Falam abertamente de métodos contraceptivos e defendem igualdade de géneros dentro da Igreja Católica. As irmãs radicais da Leadership Conference of Women Religious (LCWR), não vêem pecado na homossexualidade, representam cerca de 80% das freiras norte-americanas e estiveram na lista negra do Vaticano durante os últimos sete anos.
Às posições polémicas e "contrárias à doutrina religiosa", juntou-se o apoio à reforma do sistema de saúde do presidente dos EUA, Barack Obama e a defesa da educação pública. A gota de água que preocupou Bento XVI em 2012 e levou à implementação de uma "avaliação doutrinária" que inspeccionou mais de 341 conventos nos EUA com plenos poderes para escrutinar e rever os estatutos, programas, assembleias e acções de forma disciplinarem as rebeldes.
Na passada quinta-feira, 16 de Abril, a guerra santa chegou ao fim. A comitiva das freiras feministas foi recebida pelo Papa Francisco no Vaticano para conhecer as conclusões do relatório lançado pela Congregação para a Doutrina da Fé e a ameaça de punição deu lugar a uma troca de elogios. Segundo o colunista da "National Catholic Reporter", Thomas Fox, o encontro que durou mais de uma hora "prova de que o Papa Francisco está a mudar o espírito primordial e o rumo da Igreja". No "New York Times", o encontro é descrito como "um pedido de desculpas" da Santa Sé. Mas afinal quem são as irmãs revolucionárias que fizeram as pazes com o Vaticano?
Nasceram na década de 50 para "promover a missão do Evangelho no mundo", explicam na sua página oficial. Hoje representam 57 mil irmãs norte-americanas e são apelidadas de feministas radicais. Os conflitos com o Vaticano não são de agora. Já em 2002 as palavras das líderes religiosas começaram a testar as estruturas de poder e a paciência do Vaticano. Empenhadas em discutir e redefinir o papel da religião no mundo moderno, o sistema de autoridade masculina e a possível ordenação de mulheres para sacerdote, levaram o assunto ao encontro nacional de Nashville. Pela primeira vez, as sirenes da Congregação para a Doutrina da Fé soaram, mas o teor das declarações não foi suficientemente radical para penalizações. A investigação só chegaria dez anos mais tarde.
Confrontado com o ímpeto reformista das representantes da LCWR, Gerhard Müller, o cardeal e perfeito da congregação, sentiu-se obrigado a marcar uma reunião com Bento XVI para denunciar os "problemas doutrinais graves" e as "incompatibilidades com a fé católica" que as preocupações das irmãs levantavam.
O apoio ao Obamacare, a não discriminação de homossexuais e divorciados pela Igreja, o incentivo à utilização de métodos contraceptivos para prevenir doenças sexualmente transmissíveis e controlar a natalidade, a discussão das regras de obediência vigentes e o papel da mulher na transmissão dos ensinamentos católicos e na própria hierarquia da Igreja, estiveram na origem da cisão. Acusadas de desvirtuar a mensagem de Cristo, tentaram sempre contrariar as acusações. Sharon Holland, presidente demissionária, chegou mesmo a apelidar a acção de controlo e avaliação aos conventos dos EUA levada a cabo pelo arcebispo de Seattle, Peter Sartain, de "dolorosa". Em Dezembro de 2014 mostrou-se preocupada com a manutenção da congregação que representa mais de metade das religiosas do país.
A reviravolta chegou com Francisco, o Papa da América Latina que prometeu aproximar a fé dos comuns e abrir a Santa Sé aos desafios do mundo moderno. Segundo a imprensa internacional, foi precisamente o tom "conciliador e aberto" do sumo pontífice a dar o mote para a troca de elogios que se seguiu ao encontro. Gerhard Müller, o cardeal que colocou a Leadership Conference of Women Religious sob fogo cruzado, advogou mesmo que "a LCWR deixou clara a sua missão de apoiar os seus institutos membros promovendo uma visão da vida religiosa centrada na pessoa de Jesus Cristo e ancorada na tradição da Igreja.
O i procurou obter uma a reacção junto da LCWR mas sem sucesso. Através de um email, as freiras justificaram que só podem pronunciar-se sobre o assunto 30 dias após a divulgação das conclusões do relatório que decidiu não excomungá-las. Ainda assim, remeteram para as breves palavras que a irmã e ex-presidente Sharon Holland disse no final do encontro: "A LCWR tem em comum com o Vaticano é muito superior às diferenças."