Yeti. A coruja que chegou ao zoo por engano


A população do Jardim Zoológico tem vindo a crescer, mas nem sempre pelas melhores razões. O tráfico de espécies protegidas acontece mais vezes do que seria o ideal e muitos desses animais acabam por ser resgatados e criados à mão, fora do seu habitat natural. Só em 2012, segundo dados do Ministério do Ambiente, foram…


A população do Jardim Zoológico tem vindo a crescer, mas nem sempre pelas melhores razões. O tráfico de espécies protegidas acontece mais vezes do que seria o ideal e muitos desses animais acabam por ser resgatados e criados à mão, fora do seu habitat natural. Só em 2012, segundo dados do Ministério do Ambiente, foram apreendidos 351 ovos de papagaio nos aeroportos portugueses. Um ano antes foi a vez da coruja-do-mato-tropical Yeti aterrar em Lisboa, camuflada no meio de um desses conjuntos de ovos de arara e de papagaio. O facto de as corujas aproveitarem os troncos onde já estão outras aves para porem os seus ovos pode explicar o fenómeno. “Só percebemos que o Yeti não seria mais um papagaio do bando quando do ovo saiu um bicho com uns olhos bem esbugalhados”, brinca Hugo Condez, treinador do zoo há 15 anos. Pousado na mão de Hugo, Yeti não desvia a atenção do que o rodeia. Para compensar o seu tamanho – apenas 25 centímetros e 160 gramas -, Yeti usa a habilidade de conseguir girar o pescoço até 270 graus. “Nada lhe escapa”, garante o treinador.

No Bosque Encantado, nome dado ao local de apresentação das aves no zoo de Lisboa, muitas delas andam em liberdade e ninguém se mostra preocupado com a hipótese de fuga. Além de todo o comportamento ser treinado para que permaneçam nas imediações da instalação, o facto de não conhecerem outra realidade tira-lhes a curiosidade de voar para longe. “Já aconteceu tentarmos soltar aves para que voassem em liberdade, mas elas acabaram sempre por voltar para junto dos tratadores”, conta Hugo. Provavelmente era o que aconteceria a Yeti. Desde o momento em que saiu do ovo, o seu contacto mais directo foi com seres humanos. “Para ela, nós é que fazemos parte da sua espécie.” Por nunca ter conhecido outra realidade, o Yeti nunca vai poder voltar ao seu habitat natural. É exactamente esse o pretexto para que a pequena coruja-do-mato-tropical seja apresentada ao público nos shows diários.  “Usamos o Yeti como um dos símbolos do zoo para sensibilizar a população para o tráfico de espécies em extinção”, refere o tratador, “além de que o seu tamanho faz as delícias de quem nos visita, ninguém lhe resiste.”

Apesar de Yeti ver o ser humano como alguém da sua espécie, o zoo esforça-se para criar um ambiente o mais parecido possível com o que teria na América do Sul, de onde é natural. Se em liberdade se alimentaria de insectos, lagartos, pequenas aves e roedores, em cativeiro a alimentação é igualmente variada: insectos, larvas da farinha, grilos e codornizes. Neste caso a comida chega-lhe sem esforço, mas se fosse preciso também teria as suas armas de caça. Por ser pequena, o seu voo torna-se imperceptível às presas, normalmente engolidas por inteiro.