Artisani, gelado português
Com o calor febril do centro de Cascais, não há praia mais lotada que a da Duquesa, juntando aleatoriamente os pescadores locais com os turistas seniores do norte da Europa. Nas primeiras pedras da passadeira que se estende até à praia da Poça, encontramos a Artisani. O nome é uma castiça interpretação da palavra artesanal para italiano, com origem nas docas lisboetas. Estes gelados são portugueses de alma e conteúdo. O gerente da loja, Tiago Lacerda, explica-nos a mudança para Cascais: “Acreditamos que esta é uma zona privilegiada para os consumidores de gelados, com uma tradição que vem desde o Santini.” Situado estrategicamente em frente da praia, podiam ter os piores gelados do mundo que o sucesso era imediato – felizmente esse não é o caso. O sabor rústico dos gelados complementa-se pela originalidade dos sabores, com destaque sublinhado para limão com manjericão, caipirinha e salame de chocolate. O gelado de bacalhau ainda está por fazer, mas o gelado de pastel de nata já está em grande forma e sabor.
Praia da Duquesa
214 835 680
Seg-Sex: 10h-11h30; Sab-Dom: 09h-00h
Especialidades: Pastel de nata, limão com manjericão, caipirinha e salame de chocolate
Santini, paragem obrigatória
A próxima paragem é a Meca dos gelados na vila, o popular Santini. Passados 70 anos de vida – desde que Attilio Santini servia taças à realeza espanhola que se banhava no Estoril – a geladaria é considerada como uma das melhores de Portugal e, para os habitantes de Cascais, a melhor do mundo. As fardas listadas já se tornaram uma imagem de marca, propagadas pela família Button, que há três anos começaram a gerir a geladaria, fazendo a vontade dos descendentes de Santini. “Eles sentiram necessidade de crescer um pouco e tanto a Isabel como o Eduardo Santini queriam descansar”, explica o administrador Martim Button. Num conjunto de propostas de qualidade a toda a prova, a velha discussão é quais os dois sabores que se complementam na perfeição. Para Martim são “morango e nata, que já pedia muito antes de trabalhar aqui”. Como velhas teimosas, ninguém muda a sua dualidade saborosa de estimação. A firme posição deste vosso viciado em gelados não sofre qualquer alteração: “Uma taça de avelã e morango por favor.”
Av. Valbom, 28 F
214 833 709
Seg–Sáb: 11h–00h
Especialidades: Lima, avelã, morango, framboesa, amêndoa, chocolate, maçã verde e canela
Gelateria Italiana, ao lado daquele cujo o nome não deve ser pronunciado
Com uma esplanada para a Rua Valbom e em competição directa com o titã Santini, está a destemida Gelateria Italiana. Fabio Lupi e Camilla Lubello em sentido inverso ao Santo António, foram de Pádua para Lisboa. “Trabalhei dez anos para uma empresa multinacional, estive colocado na Índia e depois em Lisboa”, explica Fábio, dizendo ainda que ele e a mulher optaram por uma mudança de vida. “Temos um amigo que tem uma geladaria na nossa aldeia, onde trabalhei durante a faculdade.” No Verão passado abriram a geladaria em Cascais, apesar de Fabio admitir que continua a ser difícil atrair a clientela cascalense (que provavelmente está uns metros acima numa longa fila). No entanto, a facilidade com que domina o francês, o português e o alemão é um forte chamariz para os estrangeirados e os sabores de After Eight, Oreo, Kitkat e Nutella são o isco perfeito no período de férias dos adolescentes borbulhentos.
Av. Valbom 10A, Cascais
214 839 775
Seg-Dom: 10h-23h
Especialidades: Coco, mentol, Oreo, Kitkat, Nutella e avelã com amêndoa
Tchipepa e a vaca preta
Paralela à rua Valbom está a rua que mais se apinha de turistas no Verão, onde se situava a antiga contracção mercantil de Cascais. Conhecida por rua Direita, no seu centro está um abandonado complexo de lojas. Ao subir duas escadarias, os persistentes defrontam-se com o oásis escondido de Cascais, o Tchipepa. A esplanada da geladaria, nos seus Verões áureos, dava direito a fila de espera. A festejar número redondo, Carlos Alberto explica que “mesmo com todas as benesses do Santini, continuo aqui passados 35 anos”. Tchipepa significa “muito bom” num dialecto angolano. Carlos e a mulher Mirita, ambos angolanos, abriram a geladaria “porque tínhamos de abrir alguma coisa”. O destaque, invariável, vai para a Vaca Preta, uma das grandes invenções da humanidade: um copo com duas bolas de gelado e Coca-Cola. Entre os seus clientes está Maria Fernanda que vem todos os dias desde que abriram, apesar das adversidades: “Vejo pessimamente”, explica. Carlos proclama e nós concordamos: “O Tchipepa não pode desaparecer.”
Rua Frederico Arouca 45
214 867 373
Seg-Dom: 11h-24h
Especialidades: Vaca Preta (duas bolas de gelado com Coca-Cola) e Tchipepa (creme de leite com chocolate)
Porto Di Mare, gelados e pizzas
No fim do nosso roteiro está o berço de Cascais, onde as refeições, ao almoço, são servidas a preços proibitivos e sabores azedos: o Largo de Camões. Mas nem tudo por ali é exclusivo de ingleses convencidos que a sardinha é uma iguaria. Numa das pontas da praça está, desde 2004, a pizzaria e a geladaria Porto Di Mare. “Vim a Portugal pela primeira vez há 20 anos”, explica Massimo Madile de Bolonha. Em Portugal apaixonou–se e casou com Elsa Cardoso: “Casei com a Elsa há 80 anos (ri-se)! Na verdade foi há 20. Queríamos abrir um restaurante, aproveitamos este espaço para complementar com uma geladaria.” A esplanada está sempre lotada, ao almoço é essencialmente ocupada pelos fãs das pizzas e de tarde pelos que regressam das praias a pedir gelados. De fabrico artesanal e natural, os gelados são feitos todas as manhãs na loja. Numa rotação de 30 sabores, o destaque vai para a lima, pistachio e passas com rum. No entanto, seja qual for o sabor, o nosso palato acusa sempre boas razões para pensar em regressar.
Largo Camões, Beco Torto 1
96 954 6535
Seg-Dom: 12h-01h
Especialidade: Lima, pistachio e passas com rum