Hoje foi um dia memorável para mim, pois de manhã tive a honra de cortar a fita na inauguração do edifício polivalente que a Helpo construiu em Silva Macua. Este edifício terá múltiplas funções: acolherá o refeitório ou aulas de alfabetização de adultos. Foi uma verdadeira festa, aquela em que participei, com actuação do coro das crianças da escolinha, com a presença das famílias, e das mais elementares autoridades locais. É caso para dizer tudo a preceito como manda o protocolo. Cantou-se o hino e até padre havia, para benzer os cantos à casa.
Porém, como em toda a parte, também aqui a vida é irónica. Logo eu, mais conhecido como político, – e os políticos não se livram da fama de “fazer inaugurações”-, vivi o meu primeiro corte de uma fita de inauguração, num evento da Helpo e não como responsável político no activo. Imagino que muita gente diga: “estes tipos não perdem uma oportunidade!” Mas não, tratou-se de uma surpresa que os meus colegas da Helpo me fizeram…a quem só tenho a agradecer, embora o agradecimento mais especial se dirija aos padrinhos que permitiram mais esta obra.
Mas como dizia há pouco, hoje foi um dia muito importante e os acontecimentos não se ficaram por esta festa: para assinalar o dia do Livro, a Helpo organizou uma sessão na Escola Secundária de Pemba na qual entregou à biblioteca escolar uma contribuição muito generosa de livros, na sua maioria recolhidos em Portugal pela Helpo e alguns gentilmente cedidos pela Escola Portuguesa de Maputo.
Esta sessão contou também com uma surpresa, que até o director da Escola apanhou desprevenido. Com a conivência de um professor amigo, as equipas de futebol feminino e masculino da escola, irromperam pela sala desfilando com os equipamentos da Selecção Nacional de Futebol e do Sporting de Braga vestidos, equipamentos oferecidos e que emocionaram os presentes.
Na cara dos jovens atletas, e na do próprio director, desenhou-se um sorriso emocionado que contagiou “a plateia”, e aliciou os atletas a assistirem ao resto da conferência. Duvido que alguma vez tenha havido uma aula ou conferência em Portugal cuja metade dos participantes estivessem equipados como futebolistas. Durante os próximos dias iremos entregar mais conjuntos de equipamentos da Selecção Nacional, do Benfica, do Sporting, do Vitória de Guimarães e do SC Braga, que nos foram cedidos gratuitamente pela FPF e pelos clubes e que, tenho a certeza vão encher de alegria dezenas de jovens moçambicanos.
A terminar esta visita à escola e já enquanto Deputado português, tive o privilégio de fazer uma intervenção dirigida aos estudantes, mas em especial aos jovens participantes do programa “Parlamento Infantil de Cabo Delgado”, o parlamento dos jovens cá do sítio. Falei-lhes da necessidade de participação de mais jovens na política, o que é e para que serve a política, o papel dos partidos, a cidadania, a importância da leitura, entre outros temas que achei pertinentes face ao contexto. Devo confessar que raras vezes vi plateias tão atentas e preocupadas, jovens com perguntas de resposta exigente e bem informados sobre a realidade política portuguesa e moçambicana.
Curiosamente, a pergunta mais complicada que me fizeram no debate que se seguiu, e cuja resposta tentei dar, nasceu da curiosidade do aluno mais activo do Parlamento Juvenil, que quis saber a razão pela qual em Portugal há muita contestação, ao Governo e ao Presidente, e em Moçambique, país pobre e com dificuldades, o Presidente é recebido com flores e generosas manifestações de alegria por parte dos cidadãos, apesar da esmagadora maioria viver em situação de pobreza. Faz-nos pensar!
* Membro da direcção da Helpo e deputado do PSD
