Cabeça da cabra. O adeus ao Verão diz-se numa casa de campo


Faltavam quatro dias para o equinócio de Outono e a despedida do Verão urgia. Os aguaceiros ameaçavam Lisboa e a promessa de sol levou Ana Kotowicz para os lados de Porto Covo. Voltou com ar mais descansado e carregada de fotografias   A aproximação a Porto Covo faz-se em parte numa estrada sinuosa com vista…


Faltavam quatro dias para o equinócio de Outono e a despedida do Verão urgia. Os aguaceiros ameaçavam Lisboa e a promessa de sol levou Ana Kotowicz para os lados de Porto Covo. Voltou com ar mais descansado e carregada de fotografias

 

A aproximação a Porto Covo faz-se em parte numa estrada sinuosa com vista de luxo para o mar. Isto dá cabo da suspensão do carro, penso ao agitar o corpo num novo solavanco. O mal-estar na espinha é esquecido porque os olhos mergulham nas cores pastel do Alentejo. Azul-mar, azul-céu, verde-pasto, castanho-terra. Entretida à procura de aves raras – das verdadeiras, não das do estilo do vizinho do 5.o esquerdo -, regresso à realidade já depois de passar Porto Covo. As mãos morenas do co–piloto sacam das indicações dadas no site e sem enganos nem sobressaltos chegamos à Casa de Campo Cabeça da Cabra, dois avistamentos de garças-brancas e um de pega-rabuda depois.

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A primeira a cumprimentar-nos é a Rosinha, nome que só viria a saber mais tarde. Com um andar insinuante e uns olhos castanhos doces, corre para nós. O balançar do seu rabo é frenético e nós também ficamos contentes de a ver. De cócoras, passo-lhe a mão pelo pêlo castanho. Explicam-nos que a cadela rafeira de palmo e meio é de uma vizinha. Como ali tem sempre mimo – e não há hóspede que não lhe tire uma foto -, passa mais tempo na velha escola primária do que no seu quintal.

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Entramos no quarto para largar as malas e é amor à primeira vista. Se por fora o edifício é a típica escola de Salazar, parado nos anos 50, por dentro não há vestígios de que ali alguém aprendeu a ler com “O Livro da Primeira Classe”. Quatro paredes impecavelmente brancas dão cobertura a um sofá, uma mesa e uma kitchenete. Em cima, mezzanine, está a cama de casal com fronhas cor de alfazema a combinar com as flores que espalham perfume por toda a casa de campo. Há livros nas prateleiras: “Moby Dick”, um guia da Índia da Lonely Planet e uma edição da Taschen em inglês, a “Japanese Graphics Now!”. Espreitamos depois a casa de banho, toda de betão afagado, com um toque industrial que deixaria qualquer hipster satisfeito, ainda que de forma irónica.

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Lá fora, para além da nossa anfitriã, Maria – uma mulher morena com ar sadio e profissional e sempre, sempre com um sorriso a crescer no canto da boca -, só nos falta conhecer a Síria, a gata zarolha, mais o seu filhote. As apresentações estão feitas. Resta-nos aproveitar a estada que se vai compondo de pequenos prazeres como a Sinfonia n.o 5: dormitar na rede espraiada entre pinheiros, bebericar o sol de fim de tarde na espreguiçadeira de almofada cor-de-rosa, fechar os olhos e ouvir chilreios de pássaros de que nunca saberemos o nome, tentar adivinhar como se chamam as flores do jardim: rosa-de- -pedra, alfazema, margaridas amarelas e… Ai… Já vos digo, tenho o nome mesmo, mesmo aqui debaixo da língua.