Dia da Amizade: somos todos da família do Armstrong


Ex.ma Senhora Arlete Soeiro 3.a subsecretária da secretária-adjunta Programa de Auxílio aos Povos Indolentes e Falidos Gabinete do secretário-geral Ban Ky-moon Sede da ONU – NY, EUA Dr.a Arlete, Foi decidido, está em movimento, parece imparável e constitui uma enorme derrota para a ONU: o Dia Internacional da Amizade não será celebrado em Portugal no…


Ex.ma Senhora Arlete Soeiro

3.a subsecretária da secretária-adjunta

Programa de Auxílio aos Povos Indolentes e Falidos

Gabinete do secretário-geral Ban Ky-moon

Sede da ONU – NY, EUA

Dr.a Arlete,

Foi decidido, está em movimento, parece imparável e constitui uma enorme derrota para a ONU: o Dia Internacional da Amizade não será celebrado em Portugal no dia 30 de Julho, mas sim já este domingo, 20 de Julho. Lisboa junta-se a Buenos Aires e outras capitais dissidentes, desdenha das deliberações da Assembleia Geral e segue o dentista Enrique Ernesto Febbraro. Com um nome destes, o homem bem podia ter proposto um dia qualquer do mês de Fevereiro! Mas não, o argentino achou que a primeira alunagem e a célebre frase do Neil Armstrong simbolizavam na perfeição a união da humanidade e a amizade entre todos os povos. A humanidade parada durante horas a fio diante de ecrãs de TV a observar umas sombras cinzentas vindas da Lua não será fenómeno grandemente inspirador. Mas foi-o para o Enrique Ernesto. Daí até se pôr a escrever cartas e tal e tal foi um fósforo mais rápido que o Messi. Isto apesar de os russos terem posto a correr serem aquelas imagens fabricadas em Hollywood, no que foram secundados pela minha incrédula tia Judite, uma anticomunista de primeira água.

Em Portugal a iniciativa ganhou corpo por passarem agora os 45 anos da chegada à Lua e obteve um vasto leque de apoios. A excepção é Luís Filipe Vieira, que não esquece aquele “A Águia pousou”, com que o Armstrong comunicou a Houston estarem parados na superfície lunar. “Isto é inadmissível para os benfiquistas: a nossa águia está sempre no ar e voa mais alto!”, declarou LFV.

Tomei conhecimento desta dissidência em Bruxelas, cidade onde me instalei à espera de encontrar casualmente o próximo comissário europeu português e demonstrar-lhe à evidência, como quem não quer a coisa e só por acaso aborda o assunto, que não pode formar o seu gabinete sem me incluir. Enquanto o Passos não se decide, já engordei sete quilos numa quantidade inimaginável de beberetes, cocktails, inaugurações e festas.

Não recordo em qual deles encontrei a baronesa de Ashton de Upholland, mas tenho a certeza que foi ela quem me soprou a coisa. Sim, essa que quando participa em acções do Labour no Reino Unido é apresentada como a alta representante, Cathy Ashton, mas aqui é a alta representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Catherine Margaret, baronesa de Ashton de Upholland. Sempre que é apresentada, o Durão Barroso aproveita para resolver um sudoku de dificuldade nível 3!

Regressando à baronesa, foi ela quem me alertou, embora de um modo bastante cifrado (como convém a quem se ocupa da política de segurança). Um tal Xelim Penny Pence ter-lhe-ia descrito com grande pormenor como as coisas se iriam passar. A custo consegui sacar–lhe que o homem era português. Três dias de investigação no Berlaymont permitiram-me identificar a personagem. Trata-se do secretário de Estado agora não me recordo do quê, Carlos Moedas. Por erro de tradução, a primeira vez que foi presente à baronesa foi apresentado como Charles Pound (o eterno problema do conceito de moeda em confronto com a moeda real de cada país). Claro que o Carlos é só conceito, mas o inadvertido tradutor nacionalizou-o como súbdito de Sua Majestade e lá o promoveu a Libra. Só que a Cathy, olhando para aquilo que estava diante de si, não quis acreditar que estava diante de um Pound e na pequena confusão gerada terá dito: “Oh!? He”s much more like a Schilling, a Penny, even a Pence!” E ficou. A partir daí o pobre do Carlos é conhecido como o Xelim (nome próprio) Penny (apelido da mãe) Pence (apelido do pai), ou seja, Xelim Penny Pence. É claro que nestas condições o Passos não o pode propor para comissário europeu.

Inclino-me e retiro-me,

Ricardo Barata de Leão

ricardobarataleao@gmail.com