Uma exposição de bandeiras. Nada poderia parecer mais aborrecido para uma tarde a refugiar-se do frio londrino, não fossem as bandeiras em causa feitas de cabelos humanos. Gu Wenda, o artista, começou este United Nations Project em 1993 e só o acabou 15 anos depois. “Será que também está cá a bandeira de Portugal?” Estão cá todas, viríamos a saber, e os cabelos não foram escolhidos ao acaso. Gu Wenda, de Xangai e conhecido pelo seu trabalho com caligrafia chinesa, usou cabelos de pessoas de várias proveniências para simbolizar “o internacionalismo”, e colou-os com cola nesta “United Nations: Man and Space”, onde quis criar uma “nova identidade racial”. E já o estamos a imaginar a varrer o chão de cabeleireiros pelo mundo fora.
A enorme sala cheia de cabelos faz parte da mais recente exposição da Saatchi Gallery de Londres, “Post Pop: East Meets West”, uma colecção incrível e bizarra de peças com influências da pop art dos anos 60. Está lá toda a tralha dos anos 80 e 90 que Charles Saatchi, o fundador da galeria que se tornou um museu com entrada livre, sempre quis ter. Por exemplo, “Spaghetti Man”, de Paul McCarthy, a escultura de 1993 de um coelho com um pénis tão grande que acaba por cair amolecido no chão como um prato de esparguete.
Ou as famosas bolas de basquetebol de Jeff Koons, que, passados todos estes anos (a peça é de 1985), ainda flutuam num aquário. E até Nutsy”s McDonald”s, peça de Tom Sachs de 2001, onde até Kate Moss já brincou aos empregados da cadeia de fast-food.
Ao todo são 250 trabalhos de 112 artistas, nomes conhecidos como os de Damien Hurst ou Keith Harrig, ou mais desconhecidos vindos da China ou da Rússia. A exposição ideal para começar o ano em que a Saatchi comemora 30 anos de exposições.
No site da galeria já se podem ver algumas das obras mais importantes que por lá passaram em 30 anos de existência, de “Mao” a “Atomic Bomb” ou “Campbell”s Soup Can”, de Andy Warhol aos aspiradores e coelhos de Jeff Koons ou às luzes de Dan Flavin.
A galeria como agora a conhecemos, no edifício Duke of York em Chelsea, só foi inaugurada em 2008, com uma exposição sobre a nova arte da China – nesta, “Post Pop: East Meets West”, também podemos ver algumas reinterpretações de cartazes de propaganda e até Mao num jogo de 8 bits.
Charles Saatchi, actualmente com 71 anos, é o fundador deste templo de arte contemporânea. Embora o seu nome esteja frequentemente envolvido em controvérsias – por exemplo, as acusações de ter destruído a carreira do pintor italiano neo-expressionista Sandro Chia -, raramente dá entrevistas e nem apareceu na sua própria série televisiva, “School of Saatchi”, um concurso de talentos para jovens artistas. Em 2009 lançou um livro, “My Name Is Charles Saatchi and I Am an Artoholic”, em que desvenda um pouco da sua história.
A sua colecção, das mais invejáveis de Londres, começou no fim dos anos 60, quando ele tinha 26 anos e comprou uma peça do norte-americano Sol LeWitt. Em Fevereiro de 1985 abria a Saatchi num armazém em St. John”s Wood.
Saatchi Gallery, Duke of York”s HQ, King”s Road, Londres. Todos os dias das 10h00 às 18h00. Entrada livre.