Moda das selfie aumenta a procura de cirurgias plásticas

Moda das selfie aumenta a procura de cirurgias plásticas


O i falou com Fernando Póvoas, conceituado médico português, para perceber melhor o mundo das cirurgias estéticas.


A moda das ‘selfie’ parece ter vindo para ficar e obter a ‘selfie’ perfeita tornou-se quase uma obsessão. Há quem recorra ao Photoshop mas há também quem passe à cirurgia plástica.

Pode parecer estranho, mas é uma realidade que se tem verificado em alguns países. De acordo com um estudo anual publicado no início de 2015 pela Academia Americana de Plástica Facial e Cirurgia Reconstrutiva, um em cada três médicos inquiridos viram um aumento nos pedidos de cirurgia devido à insatisfação dos pacientes com a sua imagem.

Mais de metade dos cirurgiões que fizeram parte deste trabalho viu um aumento da procura por parte de pacientes com menos dde 30 anos, o que para os profissionais é um sinal do impacto de redes sociais como o Facebook.

O i falou com Fernando Póvoas, conceituado médico português, para perceber melhor o mundo das cirurgias estéticas em Portugal.

Houve um aumento da procura nos últimos anos?

Nos últimos anos, mesmo com a “crise” , tem havido um aumento progressivo na procura de cirurgias estéticas e tratamentos de medicina estética.

Há várias razões que podem explicar isso, sendo a principal, em minha opinião, a evolução que houve nos últimos anos na área da cirurgia e medicina estéticas.

As técnicas e tecnologias evoluíram de forma a tornarem as cirurgias menos agressivas, menos invasivas, levando a resultados com menos cicatrizes, mais imperceptíveis, e com uma recuperação para a vida habitual bastante rápida.

Na maioria das cirurgias estéticas realizadas por mim, hoje em dia, as pessoas um a dois dias depois estão a fazer a vida normal. Na maioria dos tratamentos de medicina estética retomam a vida normal logo de seguida.

Como é actualmente a ligação de Portugal com a cirurgia estética?  E se for feita uma comparação com outros países?

Portugal tem tido uma evolução semelhante aos outros países, considerando que as técnicas praticadas estão ao nível de competitividade com qualquer outro país, não havendo nenhum atraso. Até há técnicas e tecnologias em que estamos mais à frente, daí um aumento crescente na procura por pessoas de outros países que vêm fazer cirurgias estéticas a Portugal. O factor económico também deve ser considerado. A mesma cirurgia na Suíça custa mais do dobro, por exemplo.

Houve uma mudança de pensamento?

A mentalidade dos portugueses, felizmente, tem vindo a mudar e a ser mais aberta, mas ainda com alguns tabus, secretismos e preconceitos quando se fala de uma cirurgia estética. Mas está melhor nos últimos anos.

Não podemos ignorar que em Portugal as cirurgias estéticas deixaram de ser feitas no sistema público na sua quase totalidade. Significa que tem que se recorrer ao sistema privado e este tem que ter soluções para as várias necessidades que se lhe deparam. Passa por haver formas de pagamento, preços mais acessíveis porque as cirurgias são quase todas feitas sem internamento, diminuindo os seus custos.

A que tipo de cirurgia os portugueses mais recorrem?

A cirurgia mais procurada em Portugal e na maioria dos outros países é para aumentar as mamas com próteses. Era a retirada de gorduras com diferentes técnicas de lipoaspiração até há poucos anos que agora ocupa a segunda ou terceira posição nas cirurgias estéticas mais procuradas.

Há uma preocupação muito maior com a imagem, fruto da competitividade e da dificuldade em se obter trabalho. É um factor que leva a que as pessoas tenham uma maior preocupação com a sua imagem. A socialização também, pois a sociedade exige mais da apresentação das pessoas e da sua imagem exterior.

Há alguma ligação entre a crise e o recurso a cirurgias?

Quase toda a gente se queixa da crise e muitas vezes se considerava que a maior ou menor procura de cirurgias estéticas era um indicador  do estado económico e financeiro dum país. Isto oiço há muitos anos, não é novidade desta ultima “crise”. Não é totalmente verdade, na minha opinião.

A “crise” é a forma mais simples e cómoda para os responsáveis se desculparem com o insucesso e falhanço das suas funções. Da incapacidade de encontrarem soluções em vez de se agarrarem à desculpa da “crise”. Trabalhar, não baixar os braços, aparecer com alternativas e soluções, produzir e não fomentar a falta de incentivos e de produtividade. Não posso afirmar que a “crise” tenha afectado directamente a procura de cirurgias estéticas.

Se imaginar que vive e trabalha noutro país, a sua vida profissional seria muito diferente?

Em Portugal, reafirmo, temos um nível médico à altura de qualquer outro país, em muitas especialidades até superior. A cirurgia plástica e estética acompanha qualquer país do mundo, podendo nalguns casos estar mesmo à frente. Por exemplo, os sistemas de lipoaspiração assistida, como a vibroliposucção, apareceram primeiro em Portugal do que nos Estados Unidos da América e Brasil, onde fomos pioneiros nesta técnica. Há que criar e desenvolver “escola” em cirurgia estética que é inexistente em Portugal.

Se eu trabalhasse noutro país não sei se seria melhor ou pior. Adoro este país, onde nasci, cresci e tenho vivido, adoro os portugueses, que não têm culpa de alguns que têm contribuído para a sua degradação e destruição nos últimos anos.

Não perdi a esperança de um Portugal melhor. Confio nos portugueses bons. Não quero sair de cá.”