Manny Pacquiao é um pugilista humilde. Da mesma forma que procura aproveitar o cargo que tem como congressista nas Filipinas para acabar com a pobreza, também não pretende armar muita confusão no mundo no boxe. É certo que é um dos homens mais fortes em resultados no ringue, mas não deixa para trás uma marca de acusações e frases provocatórias para alimentar a expectativa com o confronto. Essa faceta está mais reservada para o treinador Freddie Roach.
O norte-americano nasceu em Março de 1960 no Massachusetts com o sonho de ser alguém no boxe. A vocação era, como no caso dos Mayweather, familiar e tinha a companhia dos irmãos Pepper e Joey. Só faltaram os resultados animadores. Em termos absolutos, Roach não teve uma carreira má, com 40 vitórias em 53 combates, mas nunca deu o salto para outro nível. E ainda novo na carreira estagnou, perdendo cinco dos seus últimos seis combates antes de se retirar, com 26 anos.
Os sinais da doença de Parkinson começaram a acentuar-se mas nunca foram suficientes para abrandar a paixão que tinha pela modalidade nem pelo objectivo de ser alguém nesse mundo. Por isso, apostou tudo e aceitou trabalhar ao lado do seu antigo treinador – Eddie Futch – sem qualquer promessa de recompensa, financeira ou de outro teor. Ou melhor, havia uma: a aprendizagem. Foi através dela que Roach assentou e conseguiu atrair cada vez mais pugilistas para o seu canto. Se Mickey Rourke foi o mais mediático, em 1991, quando interrompeu a carreira de actor, Manny Pacquiao é aquele que teve mais sucesso.
Mas foram muitos ao longo dos anos. A lista de campeões mundiais sob o comando de Freddie Roach chega aos 27 e inclui figuras como Bernardo Hopkins, Mike Tyson, Oscar de la Hoya, Wladimir Klitschko, Miguel Cotto e, claro, Manny Pacquiao. O filipino é o seu canto do cisne. Para muitos é o melhor pugilista da actualidade, numa discussão que só não é consensual por causa de Floyd Mayweather Jr. E se os dois só vão ter uma oportunidade de trocar socos num ringue na madrugada de sábado para domingo em Las Vegas, Roach tem vindo a desferir vários golpes à entourage adversária nos últimos anos. Na verdade, Roach limita-se a ser um adepto da velha filosofia do boxe em que a guerra de palavras pode ser muito relevante antes de um confronto.
“Sinceramente, não acho que ele consiga magoar o Manny, por isso nem estou preocupado. Tem uma boa direita mas não consegue deixá-lo KO. As pernas dele já não são o que eram e esse é o primeiro sinal de decadência num pugilista”, afirmou em entrevista à Reuters esta semana. “Sei que é um bom lutador, mas eu sei que tenho o melhor.”
O historial de bate-boca vem de há muito e foi alimentado pelo jogo de gato e rato entre Mayweather Jr. e Pacquiao pelo menos desde 2009, altura em que o combate esteve pré-agendado pela primeira vez. Há três anos, antes de Pacquiao defrontar Timothy Bradley, o adversário desta semana esteve em ponto de mira. “É bom poder defrontar um pugilista que ainda não tem derrotas e não está preocupado com perder aquele zero no seu registo”, acusou. E agora, nas vésperas do combate, que já está agendado, reservado, marcado, com bilhetes vendidos e centenas de milhões de dólares a mudar de mãos, Roach continua a atacar o adversário pela tendência para escapar ao duelo contra Manny Pacquiao. “Sinceramente, continuo a pensar se ele irá aparecer nessa noite. Não acho que um pugilista possa ter medo, mas acho que ele não queria fazer este combate. Foi forçado a fazer uma coisa em que não estava interessado”, afirmou.
Do outro lado, a resposta de Floyd Mayweather Jr. não se fez esperar. É certo que no passado o norte-americano com um registo de 47 vitórias em 47 encontros provocou Pacquiao e Roach nas declarações e nas redes sociais, mas os tempos são outros.“Eu vou estar lá. Sei que entrei num bate-boca no passado mas agora já não preciso disso. Este combate gera interesse por si mesmo, não preciso de estar a alimentá-lo”, continuou o pugilista de 38 anos.
E se Freddie Roach, treinador de Pacquiao, ataca o adversário, Floyd Mayweather, técnico e pai de Mayweather Jr., não fica atrás. “O Pacquiao não tem o que é preciso. Não consegue dar socos. O combate só vai ter um sentido e Pacquiao vai ser posto a dormir. Boa noite.” Os instigadores são vários mas o filipino mantém-se independente: “Só quero dar um bom combate aos fãs, que tanto esperaram por isto. Eles merecem.”