Para visitar a família, Ana Madureira pre- cisar de fazer cinco horas e meia até Mar- co de Canaveses. Nasceu em Alpendora- da, tem 21 anos e está no 1.o ano de Medi- cina no Santa Maria, em Lisboa. O seu trajecto foi atribulado. Entre as várias ten- tativas de subir a média e entrar no cur- so que queria, ainda passou por outras licenciaturas no Porto e em Paredes. Só depois conseguiu nota para Medicina. “E não tive grande opção quanto ao local”, conta. A primeira escolha até era Coim- bra, por ser barato mais perto de casa, mas teve de ficar em Lisboa.
Damião Franco foi no sentido inverso, de Lisboa para o Porto. Tem 19 anos e quer ser arquitecto. No 10.o , ainda hesi- tou e escolheu Ciências, por ser uma área “menos restrita e que abria maiores pos- sibilidades na escolha dos cursos”, mas decidiu mudar para o agrupamento de Artes logo no mesmo ano. Agora é caloi- ro da Faculdade de Arquitectura da Uni- versidade do Porto. Escolheu a institui- ção não pela proximidade ou pela ques- tão financeira, mas por ser “a melhor universidade”.
“Claro que sai caro aos meus pais estar cá. É mais uma despesa”, admite. Mas eles podiam pagar e deram-lhe essa oportunidade. Damião vive com mais três colegas numa casa perto da faculdade: “Foi um achado em termos de preço/localização.” Procurou apartamentos “muito em cima da hora” e é por isso que diz ter tido sor- te. Encontrar um quarto é uma aventura que tem de ser preparada com antecedên- cia para descobrir as alternativas mais acessíveis.
A renda fica-lhe em 156€ por mês e ain- da gasta cerca de 100€ em transportes, entre viagens rápidas e idas quinzenais a Lisboa. As contas domésticas, no valor de 31€ e as despesas de alimentação, a ron- dar os 130€ se não houver jantares fora de casa, completam a lista de gastos. E há ainda o material necessário para o curso, um valor que varia “mesmo muito”: pode ser menos de 50€ mensais ou 50€ de uma só vez. “No outro dia, por exemplo, gastei 60€ numa boa caixa de lápis de cor.” Fei- tas as contas, e tirando o valor das propi- nas, os gastos rondam os 500€ por mês.
Ao contrário de Ana, Magda Ferreira sempre quis estudar em Lisboa. Vivia na aldeia do Espinheiro, em Alcanena, e quan- do decidiu estudar Ciências da Comuni- cação procurou aquela que achava ser a melhor universidade, a Nova. Mas a média do secundário só lhe permitiu entrar na segunda opção, o ISCSP, no pólo da Ajuda. “Assustava-me sair da aldeia para a cidade, mas sabia que na capital iria encon- trar mais oportunidades”, justifica.
Magda preparou bem a ida para Lisboa. Não queria ficar numa residência com espaços partilhados e pesquisou por casas na net. Quando soube que tinha entrado, visitou-as e escolheu a que estava mais perto da faculdade. “Quis poupar tempo”, explica. Mas a Ajuda não tem metro e, se voltasse atrás, escolheria viver no centro de Lisboa – só não o faz agora porque gos- ta dos colegas com quem vive. Poupadinha, a estudante de 20 anos gasta, além dos 200€ de renda, 40€ a 50€ por mês em produtos de limpeza e alimentação (“a minha mãe manda-me imensa comida congelada”) e cerca de 10€ em saídas à noite (“não saio muito, vou mais a festas na faculdade”).
As deslocações também não lhe ficam caras: 4,95€ de comboio Lisboa-Santa- rém, graças ao desconto para menores de 25 anos. Além disso, recebe uma bol- sa de acção social (100€ mensais), que inclui descontos nos transportes locais (14€ pelo passe de autocarro e do metro). É isso e ainda o facto de ter poupado para que a filha pudesse ir para a universida- de que leva a mãe, Dina, a dizer que “não está a ser um esforço financeiro assim tão grande”, embora reconheça que ter Mad- ga a estudar é “sempre mais uma despe- sa no orçamento familiar”.