Um guitarrista com a mania das bandas atira-se a um primeiro disco a solo porque sim. E sem problemas com o isolamento: Pedro “Peixe” Cardoso dá-se bem sem companhia e vai já confirmando que tudo isto vai acontecer em palco. “Apneia” é um conjunto de temas instrumentais, quase todos pensados ao detalhe mas com uma minoria que se deixou levar pelo improviso.
Este disco surge por acaso ou foi planeado ao pormenor?
Um amigo meu tinha um bar no Porto, o Bordel, e ele perguntava-me, uma e outra vez, se eu não queria aparecer por lá de vez em quando e tocar qualquer coisa. Às vezes dava-me na cabeça e aparecia, sempre com improvisações. Uma vez ele gravou a sessão e deu-me para ouvir, gostei muito e foi isso que me fez continuar. Perguntei-me: “E se em vez de improvisar fizesse mesmo peças?”
Mas isso implica tocar sozinho. Para quem sempre o fez em bandas, é fácil?
Não é mais complicado porque continuo com os outros projectos. Ao mesmo tempo, tenho a hipótese de cultivar uma introspecção que não descobriria de outra maneira. E tudo isto surgiu de forma lúdica, que me afastou automaticamente de momentos mais complicados.
E ao vivo, o que vai acontecer?
Nada mais simples, eu e a guitarra. A ideia é manter a base do disco mas claro que tudo o que for improvisado será diferente. Serei eu sozinho porque há só uma guitarra, não há overdubs.
No disco ouvem-se os dois formatos, acústico e eléctrico. Qual dos dois prefere?
Quando comecei a tocar foi com os Ornatos, estava a aprender uns acordes de guitarra acústica e formámos a banda, só depois comecei a tocar guitarra eléctrica. Mas quando comecei a investir mais a sério no instrumento, no conservatório e nas aulas de jazz, a eléctrica foi sempre a prioridade. De há uns anos para cá comecei a experimentar afinações alternativas, formei os Zelig e aí escrevi muita coisa nova.
Sem nunca pensar em cantar.
Pensar já pensei, mas só num outro futuro, de uma outra forma. Para fazer canções é preciso dominar a arte da escrita, saber cantar não só o ritmo e os fonemas mas fazer tudo de forma coerente, que funcione. Adoro canções mas é difícil fazê-las bem feitas. Já experimentei, a algumas achei piada, mas nada de que gostasse mesmo. Talvez eu seja mais guitarras.
E como é que elas apareceram pelo caminho?
O meu pai tinha uma viola em casa, quando eu era puto. Peguei naquilo, quis aprender umas coisas. Já tinha tentado e desistia sempre, os dedos doíam-me. Só aos 14, com o livro do Eurico A. Cebolo, consegui aprender umas coisas. O primeiro guitarrista que me lembro de gostar foi o Mark Knopfler, em miúdo adorava os Dire Straits. Depois agarrei-me a um disco dos Led Zeppelin e ao Jimmy Page. Mas acima de tudo fui muito teimoso, foi mais isso. Já os Ornatos existiam e eu continuava teimoso.
Sobre os Ornatos Violeta, o primeiro concerto de reunião acontece a 17 de Agosto, no Festival Paredes de Coura. Como vão os preparativos?
Óptimos. Quero dizer, se o concerto fosse amanhã podíamos fazê-lo, mas ainda bem que não é. Tudo isto foi pensado com tempo, não queríamos fazer a coisa às três pancadas, ensaiamos desde Fevereiro regularmente, estamos próximos do que estávamos na altura em que a banda tocava, talvez melhor agora porque somos melhores músicos. O mais complicado vai ser dominar o lado emocional, o resto vai ser fácil.
O reencontro na sala de ensaios foi fácil, foi imediato?
Não estávamos juntos com a frequência de outros tempos mas somos todos amigos e vemo-nos regularmente, não é como dar de caras com alguém que não víamos há dez anos. E o tocar, é como andar de bicicleta.
Estavam à espera da receptividade sobre os concertos [em Outubro, nos coliseus de Lisboa, 25 e 26, e Porto, 30 e 31]?
Sim, não vale a pena dizer o contrário. Mas não esperávamos que esgotassem tão rápido. Estávamos certos que um primeiro concerto iria esgotar rapidamente mas não sabíamos sequer se poderíamos fazer mais. A rapidez da venda dos bilhetes foi uma surpresa.
E não motiva mais planos, para depois dos concertos?
Não, em princípio não vai acontecer nada. Mas não digo desta água não beberei, também dizia que não íamos tocar outra vez.