Inquérito Leveson. “Nunca pedi favores a ministros”, garante Rupert Murdoch


Rupert Murdoch esteve ontem a prestar esclarecimentos à comissão do Inquérito Leveson, que há vários meses investiga as escutas telefónicas ilegais por jornais do magnata de media – novelo que nos últimos tempos ganhou contornos mais complexos, depois de revelados emails que parecem provar que o actual governo britânico favoreceu um negócio da News Corporation…


Rupert Murdoch esteve ontem a prestar esclarecimentos à comissão do Inquérito Leveson, que há vários meses investiga as escutas telefónicas ilegais por jornais do magnata de media – novelo que nos últimos tempos ganhou contornos mais complexos, depois de revelados emails que parecem provar que o actual governo britânico favoreceu um negócio da News Corporation para comprar o canal de televisão por satélite BSkyB.

O alegado envolvimento de cada vez mais figuras de Estado no escândalo das escutas levou ontem Murdoch pai, de 81 anos, a garantir que nunca pediu favores a nenhum ministro, nem sequer à “dama de ferro” Margaret Thatcher, com quem sempre teve afinidades políticas. “Nunca pedi nenhum favor a um primeiro-ministro”, garantiu o empresário natural da Austrália quando questionado sobre as suas relações com Thatcher quando adquiriu os jornais “The Times” e “The Sunday Times” em 1981, altura em que esteve reunido com a então primeira-ministra.

“É apenas natural que os políticos procurem directores e, por vezes, proprietários de media, se eles estiverem disponíveis, para explicar o que andam a fazer”, disse à comissão parlamentar de inquérito. “Eu era apenas um entre muitos.”

Da década de 80 para 2012, as novas suspeitas que entretanto surgiram estão relacionadas com a compra do canal BSkyB pela empresa de media do império Murdoch, negócio esse que terá sido facilitado por membros do governo de David Cameron. O primeiro-ministro tem sido duramente criticado pela proximidade da família Murdoch, razão pela qual falou ontem ao parlamento sobre essa relação. “Creio que todos nesta casa devem pôr a mão na consciência. Todos nós tivemos contacto com Rupert Murdoch”, disse, sob vaias audíveis dos vários deputados da oposição.

O caso BSkyB levou ontem Adam Smith, assessor do actual ministro da Cultura, a apresentar a demissão, depois de terem sido divulgados emails trocados entre a News Corp. e o ministério liderado por Jeremy Hunt. Já este, que o maior partido da oposição, o Partido Trabalhista, exige que se demita, tentou ontem defender-se das acusações. “As transcrições das conversas entre o meu conselheiro especial Adam Smith e um representante da News Corp. supostamente indicam que havia um canal nos bastidores pelo qual a empresa pôde influenciar as minhas decisões. Esse não é categoricamente o caso”, garantiu no parlamento.

Por seu lado, Adam Smith justificou a decisão de se demitir, perante as alegações de “parcialidade”, com o facto de ter “ido além” daquilo que Hunt autorizara quando “teve encontros” com membros do império Murdoch para discutir o negócio BSkyB.

Na terça-feira, as 163 páginas de transcrições foram referidas por James Murdoch, filho do magnata e ex-director executivo da News Corp., à comissão, à qual explicou também que chegou a encontrar-se com David Cameron quando este ainda era líder da oposição conservadora, por causa da aquisição do total das acções do canal. Sobre esse encontro, Rupert disse ontem que “o apoio de um jornal a um político não é algo que se relacione com uma transacção comercial como esta. E não esperaria que qualquer tipo de apoio político se traduzisse em comportamentos inadequados”.

Os rumores de que o magnata teria tentado vingar-se do agora primeiro-ministro por ter aberto uma investigação às escutas também foram negados. “Eu disse isso? Está no meu depoimento?”, perguntou retoricamente quando questionado pelo advogado Robert Jay sobre o assunto. “Os rumores são falsos”, acabou por garantir, depois de pressionado para responder à questão.