo “divertido”. As respostas, essas, ficam ao critério de quem o escuta. “Não penso que a música tenha de servir para intelectualizar, tento sempre mantê-la como uma coisa muito física e simples. É disso que gosto nela.” A uma imposição de ideias, o músico – pai de dois filhos que deixam muitas vezes as suas vozes e cantorias impressas nas demos – diz preferir a partilha, o diálogo e a curiosidade. “Quando nos tornamos mais velhos temos duas opções: mantermo-nos curiosos e acomodarmo-nos.” Escolhe a primeira porque considera que nos faz envelhecer melhor, viver mais anos e ser mais felizes e por acabar também por trazer inspiração, que considera ser o que nos impede de ser robóticos. “Não estou a dizer que todas as emoções são mecânicas e as pessoas são robôs, mas têm um certo mecanismo associado. Há sentimentos mais vívidos, especiais e menos mecânicos, como a inspiração, aquele friozinho na barriga, que não é nem felicidade nem tristeza. Isso é mais difícil de recriar.”