Em tempo de eleições, a palavra “estratégia” é talvez das mais usadas e deturpadas, na opinião e no debate político. Há estratégias para tudo, e depois, ou se acantonam no “economês”, e confundem-se quase sempre com tácticas, ou então, depois de muito bem espremida a fruta, falecem-lhe o sumo, o mundo, o cenário e a visão pátria. Qualquer tema que esteja ao lume, bastará irmos à net, ou empoleirarmo-nos em cima de um escadote e procurar na estante dos arrumos o respectivo dossiê, e lá estão elas, plenas de viço e magia – as “estratégias”! Que o não são, de facto. A discussão perde-se irremediavelmente pelas considerações conjunturais, pelas históricas e recorrentes clivagens ideológicas, que por certo existem e fazem todo o sentido, mas demasiadamente embrenhadas numa lógica de corrida ao sprint, o que, convenhamos, enquanto estratégia é manifestamente pouco, mesmo que se ganhem eleições.
A conjuntura está governamentalmente dominada pelo “economês”. Mas é lógico admitir que só uma estratégia de longo/médio prazo nos poderá libertar do economês ou, pelo menos, libertar a próxima geração. E só por isso já é interessante, mesmo como início de conversa, que o PS tenha apresentado um documento à discussão pública, percepcionando a década futura. Saúdo a iniciativa porque eleva a política, concorde-se ou discorde-se do conteúdo. Passámos quatro anos que não se desejam a ninguém. Religiosamente opacos e com muito má política. Mas a prosápia do medo, essa já se esgotou. Acrescente-se então Portugal ao economês. E não por dez, mas por 20 anos. Isso tornaria o debate bem mais recomendável e mobilizador.
Historiador. Escreve ao sábado