Insomnia. Histórias para noites sem fim


Que é como quem diz: partindo destas fotografias, a ideia é cada um encontrar a sua própria narrativa. É a proposta do fotógrafo Carlos Medeiros. Carolina Pelicano Falcão folheou “Insomnia” e falou com o autor   O relógio na parede vai marcando o compasso que nem guião de uma história sem princípio, contexto ou fim. Através…


Que é como quem diz: partindo destas fotografias, a ideia é cada um encontrar a sua própria narrativa. É a proposta do fotógrafo Carlos Medeiros. Carolina Pelicano Falcão folheou “Insomnia” e falou com o autor  

O relógio na parede vai marcando o compasso que nem guião de uma história sem princípio, contexto ou fim. Através das imagens acompanhamos o girar dos ponteiros e é por eles que vamos medindo uma história de “Insomnia”. Nada disto é concreto nem pretende sê-lo, como nos conta o fotógrafo Carlos Medeiros, que agora edita este trabalho na editora Amieira. Folheamos as páginas de fotografias a preto e branco, acompanhadas de nada mais do que o entendimento de cada um, atravessando elementos recorrentes: o telefone, o cigarro, as horas que passam e uma mulher entre quatro paredes. Afinal, que “Insomnia” é esta? “Bom, aqui estou a contar uma história de solidão. Acompanhamos as horas a passar assim como o estado de espírito da personagem.” É tudo o que nos conta este fotógrafo, de 69 anos, sobre a narrativa fotográfica que preferiu intitular com nome em latim, “porque tem um som mais bonito”.

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Mas se a ideia de Carlos Medeiros é que cada um construa a sua própria ficção à luz de “Insomnia”, não revelando por isso pontos certos sobre o que contará esta história, ancoremos nos pontos de partidas que conduziram o fotógrafo até ela. “Geralmente quando faço fotografia vou sempre atrás de uma ideia prévia. Neste caso, houve três. Por um lado tenho uma grande admiração pelos filmes negros dos anos 40 e 50. Por outro lado, uma admiração pelas pinturas do Edward Hopper, onde aparecem sempre mulheres sozinhas em quartos isolados e desolados. E por último a peça do Jean Cocteau, “A Voz Humana””. Reunidos os três pontos de partida, Carlos Medeiros quis reproduzir tal inspiração em fotografias. “A minha tendência sempre é para a narrativa encenada. Se forem fotografias daqui e dali eventualmente perder-se-á a unidade. Não sou capaz de ir pela rua e disparar espontaneamente, isso não sei fazer”, explica-nos.

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Nenhuma das fotografias é acompanhada por legenda ou qualquer outro tipo de auxílio textual. Carlos Medeiros é adepto incondicional da imaginação e respectivas viagens ilimitadas que esta proporciona.

Paralelamente a “Insomnia”, que teve a sua primeira exposição em 2009 no Teatro Micaelense, na ilha de São Miguel, Açores, de onde Carlos é natural, outro trabalho surgiu posteriormente, “Nocturno”, que entretanto acabou por integrar o primeiro, formando juntos o trabalho agora editado. “O que aconteceu foi que, numa visita ao festival de Arles, o director desta mostra viu estes dois trabalhos e achou que se tratava da mesma história. Acabei por cruzá-los neste livro”, conta Carlos Medeiros. Se em “Insomnia” encontramos o cenário interior já descrito, já “Nocturno” é, “um percurso exterior de um casal que é casal mas que está sozinho, que já não falam um com o outro.” O fotógrafo deixa sempre as cores de fora, pois considera que o preto e branco condensa uma maior carga dramática, “principalmente quando falamos de solidão, ausência e perda”.

E como é que se cruzam estas histórias? “Bom, se há ligação entre a mulher que vemos no interior e o casal na rua, isso fica à imaginação de cada um. A obra é coisa aberta”, conclui Carlos Medeiros.

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