Já não vai haver mais papel para o diário espanhol “Público”


Num sector bastante mais assumido em termos de orientação política do que em Portugal, a imprensa espanhola mais à esquerda sofreu ontem um duro golpe com o anúncio do encerramento da edição em papel do diário “Público”. As causas para esta decisão, segundo comunicado da empresa, referem-se à crise publicitária e à falta de financiamento.…


Num sector bastante mais assumido em termos de orientação política do que em Portugal, a imprensa espanhola mais à esquerda sofreu ontem um duro golpe com o anúncio do encerramento da edição em papel do diário “Público”. As causas para esta decisão, segundo comunicado da empresa, referem-se à crise publicitária e à falta de financiamento.

Mas nem tudo é mau nesta notícia, já que o diário foi alvo de intensos rumores recentes de que iria encerrar na totalidade, pelo que dizer que a edição online vai manter-se é positivo. O site é o quarto mais consultado em Espanha, com 5,5 milhões de utilizadores, ao passo que em 2011 vendia uma média de 87 mil exemplares diários. A última edição em papel saiu ontem.

Esta é a salvação possível de um projecto nascido em Setembro de 2007, cujo percurso financeiro tem sido tumultuoso nos últimos quatro anos. De acordo com a empresa detentora do título, a Mediapublis, foi apresentado nos tribunais em Janeiro um “concurso para acordo com os credores”, que implica a nomeação de uma administração e um plano para viabilizar o financiamento da empresa, no qual estará incluído um acordo com os credores sobre as obrigações pendentes. Mas o plano de resgate falhou por falta de investidores, daí esta decisão de encerramento da edição em papel.

Ainda em 2011, a empresa dedicou-se a espremer ao máximo as despesas correntes e massa salarial, com um plano de rescisões que abrangeu 29 pessoas. Aos actuais 160 funcionários do “Público”, somam-se os 40 que trabalham para o título “La Voz de Asturias”, também detido pela Mediapublis. E o futuro é incerto, pois o comunicado da empresa nada refere quanto ao futuro dos trabalhadores. Os jornalistas do “Público” reagiram à decisão dizendo que ela “supõe a perda de uma voz crítica indispensável para a pluralidade informativa e de pensamento”.

“mais cegos” A notícia provocou várias reacções e ontem a palavra “Público” dominava os comentários espanhóis no Twitter. Citado pelo site do elPeriodico.com, vários jornalistas, das mais diversas publicações, rádios e televisões, entre elas “El Mundo”, La Sexta, Cadena Ser, fizeram questão de manifestar o pesar pela decisão anunciada. Por exemplo, Lluís Foix, do “La Vanguardia”, lembrava: “É o segundo diário que cai em 2012: ADN e Público. Mau para a pluralidade e para a Liberdade”. Dani Mateo, da estação La Sexta, foi mais longe: “Perder um diário é perder um ponto de vista. Hoje estamos mais cegos”.