Mafra. Três visões distintas para uma só identidade

Mafra. Três visões distintas para uma só identidade


João Bacelar, Natércia Caneira e Joao Vilhena apresentam obras inéditas no Palácio Nacional.


A partir do próximo sábado, e até 28 de Junho, o Palácio Nacional de Mafra recebe, pela primeira vez, três exposições individuais criadas propositadamente e na sua totalidade para o espaço. Visões e percursos artísticos diversos cruzam-se sob o título “Identidade e Circunstância”, recuperando uma tradição secular de ligação entre os palácios reais e as artes plásticas. João Bacelar, Natércia Caneira e Joao Vilhena foram os artistas convidados a abraçar este desafio e contribuem com criações distintas, com diferentes abordagens e ocupações do espaço.

Apesar do lugar e do propósito comum, os conjuntos artísticos apresentados são tão diferentes como os percursos dos seus autores.

João Bacelar, que propõe um conjunto de obras em que os corpos fotografados de vários modelos são convidados a visitar o espaço do palácio, começou a desenhar em pranchas de surf e bodyboard. Mais tarde, ao interesse pelo design juntou a ilustração e a fotografia para publicidade e moda. Nos anos 90 foi co-fundador de uma das maiores gráficas de design portuguesas e, a partir dessa década, começou a somar prémios em áreas técnicas, de design e comunicação. Além da ilustração, em que se inclui o livro infantil “101 coisas e meia para fazer antes de crescer”, e da fotografia – foi fotógrafo de backstage da Moda Lisboa e do festival Optimus Alive –, tem um extenso trabalho em vídeo, em que se destaca a realização da “Temporada de Música e Dança Gulbenkian 99/00”, para a RTP2.

O artista, que em 2014 apresentou uma exposição antológica na Galeria Luís Serpa Projectos, comissariada por António Cerveira Pinto e integrada na comemoração dos 30 anos do espaço, foi o único português a ter material de vídeo seleccionado para o documentário “Life in a Day”, produzido por Ridley e Tony Scott. 

Com um percurso bem diferente, de-senvolvido em torno do interesse pela relação entre o indivíduo e o espaço que o rodeia e das questões do corpo e da paisagem, Natércia Caneira leva ao Palácio Nacional de Mafra um conjunto de instalações, que ocuparão a Capela do Campo Santo, a Enfermaria e o Torreão da Rainha. A artista apresenta duas esculturas de grande formato e uma série de desenhos à escala humana. Desde 2006 que os seus projectos se relacionam directamente com os seus momentos de vivência entre outras culturas e países e em que são explorados os limites da capacidade de adaptação física e psicológica. O resultado são trabalhos de instalações site specific, fotografia, desenho, pintura e mais recentemente videoarte. 

O mais recente projecto da artista partiu de um conjunto de vivências e olhares sobre o seu próprio passado e a sua infância. “Morphogenesis – Placebo Effect and Binary Oppositions” move-se entre uma dualidade, assente nos conceitos de “mecanicismo” e “natureza” e na divisão entre o mundo da ciência e o mundo da arte. A exposição esteve patente na Plataforma Revólver, em Lisboa, o ano passado. 

O terceiro contributo para “Identidade e Circunstância” é o de Joao Vilhena, considerado por muitos críticos nacionais e internacionais um dos mais importantes artistas a aparecer em Portugal nas últimas décadas. O seu trabalho relaciona-se com o cinema, a literatura e as artes visuais e os meios que utiliza para se expressar são igualmente vastos. Da pintura à escultura, passando pela fotografia e pelo vídeo, Joao Vilhena vai da ironia sobre a condição humana e o que é o contemporâneo, sobrepondo realidades, nas suas esculturas, aos auto-retratos, usando a fotografia, às “selfies”, em que recria ele próprio personagens conhecidas de obras de arte, tiradas com o iPhone. Já no vídeo, recorre frequentemente à dilatação ou compressão do tempo fílmico para condensar ou estender a acção daquilo que pretende mostrar. 

Para o Palácio Nacional de Mafra o artista, cuja obra se encontra representada em colecções nacionais e internacionais, criou 12 esculturas, pensadas a partir da última ocupação oficial do palácio. A ideia é que cada peça represente uma década e revele as correntes nas artes plásticas mundiais até ao presente, bem como a visão do artista sobre elas. 

 

As exposições poderão ser visitadas diariamente entre as 9h e as 18h00 e o custo é apenas o da entrada no palácio, cujo valor máximo é 6 euros.