13 euros por mês é a diferença entre escrever no pó ou ter uma sala de aulas, com papel e lápis. Bora ajudar?


Eram 6h da manhã quando o Tiago e a Sílvia partiram para Mahera, onde a Helpo reconstruiu uma escola, distribui regularmente material escolar, faz um lanche semanal, além de muitas outras atividades ou apoios pontuais. Eu, a Joana e o Cazé arrancámos pouco depois para chegar a Mahera à hora do lanche (cujo protocolo de…


Eram 6h da manhã quando o Tiago e a Sílvia partiram para Mahera, onde a Helpo reconstruiu uma escola, distribui regularmente material escolar, faz um lanche semanal, além de muitas outras atividades ou apoios pontuais. Eu, a Joana e o Cazé arrancámos pouco depois para chegar a Mahera à hora do lanche (cujo protocolo de preparação demora algum tempo), no caminho de regresso a Nampula.

Este lanche semanal, que não é mais do que um sumo e um pão com geleia, feito em forno de lenha pelo padeiro da aldeia e adquirido pela Helpo, é mais um pretexto para aumentar a adesão das crianças à escola. Os animadores e alunos mais velhos ajudam a fazer as sandes e todas as crianças, por turmas e em “comboio”, seguem um ritual que já conhecem: lavam as mãos com sabão (o que para alguns é o único que conhecem e por isso aproveitamos mais esta desculpa para os habituar a esta higiene), enchem a caneca de sumo e vão sentar-se em grupo a comer. Alguns trazem mesmo uma pequena garrafa de plástico para levar parte do sumo da sua caneca para os pais e irmãos.

Nesta escola consegui ver a diferença que faz a nossa intervenção. Hoje estas crianças tinham carteiras para se sentar, livros, cadernos e lápis para escrever e apontar o que o professor lhes ensina ou dita. Não podia deixar de vos confessar o meu espanto, e alguma inveja, com a alta qualidade da caligrafia dos professores por aqui, parecendo mesmo que escrevem sobre uma régua e ou com um computador. E eu sei bem o que isso custa pois fui na minha infância várias vezes obrigado a escrever em cadernos de duas linhas ou já na Universidade, a ser chamado por professores para “decifrar” a minha caligrafia.

Se já são padrinhos da Helpo e estão a ler este texto espero que se sintam orgulhosos, se ainda não são aproveitem para o passarem a ser. A vossa ação pode fazer a diferença em mais uma escola (primária) ou escolinha (jardim de infância). Há poucas escolinhas em Moçambique e é incrível ouvir da boca dos professores das escolas que aqueles que antes passam pelas escolinhas, as que nós apoiamos, chegam melhor preparados ao nível seguinte. Vale a pena!

A caminho de Nampula, e apesar de alguns sustos pela loucura de certos condutores, a viagem é sempre interessante e a paisagem muito bela. Fizemos várias paragens bem típicas por aqui, desde levar um envelope de um vizinho em Pemba para um cliente dele a meio do caminho, cuja descrição do destinatário era “o mais baixinho que lá estiver”, ou uma “peça mecânica” de uma empresa portuguesa (do tal cluster informal) para um seu funcionário que se encontra em Nampula, ou mesmo uma paragem em Netia-Natete para recolher uma carta do Padre Gasolina para o Bispo de Fátima em Portugal, foi tudo uma grande aventura. Não podia deixar de referir o “reforço matinal” que o Padre nos deixou pois, apesar de não estar lá para nos receber, já é uma tradição ter a mesa posta para os seus amigos e parceiros cooperantes poderem comer uma bela omelete feita em fogão de carvão a meio do percurso. Sempre são 6 horas de viagem de Pemba até Nampula e a “malta não é de ferro”.

Viemos com o tempo contado mas chegámos a horas de reunir com a Governadora de Nampula, Cidália Chaúque, principal autoridade na província e nomeada directamente pelo Presidente Guebuza. Mais uma vez reforçou o que já tinha sentido nos primeiros contactos por aqui, revelando o seu reconhecimento e entusiamo pelo trabalho da Helpo nesta região. Como alguns dizem por aqui, se a Helpo decidiu vir para o Norte, Nampula e Cabo Delgado, as regiões mais pobres e duras, é “porque vieram mesmo para trabalhar e ajudar”.

Ainda conseguimos tempo para oferecer à Escola Industrial de Nampula, nossos vizinhos na rua onde está a sede da Helpo, os equipamentos cedidos pelo Vitória de Guimarães cujas fotos vão encher de orgulho o meu amigo Xana que, assim que soube que trazia material do seu rival da capital de distrito, fez questão que esta missão também tivesse uma participação do seu grande “bitória”. O Diretor da Escola fez questão de nos receber com a equipa de futebol masculino e de imediato envergaram os equipamentos para a foto da praxe.

Aqui já são 19 horas mas a noite já caiu há muito, o dia começou cedo mas no escritório da Helpo ainda se trabalha e acertam pormenores para o trabalho de amanhã. Graças às redes sociais é possível, a baixo custo, fazer contactos e tomar decisões a partir de Moçambique sobre o trabalho da Helpo em Lisboa e em São Tomé e Príncipe. Estes momentos servem também para ver o email e a situação do mapa de apadrinhamentos, felizmente hoje chegaram mais 3 pedidos de novos padrinhos…espero que seja o seu!

* Membro da direcção da Helpo e deputado do PSD