Mayweather. O boxe já lhe corria nas veias quando nasceu

Mayweather. O boxe já lhe corria nas veias quando nasceu


O maior sucesso chegou com o mais novo da família, mas o pai e os tios também já tinham deixado uma marca na modalidade. Floyd, o sénior, ganhou 28 de 35 combates e chegou a defrontar Sugar Ray Leonard. Roger ganhou 59 de 72 e foi campeão do mundo em duas categorias. E ainda há…


A família Mayweather nasceu para o boxe, não há volta a dar. Quando o membro mais velho do clã, Floyd, nasceu a 19 de Outubro de 1952, deu origem a uma ligação que nunca teve tanto sucesso como agora. O filho com o mesmo nome é um dos melhores pugilistas da história e está prestes a ganhar 180 milhões de dólares no combate contra Manny Pacquiao – mesmo que perca –, mas a vocação já vinha de há muito. Com um ano, teve o pai a ensinar-lhe os primeiros golpes, numa paixão que também já tinha passado aos irmãos mais novos.

O ambiente era propício. A paixão pela modalidade fez com que Floyd levasse a carreira no boxe a sério e se estreasse como profissional a 21 de Novembro de 1974, numa vitória aos pontos contra Ron Pettigrew. Durante os quatro anos seguintes manteve um registo muito positivo, com 15 vitórias e uma derrota – contra Tyrone Phelps, por KO técnico. A sequência de bons resultados ajudou a construir um nome no boxe norte-americano e foi assim que surgiu a oportunidade de combater Sugar Ray Leonard, a 9 de Setembro de 1978. Foi o combate mais importante da carreira. Leonard tinha 13 vitórias em 13 duelos e ainda não ganhara qualquer título mas, tantos anos depois, aquele continua a ser visto como o dia do que “poderia ter sido”. E Floyd não gostou do que aconteceu – uma derrota, claro está. Queixou-se de ter sido avisado apenas duas semanas antes do combate e lamentou o facto de ter lutado com uma lesão – fractura da mão no combate anterior contra McKnight, duas semanas antes. E essa tem sido a desculpa para justificar a derrota no oitavo assalto, quando foi ao chão duas vezes. “De todos os meus combates, se pudesse repetir um, seria esse. Não quero tirar nada ao Leonard, respeito tudo o que fez na carreira. Mas eu sei que, se a minha mão tivesse estado a 100 por cento, teria vencido”, afirmou.

Roger nasceu a 24 de Abril de 1961, nove anos depois. Se Floyd terminou a carreira em 1990 com 28 vitórias (17 por KO)em 35 combates, mas sem nenhum título, o irmão levou o nome da família ainda mais longe. Impressionado pelo que Floyd fazia, quis testar a sua sorte e aproveitou o conhecimento do irmão para ganhar vantagem. Se um fez 35 combates, o outro ganhou 35 por KO, num total de 59 vitórias em 72 duelos. O primeiro aconteceu em Julho de 1981 e no ano seguinte, em Outubro, venceu o primeiro título, na categoria de pesos-leves da USBA (associação de boxe norte-americana). O sucesso continuou a surgir e acrescentou-lhe os títulos de superpesos-pluma da WBA e da WBC e de pesos- -leves da IBO. Curiosamente, Roger Mayweather antecedeu Kobe Bryant na alcunha de Black Mamba. “Queria uma que não fosse comum à maior parte das pessoas. Então, um dia, estava a passar pelos vários canais de televisão e num estavam a dar uma série de répteis, sendo que a Black Mamba [mamba preta] era uma das cobras mais mortais do mundo. Adorei o modo como atacava, de forma tão tranquila e, ao mesmo tempo, tão letal, precisando só de uma tentativa. Senti-me identificado”, confessou.

A inteligência de Roger sempre foi uma das suas maiores imagens de marca. E apesar de ter competido até 1999, teve um papel fundamental no crescimento de Floyd Jr. enquanto pugilista, treinando-o até 1998, altura em que o irmão mais velho saiu da prisão e assumiu a responsabilidade. O cocktail era explosivo: com o pai, Floyd Jr. aprendeu a capacidade defensiva; com o tio, a inteligência para atacar no momento certo de forma a decidir o combate.

E falta Jeff, o mais novo dos irmãos, nascido a 4 de Julho de 1964. O dia é de festa nos EUA, mas o benjamim – na altura – da família nunca teve direito a grandes celebrações nos ringues. É certo que foi campeão júnior de pesos-leves da IBO duas vezes, mas não foi além disso. Como profissional, obteve um registo de 32 vitórias, dez derrotas e cinco empates em 47 combates, mas nunca fez parte da elite. O duelo mais mediático apareceu em 1993 frente à então promessa Oscar de la Hoya, que disputava o quinto combate como profissional. A vitória foi para o jovem, por KO técnico no quarto assalto. Tal como os irmãos mais velhos, Jeff também seguiu o caminho do treino, mas nunca esteve directamente envolvido com o sobrinho. De la Hoya seguiu um caminho de sucesso e terminou a carreira em 2008 com apenas seis derrotas: a última contra Manny Pacquiao (Dezembro de 2008) e a penúltima contra Mayweather Jr. (Maio de 2007).

A família Mayweather está unida em torno do Floyd mais novo, mas nem sempre foi assim. Com temperamentos explosivos – afinal, todos foram pugilistas –, os desentendimentos são uma constante, especialmente entre pai e filho. As escolhas de um para treinador, ignorando o pai de tempos a tempos a favor do tio, e as declarações do outro sobre o boxe, nem sempre defendendo o filho, geram problemas que estão retratados em mais do que um documentário sobre as fases de preparação de Mayweather Jr. para cada combate.

A disfunção familiar não passa para dentro do ringue, onde Floyd Mayweather Jr. continua a ser imparável. Com 47 vitórias em 47 combates como profissional desde 1996, o norte-americano mantém uma vida excêntrica que transborda confiança e não permite dúvidas sobre o seu sucesso. Um pouco à imagem do pai, que continua a viver com a ideia de que, se a mão estivesse boa, nunca teria perdido com Sugar Ray Leonard. O combate frente a Manny Pacquiao será, quase decididamente, o mais importante do clã Mayweather. Se vencer, mata de uma vez por todas as dúvidas sobre quem é melhor;se perder, as atenções viram-se para a desforra contratualizada. Sim, porque caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Nem mesmo a Floyd.