“Há dias mais fáceis do que outros. Há dias em que a mentira não é tão dura. Há dias em que passa ao lado. Mas, depois, há os dias em que tenho perfeita noção de que a minha escolha já me tirou mais do que me deu.” A frase é de Cristina Ferreira, apresentadora da TVI, e está escrita no seu blogue. “O meu convidado do número três da revista disse que a maior parte das pessoas, se fossem dez minutos famosas, talvez não nos invejassem assim tanto. A sorte é que não me tiram o sorriso. Nem a certeza de que sou a mesma. Apesar do que me inventam.” Aos 37 anos, Cristina Ferreira tem uma legião de fãs e à carreira televisiva soma vários projectos pessoais: uma loja, uma linha de sapatos, um perfume e, claro, o cargo de directora de conteúdos não informativos da TVI.
Mas como confessava Cristina Ferreira no seu blogue, o dailycristina.com, ter milhares de seguidores nas redes sociais e de apreciadores do seu trabalho não significa uma vida sem espinhos. A fama também tem um lado negro.
Cláudia Vieira, uma das actrizes portuguesas mais acarinhadas pelo público, que o diga. Chegou a ser criticada por partilhar uma fotografia nas redes sociais onde aparecia com as unhas por arranjar. Apesar de ser a primeira a sublinhar que não podia ser mais apaixonada pela sua profissão, a actriz, de 36 anos, explica ao i que concorda com a ideia de Elvis Presley: “Há uma grande diferença entre aparência e essência. Claro que é muito difícil viver de acordo com uma imagem porque, essencialmente, essa imagem pode não reflectir o que somos naturalmente. É muito comum as pessoas ficarem surpreendidas quando me conhecem pessoalmente. É por isso que, muitas vezes, partilho fotos minhas nas redes sociais sem maquilhagem. Não tenho qualquer objectivo de passar uma imagem de perfeição quando ninguém é perfeito.”
Já a actriz Rita Pereira, de 33 anos, soma mais de um milhão de seguidores só no Facebook. Ser alvo de críticas não é novidade para ela e a mais recente foi depois de ter sido capa da revista “Women’s Health”. Ainda a revista estava a acabar de chegar às bancas e choviam críticas de que teria recorrido ao Photoshop, já que – diziam os críticos – o seu corpo não é assim.
“Por vezes é difícil estarmos à altura da imagem que as pessoas têm de nós, sim. Mas acho que, se tivermos confiança em nós, acabamos por acabar com a ansiedade. Sou extremamente confiante e libertei-me da preocupação que tinha com o que as pessoas pensavam de mim”, explica ao i, acrescentando: “Lido muito bem com as críticas. Mas foi algo que fui criando. Há dez anos não era assim. No início chorava muito. Ficava muito preocupada. Mas aprendi com a vida e sou muito mais feliz.”
Jessica Athayde, de 29 anos, também foi duramente criticada quando aceitou desfilar na ModaLisboa. A actriz desfilou em biquíni e, quando as fotografias foram divulgadas, foram muitos os comentários negativos à sua forma física, sugerindo que apresentava uns quilinhos a mais. “Há uma grande tendência para se fazer uma série de julgamentos a partir da imagem. Pessoalmente, tento lutar contra isso porque acredito que uma pessoa é mais do que aquilo que aparenta ser. Até pode ser totalmente diferente, há todo um ‘eu’ por trás da imagem”, confidencia ao i.
“Há uma ditadura da imagem, especialmente no que toca às mulheres. Temos de ser perfeitas, ter o peso ideal, o cabelo arranjado, a maquilhagem a esconder cada pequena imperfeição, a roupa escolhida a dedo… Somos constantemente julgadas pela nossa aparência e é uma tendência tão redutora para a condição feminina…”
Imagem versus ansiedade Para o psicólogo Quintino Aires, ouvido pelo i, a questão da imagem ganha importância quando associada a um quadro de ansiedade. “Temos o ego real e o ideal. O ideal é a representação que os outros têm de nós. O real é aquilo que sabemos que somos mas, muitas vezes, os outros nem conhecem. E, claro, quanto mais distantes estão um ego do outro, mais sofrimento e ansiedade se gera”, sublinha. “É evidente que, no caso dos artistas, a distância entre um e o outro é muito grande. O que as pessoas conhecem deles é através de concertos, do cinema, da televisão ou de entrevistas. E isto pode trazer um grande sofrimento.”
Mas, para o psicólogo, há uma minoria que aprende a superar esta ansiedade. “Há pessoas que ganham uma confiança tal que acabam por apresentar ao público características do ego real, e isso reformula o ego ideal. Mas claro que isto não é fácil e nem todos conseguem.”
Ricardo Pereira, de 35 anos, parece concordar: “A nossa imagem tem muito de nós próprios. Há muito espaço para que a nossa marca seja pessoal e personalizável, mostrando exactamente a essência do que somos. A nossa preocupação com a imagem pode ser algo muito positivo, interessante e até mesmo desafiador”, confidencia ao i.
Certo é que a preocupação da imagem existe e vai continuar a existir, principalmente quando em causa estão imagens que podem valer milhares de euros.