O procurador da República do processo Freeport, Vítor Pinto, disse hoje à agência Lusa que não vai arrolar mais testemunhas para este processo, em julgamento no Tribunal do Barreiro.
Questionado pela Lusa, em particular, sobre a possibilidade de vir a chamar políticos, como o ex-ministro do Ambiente e mais tarde primeiro-ministro José Sócrates, Vítor Pinto escusou-se a responder, considerando que "seria violar um processo que está em julgamento”, sublinhou.
A 22 de maio último, o antigo administrador da Freeport Alan Perkins revelou, perante o Tribunal do Barreiro, que o então ministro do Ambiente José Sócrates era identificado com o nome de código "Pinóquio".
Na altura, esta testemunha, ouvida através de videoconferência, disse ter ficado com essa convicção, na sequência de conversas que teve com Charles Smith – coarguido neste processo juntamente com Manuel Pedro –, numa reunião realizada no Mónaco, em janeiro de 2006, assim como “noutras duas realizas em Alcochete, em fevereiro e março do mesmo ano”.
Nesse depoimento, Alan Perkins disse ainda ter sido na mesma altura que “ficou a saber [também através de Charles Smith] de mais pormenores sobre os pagamentos ilícitos” feitos a "Pinóquio", e que as verbas chegavam àquele político através de duas pessoas designadas como “Bernardo e Gordo”, “que eram próximas” e “primos” de José Sócrates.
Na audiência de hoje, quando o procurador da República perguntou a Rik Dattani, gestor do projeto de Alcochete até julho de 2002, se alguma vez tinha ouvido falar naqueles nomes, este disse recordar-se "vagamente” de, em conversas que teve com Charles Smith e Manuel Pedro, os dois arguidos refereirem aqueles nomes – Pinóquio, Gordo e Bernardo – sem, contudo, saber "dar mais informações sobre os mesmos”.
No mesmo dia em que Alan Perkins identificou José Sócrates como Pinóquio, o ex-ministro anunciou que ia responsabilizar judicialmente quem abusivamente invocasse o seu nome.
"José Sócrates não deixará de responsabilizar judicialmente quem abusivamente invocou ou venha a invocar o seu nome para obter vantagens ilícitas de qualquer natureza", garantiu Daniel Proença de Carvalho, advogado de José Sócrates, numa nota enviada à agência Lusa.
Proença de Carvalho salientou, a propósito, que, na sessão de julgamento do chamado “caso Freeport”, a testemunha Alan Perkins terá relatado uma conversa com o arguido Charles Smith, na qual este "terá produzido afirmações pondo em causa o bom nome do engenheiro José Sócrates", ministro do Ambiente à data do licenciamento do "outlet" de Alcochete.
"As afirmações atribuídas a Charles Smith são falsas e difamatórias. Quando a gravação de tais afirmações foi conhecida, José Sócrates apresentou, em 03 de abril de 2009, queixa contra o autor dessas falsas afirmações, que deu origem a inquérito criminal, que terminou com o arquivamento do processo", lembra o advogado, adiantando que o Ministério Público entendeu que o crime imputado ao consultor e arguido Charles Smith "estava prescrito".