Em Portugal não há nenhuma cidade em que se consiga encontrar mais de cinco jovens. A solução é apelar às autoridades helvéticas, para que juntem meia dúzia de portugueses com menos de 35 anos!
Ex.ma Senhora Arlete Soeiro
3.a subsecretária da secretária-adjunta
Programa de Auxílio aos Povos Indolentes e Falidos
Gabinete do secretário-geral Ban Ky-moon
Sede da ONU – NY, EUA
Dr.a Arlete,
É oficial! Portugal vai este ano festejar em Genebra o Dia Internacional da Juventude. Em todo o planeta esta é a única cidade em que se afigura plausível reunir mais de cinco jovens portugueses. Como é óbvio, em nenhuma cidade portuguesa é sequer imaginável vir a aglomerar uma tão numerosa concentração de nacionais com menos de 35 anos. O governo sabe que há outras cidades do mundo onde vivem mais de cinco jovens portugueses, mas o MNE não foi capaz de os encontrar. Só o apertado controlo de estrangeiros da Suíça apresentou de imediato às autoridades portuguesas uma listagem de cidadãos com menos de 21 anos fugidos de Portugal e que os helvéticos se prontificam a expulsar caso não compareçam nos concertos pimba organizados pelo governo Passos Coelho no dia 12 de Agosto à beira do lago Léman.
A opção tem sido apoiada com entusiasmo por Paulo Portas – sim, apesar de ninguém saber dele há mais de um mês, garantem-me que continua no governo! –, pondo ênfase na importância de “dar mundo à juventude portuguesa”. “Esta”, diz o ministro, “não pode ter como horizonte de futuro o repuxo do Isaltino em Oeiras. Tem de estar à altura do repuxo de Genebra!” A convicção do ministro sobre este assunto cresceu exponencialmente depois de a PSP ter afiançado que metade dos jovens com entradas pagas para os festivais de Verão eram estrangeiros e de o SEF ter comunicado que a metade portuguesa só tinha vindo a Portugal por curtos três dias, tendo já abandonado o território. Os restantes jovens encontrados em festivais de música eram ou penetras amigos do Ricardo Quaresma, ou portadores de borlas distribuídas pelo Luís Montez, e portanto, em ambos os casos, não elegíveis.
Perante a crise, o expedito Crato atravessou-se: “Tenho 50 mil jovens acabadinhos de se inscrever no sistema!” Os sindicatos do ensino superior protestaram contra “a grosseira manipulação dos números por parte do ministro”, asseverando que os candidatos não foram mais de 5 mil, mas o verdadeiro balde de água fria veio quando os serviços do ministério revelaram que os matriculados no ensino superior estavam todos a viver fora do país, tencionando seguir os cursos por skype e deslocando-se a Portugal apenas para fazer os exames finais. “Bem”, afirmou um derrotado Passos Coelho, “lá tenho de aceitar o que o Paulo Portas propõe e ir a Genebra! Pelo menos aproveito para aprender um pouco mais de alemão!” [O final da frase foi apagado do twitter do PM com a ajuda dos conhecimentos internacionais da deputada europeia Maria João Rodrigues.]
Claro que subsistem alguns jovens em Portugal. São porém espécimes tão raros que o último que na semana passada se ia afogando na praia da Baía em Espinho teve logo 8 nadadores-salvadores a socorrê-lo: oito. Um membro da equipa, ainda molhado, disse ao CM, do alto dos seus 39 anos: “Isto foi tudo feito em cooperação.” Pudera! – sem colaboração seriam precisos pelo menos 16 nadadores-salvadores de 39 anos de idade. O país está todo às avessas: agora são os quarentões que andam a arriscar a pele para salvar meninos de 17 anos!
É verdade que os técnicos da Teixeira Duarte encarregados de estudar a reabertura dos trabalhos do Túnel do Marão encontraram um homem com aspecto jovem que ali se perdera no tempo em que havia obras. Mas quando começou a dizer que a EDP era uma empresa portuguesa e o BES uma instituição de grande fiabilidade percebeu-se logo que afinal devia ter mais de 50 anos!
Segue bilhete de avião para o Sr. Ban Ky-moon se associar à iniciativa.
Inclino-me e retiro-me,
Ricardo Barata de Leão
ricardobarataleao@gmail.com