E que tal um pão português sem sal e com sabor a mar?

E que tal um pão português sem sal e com sabor a mar?


Investigadores de Leiria inventaram pão de algas sem sal, mas como o mesmo sabor


Pão sem sal deve ser horrível. Não é à toa que se diz a toda hora que o sal está nas coisas boas da vida. Para quem não se deixa convencer com os benefícios para a saúde de um pão insonso, chegou agora o pão de algas. Não leva pitada de sal. Nem precisa. As algas marinhas substituem essa função sem se notar a diferença. Pelo menos é isso que os investigadores do Instituto Politécnico de Leiria garantem.

O projecto é do Grupo de Investigação em Recursos Marinhos (GIRM) do IPLeiria e chegou agora ao mercado, onde se apresenta como um produto pioneiro que ambiciona ser uma alternativa saudável ao pão tradicional. “Tem uma elevada capacidade antioxidante associada à adição das algas e, por não ter sal, será certamente um aliado em regimes restritivos deste condimento”, explica Susana Mendes, coordenadora do projecto.

A ideia inicial nem sequer tinha nada a ver com pão. Em 2013, os investigadores de IP Leiria já tinham identificado compostos nas algas que as tornam úteis no fabrico de cremes de beleza e medicamentos, como antibióticos e antifúngicos, mas também fármacos usados no combate a doenças cancerígenas ou neurodegenerativas, graças às capacidades antibacteriana e antioxidante testadas.

No ano seguinte, o objectivo passou por tentar estudar formas de dar utilidade às algas marinhas no sector alimentar. O pão surge no meio deste processo e contou imediatamente com o apoio da Fundação Portuguesa de Cardiologia. Isso por si só foi bom, mas era preciso mais para o pão chegar aos consumidores. E aí é que as empresas Algaplus e Calé entraram em cena. A primeira ficou encarregada produzir as algas em campos de cultivo sustentáveis. E a segunda já deu o pontapé de saída ao iniciar esta semana a comercialização do pão nas padarias que pertencem ao seu grupo e que estão em Peniche e nas Caldas da Rainha.

Este novo produto, que conta com o financiamento do programa Mais Centro, e o apoio da Câmara Municipal de Peniche, conquistou recentemente o 3.º lugar no I Concurso InovCluster de Produtos Alimentares Inovadores (promovido pela InovCluster – Associação do Cluster Agro-Industrial do Centro).

Para quem não se deixa convencer facilmente, talvez seja preciso recordar que pão sem sal não é só uma questão de gosto. O excesso de sal continua a estar entre as principais causas para os portugueses serem um povo hipertenso. Portugal consome o dobro do sal que é recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Segundo dados da Sociedade Portuguesa de Hipertensão cada um de nós consome em média 12 gramas de sal por dia, quando a OMS recomenda um máximo de seis. Os portugueses andam portanto a consumir o dobro e isso pode ter  consequências bastante sérias. As doenças cérebro-cardiovasculares matam um em cada três portugueses e retiram em média 12 anos de vida útil.