Metro de Lisboa com níveis de ruído que afectam saúde dos passageiros

Metro de Lisboa com níveis de ruído que afectam saúde dos passageiros


Níveis médios de ruído são superiores a 80 decibéis e não deveriam ultrapassar os 70.


Os utentes do Metro de Lisboa estão sujeitos a ruído que pode afectar a saúde, provocando problemas como cansaço, zumbidos nos ouvidos ou aumento do ritmo cardíaco. São cinco os troços sinalizados com ruídos mais elevados, revela um estudo da Quercus.

"Verificamos que em todos os percursos foram medidos níveis médios de ruído superiores a 80 decibéis, o que pode representar um risco para a saúde dos passageiros, sobretudo para os grupos de crianças e idosos e para os operadores do Metropolitano", nomeadamente a perda auditiva, disse à agência Lusa Mafalda Sousa, da associação de defesa do ambiente.

Os troços mais sujeitos a níveis elevados de ruído foram Cais do Sodré–Rossio, Cidade Universitária–Entrecampos, Senhor Roubado–Ameixoeira, Chelas–Oriente e Pontinha–Carnide, “com valores que ultrapassaram, na maioria dos casos, os 85 decibéis", realçou a técnica.

A Quercus acrescenta que, mesmo nos troços mais recentes da rede, como a linha vermelha, entre as estações do Oriente e do Aeroporto, "foram registados níveis sonoros médios superiores a 84 decibéis em todas as medições".

A partir dos 70 a 75 decibéis, o corpo humano começa a ter reacções ao ruído (físicas, mentais ou emocionais), e "uma exposição de média-longa duração a um ruído intenso pode provocar zumbidos nos ouvidos, aumento da produção de adrenalina, contração dos vasos sanguíneos, aumento da pressão sanguínea e do ritmo cardíaco", explica o trabalho da Quercus.

As consequências imediatas traduzem-se em dificuldades na comunicação, concentração, fadiga e desconforto, redução do comportamento de ajuda e aumento da irritabilidade, segundo o estudo, que aponta como referência o nível médio de 75 decibéis por percurso, estabelecido pelo New York City Noise Code (código de ruído da cidade de Nova Iorque, nos EUA).

Factores como o volume de tráfego, a manutenção e a qualidade acústica das infra-estruturas e das carruagens ou a amplificação do ruído, por se tratar de um canal confinado, aumentam os impactes associados à exposição ao ruído.

"Há uma ausência de legislação nacional e comunitária sobre os limites de ruído a que os utentes dos transportes públicos deveriam estar expostos, nomeadamente no caso do metropolitano, e são poucos os estudos sobre ruído no metro, só [existe] mesmo o de Nova Iorque", avançou Mafalda Sousa.

Na vertente do ruído ocupacional, associado aos trabalhadores do metro, os prejuízos para a audição aumentam com a idade e com o tempo de exposição.

Entre as medidas pontadas para reduzir o ruído no Metro estão a correcta insonorização do habitáculo das carruagens, a adopção de rodas com maior capacidade de amortecimento e de sistemas de ventilação mais silenciosos, sendo também aconselhado que, em futuras expansões da rede, seja reduzida a propagação do barulho, através da correcta escolha dos materiais.

O estudo realizou-se entre Agosto e Setembro de 2014 e envolveu uma "avaliação limitada" do ruído nas quatro linhas do Metropolitano de Lisboa, em duas viagens em cada sentido e por cada linha, abrangendo um período de acalmia e um período de hora de ponta, e foi feita uma comparação com os tempos de exposição recomendados pela Organização Mundial de Saúde e pela agência norte-americana que fiscaliza esta área (EPA).

Dados da Agência Europeia do Ambiente referem cerca de 20 milhões de europeus afetados pelo ruído ambiental, nomeadamente dos transportes, e serão 125 milhões, ou um em cada quatro, aqueles afectados pelo barulho do tráfego automóvel, que atinge níveis superiores ao limite máximo estipulado.

O ruído elevado tem vários efeitos na saúde, como hipertensão e doenças cardiovasculares, levando a cerca de 10 mil mortes prematuras e a 43 mil hospitalizações por ano, na Europa, segundo aquela entidade.

Lusa