Foi o vídeo que matou a estrela da pornografia em papel. Com a chegada do VHS à sem-vergonhice, as revistas que eram um tesouro melhor ou pior guardado por muito boa gente curiosa e apaixonada pela vida em geral transformaram-se em instrumentos de companhia quase obsoletos.Mas houve quem se afundasse em tristeza nesses tempos de mudança. Entre esses miseráveis estava este Dave com quem falámos a propósito de We Buy Any Porn, a loja que criou em Londres (com o respectivo serviço online) para resolver esta questão. Neste caso, transformar prazer em negócio é mais que óbvio.
“Sempre tive revistas porno”, diz-nos Dave, 56 anos, sem revelar o apelido – isso não interessa para o caso. “E nos tempos em que essas revistas só estavam à venda nas sex shops, nós vendíamo-las noutras lojas, mas de forma que as pudéssemos esconder se a polícia aparecesse.” A malandragem deu em arquivo com a chegada dos vídeos às salas de estar (ou quartos, vá). “Com o VHS, as pessoas deixaram de comprar as revistas e fiquei com um princípio de colecção.” E Dave não continuou apenas a guardar o que já lhe pertencia.
Foi mais longe e achou que era boa ideia manter-se atento e não desistir de ter mais e diferentes publicações dedicadas à intimidade pública. Lembra que “não era fácil guardar tanto papel, sobretudo com aquelas imagens”. Muitas vezes pensou em desistir, até porque “o valor era quase nulo” mas, 20 anos depois, muitas dessas revistas são “raras e procuradas por coleccionadores”.
Convém fazer aqui uma interrupção no discurso de Dave para falar de pornografia em vídeo. Se o VHS acabou com as revistas, muita coisa aconteceu depois que arrumou também com o VHS. Essa tecnologia antiga não pode também ser objecto de arquivo valioso? “Colecciono cassetes de vídeo, fitas de 8 mm e também fotografias soltas, mas a verdade é que 90% do material que temos é composto por revistas.” E é todo esse papel que, depois de analisado, é colocado em exposição através do site da We BuyAny Porn, pelo menos o mais coleccionável. “O resto está sempre disponível na loja”, conta Dave.Quase tudo vem de “gente que procura desfazer-se das revistas”, porque não as vêem, porque pertenciam a familiares que entretanto morreram ou porque “já não têm espaço no canto lá de casa onde as escondiam”.
Quanto a coleccionadores, também conhecidos como “potenciais compradores”, estão “por todo o lado”: “É gente que pode ser muito obcecada com determinadas coisas, ou porque têm falhas na colecção e não conseguem viver muito bem com isso, ou porque estão numa desesperada busca por uma determinada revista, a primeira que viram e que lhes traz boas memórias.”
Conclusão: quem procura Dave não procura muito a pornografia online. “É uma questão geracional”, diz o homem da We BuyAny Porn. “Os mais novos não concebem gastar dinheiro nestas coisas, mas a verdade é que aqui há mais do que sexo e nudez. Por exemplo, as publicações da década de 70 estão recheadas de detalhes, da forma como os textos estão escritos aos aspectos visuais, os bigodes, os penteados, as roupas.”
Ainda que tenha uma loja em Londres, Dave vai continuar a apostar mais na compra e venda online. “É mais fácil e chegamos a todo o lado”, diz. E os compradores, onde estão eles? “Em todo o lado.E enviamos revistas para todo o mundo. Tem é de ser uma coisa bem estudada. É que as revistas são pesadas.”