O ex-ministro da Saúde Correia de Campos considera que a união da classe médica em torno da próxima greve se deve ao "desencanto" com as medidas do governo que "estão a castigar as pessoas" e são "um erro económico enorme".
António Correia de Campos falava à agência Lusa após ter proferido uma oração de sapiência, no âmbito da comemoração do Dia do Instituto Politécnico de Coimbra, sob o tema "Os serviços de saúde nas sociedades europeias do século XXI".
A propósito da greve dos médicos, marcada para os próximos dias 11 e 12 de Julho, o ex-ministro da Saúde disse que a expressão de união da classe — que junta dois sindicatos e é apoiada pela Ordem — resulta de "um certo desencanto em relação à situação financeira do país e às medidas que o governo adota para a solucionar".
"O governo podia muito bem ter batido o pé à 'troika' e exigido um calendário mais aceitável, um calendário que não fizesse a nossa economia entrar em depressão", disse.
Para Correia de Campos, o governo "podia ter encontrado uma forma de não castigar as pessoas — e ainda por cima de um modo inconstitucional, como quinta-feira se soube — de tal forma que lhes reduz a sua capacidade produtiva, que os estrafega produtivamente e, portanto, amplia a depressão".
"É um erro grave, gravíssimo deste governo, porque quis, de uma forma infantil, mostrar que era capaz de cumprir mais e melhor do que aquilo que lhe pediam", adiantou.
O eurodeputado considera que "isso não só não vai ser feito de uma forma decente como, se for feito, vai conduzir a um estado lamentável a capacidade produtiva: com muito mais desemprego e uma depressão económica muito mais profunda".
Para o ex-ministro, a solução deste governo saldou-se num "erro económico enorme".
Em relação ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), Correia de Campos mantém que não existe alternativa a este modelo e que a sua privatização seria "ainda mais penalizante para as classes médicas baixas e pobres, que hoje em dia já são as mais penalizadas".
Para Correia de Campos, neste sector não houve, até agora, e por parte deste Ministério da Saúde, "uma medida interna nos hospitais para melhorar a sua produtividade e eficiência, a não ser os cortes".
"O governo está parado nesta matéria e não é com a paralisia, a baixa do orçamento, a redução drástica do orçamento e o aumento das contribuições dos cidadãos, que se consegue alguma coisa na saúde", adiantou.
"Eu durei três anos, mas a verdade é que enfrentei todos os 'lobbies' da saúde. Sem coragem não se faz nada", frisou.