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Amor, uma tenda e um bando de escuteiros


Amor, uma tenda e um bando de escuteiros

Este filme vai ser provavelmente o mais amoroso e bonito que verá nos próximos tempos. E se a palavra “amoroso” lhe faz tremer um olho, não se preocupe, há mais adjectivos de onde este veio. Divertido. Perfeito. Esteticamente maravilhoso. Actores incríveis e personagens inesquecíveis. A história é simples, tão simples como as melhores coisas podem ser. Dois miúdos de 12 anos – Suzy e Sam – apaixonam-se e decidem fugir, só por uns dias, à conquista de uma praia deserta. Ele escuteiro experiente e órfão, ela sonhadora, leitora voraz de livros de fantasia e profundamente infeliz. Os pais, Murray e McDormand, estão demasiado ocupados com as  próprias angústias e desilusões para perceberem o que se passa com a filha mais velha. Como é costume nos filmes de Wes Anderson, não há personagens felizes nem gargalhadas fáceis. A vida é uma espécie de fardo que é preciso carregar não se sabe muito bem para onde. Neste filme tudo é perfeito. A cor, o cenário e a roupa dos anos 60, a ilha, o casting dos miúdos, os actores, a música, a história e os diálogos. Ao fim de alguns minutos queremos ficar a viver ali, sentados a ouvir discos de música clássica e a ler livros de capa dura roubados da biblioteca. Queremos entrar para os escuteiros, acampar o Verão todo, sobreviver uma semana no mato. E queremos voltar a sentir a novidade de um primeiro amor proibido e inocente. Se não acredita, é melhor ver com os seus próprios olhos. Palavra de escuteiro.

Um aracnídeo divertido e melodramático

Em 2007, depois do sucesso milionário de “Homem-Aranha 2” (2004), Sam Raimi fechou a sua trilogia do aracnídeo com um dos maiores desastres cinematográficos da história da Marvel, o que não é dizer pouco. Apenas cinco anos depois, uma reinvenção parece verdadeiramente prematura. No entanto, inspirada pelo trabalho pioneiro de Christopher Nolan, a Marvel apostou num realizador emergente. Marc Webb, com apenas um filme (“500 Dias com Summer”, 2009), foi um tiro certeiro. A sua leveza cómica e o seu toque melodramático tornam este Homem-Aranha o herói mais feminino desde que Robin nos agraciou com a sua presença. Ao leme está o actor Andrew Garfield, com um Peter Parker divertido, emocional e surpreendentemente real. A história é já conhecida: o órfão introvertido mora com os tios (Martin Sheen e Sally Field) e a sua vida muda quando é picado por uma aranha geneticamente alterada e ganha superpoderes, de um poder de equilíbrio invulgar a uma força sobre-humana. O vilão é o cientista Curt Connors (uma espécie de Dr. Jekyll), que se transforma num lagarto gigante (neste caso um Mr. Hyde), interpretado por Rhys Ifans. A sua paixão amorosa é a loira e cientista Gwen Stacy (Emma Stone). Este novo “Homem-Aranha”, de sensibilidade indie, pode pecar pela falta de acção, mas a plataforma está imposta para uma sequela mais ambiciosa.

Do romance e de outras delicadezas

O que se passa é que Audrey Tautou pode fazer um anúncio a uma pasta de dentes que vamos gostar dela de qualquer maneira, só que isso nem sempre chega para um filme inteiro. Tautou – cuja personagem  aqui se chama Nathalie, que rima com Amelie – volta a ter um destino. Não tão fabuloso, mas um destino para o qual avança com aquele jeito de menina tímida, apesar dos seus 34 anos. Nesta comédia romântica, que o cunho francês torna, vá lá, mais delicada, tudo começa bem e parece encaminhado para não dar filme nenhum. Só que de repente o destino entra em acção numa reviravolta que na verdade não cria surpresa e Nathalie perde tudo aquilo que a faz feliz. Diz o filme, baseado no livro de David Foenkinos, que também se estreia na realização, com o irmão, que “depois do tal pode haver mais um”. Não espere, no entanto, nada muito profundo: afinal é uma comédia romântica. Nem Audrey faz um papel diferente dos que costuma fazer. O problema é que as comédias românticas se querem engraçadas, e já agora românticas. Para isso tem de haver um par de apaixonados convincente e com química suficiente para que possamos imaginá-los juntos fora do ecrã. Não é o caso. O homem que quer conquistar Nathalie está mais para amigalhaço trambolho que para interesse amoroso. Não convence nem quando põe as mãos na assustadoramente estreita cintura de Tautou.