Congresso. Apelos ao consenso com a mente nas europeias


Passos Coelho chegou ao congresso com o calendário dos próximos meses em mente e durante três dias carregou na tecla do “diálogo”. Mas até às eleições em Maio, o PSD aposta em garantir que os sacrifícios vão valer a pena, e é esse o esqueleto de uma estratégia eleitoral que já está em curso: “Sabemos…


Passos Coelho chegou ao congresso com o calendário dos próximos meses em mente e durante três dias carregou na tecla do “diálogo”. Mas até às eleições em Maio, o PSD aposta em garantir que os sacrifícios vão valer a pena, e é esse o esqueleto de uma estratégia eleitoral que já está em curso: “Sabemos que muitas pessoas no país ainda não sentem isso no seu dia-a-dia, sabemos que ainda não chegou a sua vez de sentir que essa melhoria macroeconómica lhes vai trazer uma melhoria concreta da sua situação de vida”, disse o líder.

A 17 de Maio, Portugal termina o programa de assistência financeira. Na semana seguinte os portugueses escolhem os seus novos representantes em Bruxelas. Passos não falou abertamente em vitórias, mas recorreu a Sá Carneiro uma e outra vez para dizer que “quem julga sobre os méritos do que nos trouxe até aqui, quem avaliará o mérito de cada um, só pode ser o povo português”.

Nas entrelinhas dos discursos do primeiro-ministro lê-se aquilo que Miguel Macedo disse com mais clareza. Nas eleições europeias, os portugueses vão escolher entre quem estrangulou o país e quem o libertou das amarras dos credores internacionais. “De um lado, Passos Coelho, (…), um político que não criou este problema mas que foi e tem sido decisivo para o resolver. Do outro lado, António José Seguro, o líder do partido que meteu cá dentro a troika e que ao longo destes dois anos e meio de resgate só soube criticar e nunca ajudar”.

Mas a verdadeira arma eleitoral do PSD – e do seu parceiro eleitoral CDS – passará por conseguir dar um sentido ao esforço que tem sido exigido. É fundamental apostar na mensagem de que o país está a conseguir ultrapassar uma das maiores crises da sua história, muito graças ao “estoicismo” dos portugueses, que Miguel Frasquilho também reconhece.

O caminho tem sido duro, e o governo quer garantir que os portugueses percebem o seu reconhecimento pelo peso daquilo que tem sido pedido para garantir o cumprimento do programa. Mas lembra que o “leque” de escolhas deixadas por quem lhe sucedeu foi estreito, e que sem os sacrifícios feitos até agora “precisaríamos de fazer sacrifícios incomparavelmente maiores (…) para oferecer ao país a possibilidade de viver condignamente”, garantiu Passos.

Até que esse caminho seja cumprido, o primeiro-ministro vai continuar a insistir na importância de os partidos conseguirem um entendimento sobre as grandes reformas que o país terá de enfrentar depois de Maio. “Cada um precisa de assumir as suas responsabilidades e a responsabilidade pelas opções que faz”, disse Passos, reiterando o mesmo repto. “Convidamos todos os partidos a poderem exprimir a sua proposta para esse resultado que precisamos de atingir”.

Mas nem mesmo com discursos renovados de apelo ao entendimento a oposição parece inclinada a embarcar no diálogo. Na reacção ao congresso dos sociais-democratas, o secretário-geral do PS acusou Passos de transformar o encontro do PSD num “comício de ataque” aos socialistas. Para António José Seguro, os discursos dos protagonistas da maioria não passam de estratégia eleitoral para as eleições de Maio. “Eles só pensam em eleições, eles não pensam no país. Eles estão esgotados. Eles chegaram ao fim do ciclo. Este congresso torna mais evidente que este PSD e este CDS precisam de uma boa cura de oposição para libertarem Portugal e para construirmos de novo esse caminho que nos há-de levar à prosperidade”, defendeu.

À saída do Coliseu, Armindo Miranda, do comité central do PCP, disse estar disponível para convergências com “todos os que queiram pôr o governo na rua”. O BE não esteve representado no congresso, mas Guilherme Gusmão classificou o encontro em Lisboa como um espectáculo de “alucinação colectiva” protagonizado pelos militantes do principal partido do governo.