ngolstadt. Não, não estamos com espasmos nos dedos. É mesmo o nome de uma cidade situada na Baviera. Se for daquelas pessoas que sabem tudo sobre carros, já deve ter ouvido falar nela:é lá que fica o quartel-general da Audi. Ou então, se perde horas a vaguear por sites desportivos e olha para as classificações até das divisões secundárias, certamente já se cruzou com esta palavra. Ingolstadt alberga neste momento o líder da Bundesliga 2.
Mas Ingolstadt (agora que já lhe apanhámos o jeito…) é muito, muito mais que futebol. A cidade tem uma longa história e o seu nome aparece em registos desde os séculos XIIIe XIV. Foi lá que Victor Franken-stein estudou ciências naturais e aí conduziu as suas primeiras experiências para criar vida artificial – falamos, claro, da obra de Mary Shelley. A autora achou a cidade encantadora e decidiu situar aí parte do enredo do seu mundialmente famoso romance. Ingolstadt é também o berço dos Illuminati, a sociedade secreta fundada no século XVIII.
Com tão longa história, o clube primeiro classificado da Bundesliga 2 parece ser das poucas coisas recentes na cidade. Existe apenas desde 2004, quando o ESV e o MTVIngolstadt se juntaram numa só instituição. Foi a melhor decisão, já que nenhum dos emblemas conseguira passar da quinta divisão. Patrocinado pela construtora automóvel germânica, que também tem o seu nome nas camisolas do Bayern, o clube bávaro tem crescido sustentadamente. Em 2008 subiu à Bundesliga 2 e por lá tem andado, nunca conseguindo acabar acima do 10.o lugar.
Esta época, o orçamento não mudou muito:8,5 milhões de euros, um valor nada elevado para a média do escalão secundário alemão. Os dois empates nas duas primeiras jornadas faziam adivinhar uma temporada semelhante às anteriores, a lutar pela manutenção. Só a contratação do internacional australiano Matthew Leckie ao FSVFrankfurt podia dar alguma esperança aos adeptos e elevar o nível do plantel.
Oprojecto do FCIngolstadt foi, durante muito tempo, um one-man show. Peter Jackwerth, um milionário do sector do trabalho temporário, teve a ideia de juntar os dois clubes da cidade quando ambos estavam em situação de falência e lhe pediram ajuda. AAudi foi-se envolvendo no apoio ao clube local – um em quatro habitantes de Ingolstadt trabalham para a construtora automóvel – e já detém quase 20% das suas acções.
Em 2010 foi inaugurado um novo estádio, para 15 mil pessoas. “Nunca pensámos que crescesse tão rapidamente a nível desportivo”, confessou Jackwerth. Depois dos 14.o, 12.o, 13.o e 10.o lugares nas quatro temporadas disputadas na Bundesliga 2, o Ingolstadt FC parece pronto para a elite germânica. A três jornadas do fim, o clube lidera surpreendentemente a classificação e está apenas a uma vitória de garantir a subida.
A cidade fica apenas a 80 km de Munique, onde mora o todo-poderoso do futebol alemão, também apoiado pela Audi (possui 8,3% do Bayern). Em 2015/16, a construtora verá o seu nome em duas camisolas da Bundesliga e terá de dividir o apoio (moral, pois o financeiro é maioritariamente para o campeão alemão) por ambos. Quando o Ingolstadt joga em casa, é habitual ouvir-se “Thunderstruck”, dos AC/DC, antes do pontapé inicial. As equipas da Bundesliga terão de se preparar para não serem fulminadas pela nova coqueluche do futebol alemão.
Amanhã leia a história do GFCAjaccio, 2.o classificado da Ligue 2 em França