Murphy Brown e os seus dois maridos, fora outras histórias


“A Fine Romance”, ou em português algo como “um romance bonito”, é um título mas também é um princípio meio incompleto para tudo isto. Candice Bergen regressa aos livros esta semana (é relativamente fácil apanhar um exemplar numa loja online qualquer). Dito assim parece uma banalidade mas há pelo menos dois elementos que nos dizem…


“A Fine Romance”, ou em português algo como “um romance bonito”, é um título mas também é um princípio meio incompleto para tudo isto. Candice Bergen regressa aos livros esta semana (é relativamente fácil apanhar um exemplar numa loja online qualquer). Dito assim parece uma banalidade mas há pelo menos dois elementos que nos dizem o contrário: Candice é Murphy Brown, mesmo que a série tenha terminado há quase 20 anos não há nada a fazer, vai ser sempre Murphy Brown; e este é o segundo livro de memórias da modelo feita actriz, 30 anos depois de “Knock on Wood”. Não é uma sequela mas também não aparece vindo do nada. E mais que catalogar importa perceber que romance é esse de que o título fala. Na verdade são vários: a televisão e os dois maridos, pelo menos isso.

Mas Candice passa pelos diferentes momentos como se fossem apenas apenas um único filme, com uns quantos intervalos pelo meio. É um namoro constante e não há nada que não esteja ligado. Em entrevista ao “Los Angeles Times”, Bergen explica, por exemplo, como em finais de 80 tudo se tornou complicado, muito distante das viagens constantes entre continentes e de uma agenda sempre cheia mas nunca planeada que lhe ocupava os dias: “”Murphy Brown” não era apenas um trabalho com um salário; era um trabalho num local fixo. Viver na cidade onde a minha mãe e o meu irmão viviam deu à Chloe uma noção de família e de estrutura. O problema foi que o meu marido queria que nos mudássemos para França e eu queria viver em LA. Ele sentia falta da terra dele, eu da minha. Se tivéssemos ficado em Paris, haveria a família dele, que era grande, mas a Chloe perderia o sentido de humor americano.”

Candice casou com o realizador francês Louis Malle em 1980 e o par foi dos mais populares entre os eventos sociais e as óperas que frequentava. Em 1985 nasceu Chloe (que hoje integra a equipa da revista “Vogue”) e três anos depois surgiu Murphy Brown, a maior das mortes e das bênçãos, como Bergen explicou à NPR: “Tinha feito vários filmes e nunca tinha feito televisão. Mas era na comédia que me sentia confortável. E nunca ninguém pensou em pôr-me na comédia porque eu parecia uma rainha víquingue. Ninguém queria que fizesse a “Murphy Brown” excepto a criadora da série, a Diane English. A CBS queria a Heather Locklear.”

“Murphy Brown” durou dez anos e tornou-se de tal forma importante que o nome “Candice Bergen” às tantas parecia o de um alter ego. Em “A Fine Romance” a actriz recorda como foi em torno da série que tudo passou a acontecer, embora nem sempre da melhor maneira: “A verdade é que não é possível ter tudo. Qualquer decisão vai sempre tirar tempo aos filhos, ao trabalho ou ao casamento, a algum deles. Quando escreviam os argumentos para a “Murphy”, sempre fiz questão de que não transmitíssemos a ideia de que era tudo fácil, sobretudo quando ela foi mãe solteira, e de que a criança era secundária face à carreira”, disse ao “New York Times”.

Louis Malle morreu em 1995; Candice diz que continuou a ser Murphy Brown porque “assim conseguia manter a sanidade”. 98 foi o último ano de umas das mais aclamadas produções televisivas de sempre. Dez temporadas e cinco Emmys – depois do quinto, Candice disse publicamente que não queria voltar a ser ser nomeada. O sucesso da série levou mesmo a CBS a convidar a actriz para uma função de jornalista. Não aconteceu. E não aconteceu muito mais, não com a mesma visibilidade de outros tempos. Bergen voltou a casar, em 2000, com Marshall Rose, magnata do imobiliário em Nova Iorque. Viveu feliz para sempre. Ou pelo menos até ter escrito este novo livro.