Hoje no São Jorge, em Lisboa (21h30, bilhetes a 15 euros), amanhã no Coliseu Micaelense, em Ponta Delgada (21h30, bilhetes a 10 euros).
Moreno Veloso apresenta “Coisa Boa”, o disco que editou no ano passado e que cruza o Rio de Janeiro com a Bahia como poucos conseguem, filho de tradições mas com a vontade atenta ao presente, é um dos mais cativantes compositores do Brasil contemporâneo.
Fala-nos dos concertos que vem apresentar, dos amigos com quem trabalha e do pai, Caetano, uma influência mas também um fã.
– O que devemos esperar destes concertos?
É um show baseado no disco “Coisa Boa” que é um álbum tranquilo, com sonoridades delicadas. Além das canções do disco tocaremos outras que habitam historicamente minha vida como algumas canções do primeiro disco “Máquina de Escrever Música” e outras composições de amigos próximos.
– Gosta mais do lado de produtor ou de intérprete/compositor?
Gosto das duas coisas, tanto de poder ficar no estúdio com os músicos e os equipamentos de gravação quanto de estar no palco com os amigos perante a plateia. São trabalhos que me alegram e complementam de maneiras diferentes mas sempre em prol da música.
– Já não vive na Bahia? Em alguns momentos, através das canções, ficamos com a ideia de que a Bahia é tudo para si…
A Bahia é minha terra natal, para onde minha mente voa quando quer refúgio e onde meu corpo se sente acariciado pelo próprio ar. Vivo no Rio agora, lugar que amo também com sua imensa beleza natural e onde passei a maior parte da minha vida, mas preciso sempre voltar à Bahia.
– As colaborações, o trabalho em equipa, está sempre presente em tudo o que faz. É uma necessidade?
Acredito e venho comprovando isso através da minha vida que a colaboração é sempre mais rica e menos massante. Não gosto de trabalhar sozinho. Prefiro estar junto com meus amigos e as pessoas que admiro. Imagino que a música faça parte da vida quotidiana dos brasileiros e isso cria uma base muito rica de onde sempre hão-de surgir coisas lindas.
– Apesar deste trablho de grupo, o que canta tem um lado muito pessoal. É fácil depois cantar tudo isso em frente a uma plateia?
É uma transposição da intidimidade que temos com as canções e os instrumentos para o palco. É mesmo muito pessoal mas talvez isso mesmo seja a força propulsora que nos faz acreditar que em algum lugar alguém há-de ser tocado. Não é exactamente fácil para quem é originalmente tímido como eu mas o esforço é bem recompensado.
– Estudou física mas acabou na música. Era inevitável? Também por causa do seu pai?
Era inevitável desde que nasci e não somente por meu pai, minha família e meus amigos músicos. Nasci no dia de Santa Cecília a padroeira dos músicos. Adorei seguir meus instintos matemáticos e filosóficos na faculdade mas nunca pude nem tentei me afastar da música.
– Hoje ainda presta atenção à ciência ou nem por isso?
Presto atenção porque continuo gostando dos meandros científicos além de ter feito muitos amigos na academia que me mantêm informado até hoje.
– É a primeira vez a solo em Portugal, certo? Uma sensação especial?
Não sei se é a primeira vez a solo porque não vou só. A sensação é de alegria. Tenho muitos amigos em Portugal e gosto de estar aí.
– Quem tem como seus maiores críticos, os seus filhos ou o seu pai?
Talvez eu mesmo seja meu maior crítico, embora meu pai e meus amigos ajudem a manter meus olhos e ouvidos abertos.
– Ser filho de uma figura tão popular, é causa de exigência maior? De mais responsabilidade?
Eu diria que é causa de uma curiosidade maior. A exigência e a responsabilidade são naturais e não tão grandes a ponto de impedir que os meus trabalhos venham à luz.