Debate quinzenal. Dois SMS, uma editora, o BPN e uma gafe

Debate quinzenal. Dois SMS, uma editora, o BPN e uma gafe


Dias Loureiro é sócio da Alêtheia, que publicou a biografia em que Passos enervou o CDS de Portas.


A oposição nem sequer explorou por aí além o desacerto na coligação recentemente reeditada e já a braços com um SMS, revelado por Passos e desmentido por Portas, sobre uma crise passada. Referiu-o sem perguntas directas ao primeiro--ministro que, mesmo assim, entre a reafirmação de tudo o que de polémico tinha dito sobre Dias Loureiro, foi direito ao tema, enquanto chamava, sem corrigir, “líder do principal partido da oposição” a Paulo Portas.

A gafe surgiu no dia seguinte ao lançamento da biografia autorizada de Passos Coelho em que o próprio conta que, em 2013, Portas lhe comunicou por SMS a decisão de se demitir, não atendendo o telefone nas horas seguintes. A editora que publicou o livro é a Alêtheia, de Zita Seabra, que tem por sócio Dias Loureiro – uma ligação lembrada pela coordenadora do BE, que assim fez o pleno entre as duas polémicas que marcaram os últimos dias. 

Disse Catarina Martins que o ex-ministro de Cavaco Silva é “tão metódico que conseguiu comprar parte da editora que acabou de editar o seu livro a enxovalhar Paulo Portas”. Antes disso, só Ferro Rodrigues tinha tocado no tema, mas para dizer apenas ter esperado que a dúvida sobre a famosa demissão irrevogável ficasse esclarecida logo ali, entre Passos e o CDS. Afinal, “parece que não foi por fax, nem por SMS, nem por carta. Terá sido por sinais de fumo porque, como apareceu, dissipou-se no ar”, disse o líder parlamentar do PS. O primeiro-ministro ignorou a provocação e só falou dela na resposta a Catarina Martins, que acusou de ter feito “uma espécie de intriga política. Nunca na vida enxovalhei ninguém, muito menos o líder do principal partido da oposição”. Lapso ou não, Passos regozijou-se logo a seguir por liderar “o primeiro governo de coligação que terminará o seu mandato. Apesar das diferenças, temos maturidade para colocar o país em primeiro lugar”.

Passo para o embrulho seguinte: explicar o que disse sobre Dias Loureiro. Afinal, entre uma polémica e outra, a deputada do BE tinha acabado de lembrar o buraco do BPN: “4691 milhões de euros. Há 4691 razões para explicar porque achou pertinente e desejável elogiar Dias Loureiro”, ex-administrador do banco. A resposta veio atabalhoada na forma, mas firme no conteúdo:“Odr. Dias Loureiro sabe que não é por viver no interior que não podemos vencer na vida e ter negócios bem-sucedidos.” E ainda que “as facilidades saem sempre muito caras. Pagamos caro a forma como tratamos o investimento público”. A deputada do BE indignava-se – “o elogio a Dias Loureiro insulta o país” – e ainda lembrou que o processo do BPN está parado há seis anos, o que “só quer dizer que o tempo da impunidade não acabou”. A indignação mudou de bancada, com Passos a garantir que não há interferência na justiça.

A TAP, o desemprego e a economia dominaram grande parte da discussão, na união da esquerda contra a privatização, num caso, e na típica disputa de números, nos outros. Mas foram os casos dos últimos dias que ficaram com as parangonas, havendo ainda espaço para a reedição da “claustrofobia democrática” que Paulo Rangel levantou em 2007, atirando ao governo de José Sócrates. Agora, o PSD chama-lhe “arrogância democrática” e cola-a ao líder da oposição (agora ao verdadeiro), António Costa. Motivo?OSMS enviado por Costa a um membro da direcção do “Expresso”, em resposta a um artigo de opinião. Passos não se meteu na polémica, deixando-a para o líder parlamentar. “António Costa tem a anuência do PS para intimidar jornalistas que escrevem coisas de que não gosta?” “OPS e António Costa reconhecem humildemente esse excesso ou assumem a postura de arrogância democrática?”, questionou Luís Montenegro quando colava ao PS “toda uma cultura de poder”. A resposta veio por António Costa que, fora do parlamento, desvalorizou o que considera um “não assunto”.