Quartos que são casas, piscinas fora e dentro de paredes, mais uma horta e um pomar, antes do conforto da mesa, tão da terra como dos tempos. Tiago Pereira foi de visita ao wine hotel que há pouco abriu perto de Monforte. Trouxe certezas boas para convencer os curiosos e ainda umas imagens com os filtros que a tecnologia impõe: é a tradição a ser moderna
Chegada a Monforte. Devíamos ter visto melhor o mapa. A terra é pequena mas o Alentejo é grande, as setas perdem-se no meio das vistas e chegar tarde nunca ficou bem a ninguém. “Desculpe, sabe onde fica aquele novo hotel? Abriu aqui há pouco tempo…” Em sendo de fora a pergunta é legítima. E é lançada a uma natural da terra, isto só pode correr bem. “Sim, sim, tem de sair da vila, vai em frente na rotunda e depois tem umas setas, não se vai perder.” Claro, aquela rotunda, só podia. Marcha atrás, desce a colina, chega à rotunda, segue recto, recto, continua, isto não pára mas também não chateia. E é aqui, corta à esquerda para um caminho de terra batida. Ele há vinhas de um lado e campos de pasto do outro, até que o solar com a tal torre no meio prende as atenções. Torre de Palma é aqui. É só estacionar e passamos já pela recepção.
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Recapitulemos a geografia: perto de Monforte, a caminho de Vaiamonte, mesmo no meio do caminho para os que se passeiam entre Estremoz e Portalegre (vale tudo a pena, tudo). Ou, em linguagem de alcatrão, uns vinte e poucos minutos depois de largar a A6.Tudo para chegar a um antigo solar que a história se encarregou de transformar em hotel de cinco estrelas, feito para oVerão, que por ali queima a sério, preparado para o Inverno, que pode até entornar neve sobre os desprevenidos. Uma propriedade perdida entre heranças e desavenças familiares, entre proprietários e trabalhadores da terra. Fast forward a dias mais confusos e os proprietários da Torre de Palma, Ana Isabel e Paulo Rebelo, fazem espalhar charme, bom gosto e vinho junto à velha vila romana que dá nome a tudo isto.
Este hotel é feito de casas alentejanas transformadas em suites e não há duas iguais. A ideia é gerar frases como “era tipo para viver aqui” ou “isto é maior que a minha casa” e qualquer delas vai estar correcta (dependendo dos metros quadrados que cada um colecciona na sua própria morada, claro). Também há quartos, mais pequenos, e na mesma mostram tudo no sítio, talvez a factura fique um pouco mais curta mas vai sempre correr tudo bem, só pode (o preço depende da época mas cada noite anda à volta dos 200 euros, turismo rural mas de luxo). Porque nesta Torre de Palma o objectivo era oferecer um refúgio com requinte, sem confusões nem atropelos, mas onde não falta nada – pelo contrário, está lá tudo e tudo em bom.
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Circuito boa vida Uns bons minutos para perceber o que a nossa pequena grande suite guarda, com umas fotos pelo meio para dizer ao regresso “olha tão giro que isto é”. Seguimos então de passeio, primeiro pela horta, onde tudo é aproveitado para o restaurante da casa, o Basilii (já lá vamos, é óbvio que já lá vamos), logo ali ao lado o pomar e a vinha, porque fica bem na paisagem, naturalmente falando, e para que os hóspedes possam ver, pisar, colher, cortar, provar e levar para casa (com elegância, sempre, que virá mais gente depois). Dentro de portas há salas de jogos e muitos recantos para a conversa de copo na mão. Há a vista do alto da torre e a adega – que ainda não estava pronta mas que promete não tardar – mais a respectiva loja, que vai vender o vinho que ali se vai fazer, Haja tempo para esta etapa final estar concluída e da apanha ao lagar todos terão lugar em todas as etapas.
Porque isto cansa, descemos para os lados da piscina, está ali à espera que nos lancemos com graça e estilo, sem fazer ondas; ou então é ficar por lá estendido, a ver o que se passa sem ver nada em especial – perfeito. Mais um copo no bar, um daqueles da moda com gelo ou outro qualquer. Cai a noite? É muito de manhã? Nunca vai estar calor suficiente para jogar ao água-toalha-água-toalha? Não podia acontecer nada melhor. A Torre de Palma, recordamos, preocupou-se connosco e com os nossos dias, todos os dias, mesmo os menos óbvios. Daí que a combinação piscina interior-spa-jacuzzi-banho turco seja bonita de viver.
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Esta planície é como um circuito de boa vida, depois de um exercício há outro logo a seguir, todos eles fazem bem, quando conjugados no tempo certo o resultado é o melhor que se pode esperar: somos só nós e uns dias de luxo e cuidado genuíno. Não há vida como a do campo e este é especial. Palavra que também se aplica ao Basilii, o restaurante da Torre, que é um exercício de Alentejo tradicional num prato mas com a reviravolta de quem gosta de arriscar uma pitada de século xxi. Cachaço de porco, migas de tomate ou de espargos, bochechas, encharcadas e toucinho do céu? Claro que sim, com uma garrafeira que é um mimo. No dia a seguir? Tudo outra vez, está combinado.