Os lesados do estado das coisas


É o mesmo facilitismo do desenrasca centrado no umbigo que faz com que o PS-Porto se castre da participação político-partidária ao não apresentar uma candidatura ao município do Porto


A exigência balofa do tempo do ajustamento económico imposto pela Troika foi cedendo território ao facilitismo não menos ficcionista da atual solução de governo, em especial, por via de quem apoiando o governo no parlamento, não quis forçar a nota na negociação orçamental, para agora debitar diariamente reivindicações e anúncios de dádivas. Uns sem pingo de sentido de responsabilidade de gestão, além do imenso pecúlio imobiliário acumulado por legado da militância, asseguram que as empresas têm condições para aceder a um acrescido aumento do salário mínimo nacional, outros prosseguem o impulso do megafone da feira das ocasiões exigindo mais tempo de férias, decretando o fim das propinas e outras propostas sem enunciar as necessárias compensações para que a coisa funcione. A voragem populista e popular é proporcional à evidência da falta de sustentabilidade do exercício, mesmo quando a narrativa supera a realidade. É assim que, com o facilitismo do estalar de dedos surge a ideia de sair do Euro ou a pressão contagiante (até para alguns socialistas de cartão) para assumir a liderança pela renegociação da dívida na Europa. Tudo facilitismos, sem menção de qualquer dano colateral. É só excitação, sem explicação. Mas não, há sempre alguém que é lesado pelas ligeirezas políticas e do Estado.

Para responder às clientelas, sem cuidar da sustentabilidade das opções, é normal que a um degradado serviço de transportes públicos, agora municipalizado, se some, segundo a Unidade Técnica de Acompanhamento e Monitorização do Setor Público Empresarial, um prejuízo superior em 33% ao previsto na Carris, nos STCP, no Metro de Lisboa e no Metro do Porto.

Para responder a uns é normal que proliferem os sinais de degradação em serviços da responsabilidade do Estado, em linha com os quatro anos de governação PSD/CDS, no socorro de emergência do INEM, nas infraestruturas rodoviárias, na escola pública, no Serviço Nacional de Saúde e no funcionamento a meio gás de vários serviços públicos tolhidos pelas cíclicas cativações.

Para responder ao de sempre, os apoios dos contribuintes portugueses aos bancos, através do Estado, já atingiram 8% do Produto Interno Bruto. Catorze virgula três mil milhões de euros, um pecúlio suficiente para quase um ano de pensões da Segurança Social, dez anos de subsídio de desemprego e doze meses sem cobrar IRS ou sem encaixar a receita do IVA. São muitos e diversificados os lesados da errática gestão do Estado, que decide sem explicar, executa sem se responsabilizar, porque a rede dos contribuintes está sempre ali, à mão de semear. 

Por maior que possa ser o sentido de justiça, o resquício de coerência e o sentido de resposta ao presente, é um contrassenso deixar instalar a perceção de facilitismo, de que é possível tudo, para depois o Estado não conseguir responder às suas responsabilidades urgentes e emergentes em questões fundamentais para a integridade física e a segurança das pessoas e dos bens.

Agora que o outsourcing de um consultor do primeiro ministro anunciou uma solução a meses para os lesados do BES, é bom que se tenha a consciência de que o perfil da gestão governativa e do facilitismo dos apoiantes da solução é gerador de novos lesados do Estado, que somam aos de sempre, estruturais, esquecidos e sem relevância eleitoral que baste. Os que estão fora do sistema e do radar eleitoral de quem busca pouco mais que a sobrevivência política.

É o mesmo facilitismo do desenrasca centrado no umbigo que faz com que o PS Porto se castre da democrática participação político-partidária ao não apresentar uma candidatura ao Município do Porto. Por muito que custe aos usuários do momento, faz parte do ADN, do sangue democrático do PS combater pelos seus princípios e valores, aliás, na linha do que nos ensinou Mário Soares quando afirmou que “só é derrotado quem desiste de lutar”. São uns derrotados à partida, vencedores de Pirro sempre e em qualquer circunstância. Esteve assertivo José Luís Carneiro ao sublinhar a anormalidade democrática perante o rasgar de horizontes do oportunismo. Aliás, a anulação parece ser uma nova forma de estar de quem participa ativamente na política. Em Lisboa, para as autárquicas, conseguiu-se similar resultados com o Bloco de Esquerda e com Pedro Santana Lopes.

Entre a anulação de muitos e a histriónica ativação presidencial, vide a patética e grave cena do Teatro da Cornucópia, os estudos de opinião alentam o sentido da governação, apesar dos sinais, da requentada receita (há seis anos que não gastávamos tanto) e da insustentabilidade da voragem de facilitismo.

Diz o Povo que “tristezas não pagam dívidas”, mas a euforia também não as paga e tende a gerar mais passivos. É tempo de Natal, de tradições e de família, a todos um Feliz Natal.

NOTAS FINAIS

Trocar o passo. A falta de respeito por quem circula em Lisboa. Já não bastava o inacreditável processo de implosão do quartel dos Sapadores de Lisboa para alargar o Hospital da Luz, sempre no mesmo risco processual. Agora de um momento para o outro, sem aviso e sem respeito pelos cidadãos, três faixas de rodagem passam a uma para dar lugar à implantação, em espaço público, do estaleiro da operação privada. 

Marcha atrás. Os aumentos. Como num ápice a miríade de aumentos de final de ano consomem os ganhos de rendimentos aprovados, sendo que os combustíveis aprenderam a subir a escada e os custos serão repercutidos no consumidor.

Marcar passo. Ao invés do efémero, brilham no firmamento social sem o correspondente reconhecimento de estatuto, de apoio e de recursos. Na época de incêndios ou nas catástrofes proliferam as proclamações de apoio. Depois de iniciativas para a floresta, vai sendo tempo de haver respostas para os Bombeiros Voluntários, para que produzam efeitos, para que confiram sustentabilidade e para que sirvam de reconhecimento.


Os lesados do estado das coisas


É o mesmo facilitismo do desenrasca centrado no umbigo que faz com que o PS-Porto se castre da participação político-partidária ao não apresentar uma candidatura ao município do Porto


A exigência balofa do tempo do ajustamento económico imposto pela Troika foi cedendo território ao facilitismo não menos ficcionista da atual solução de governo, em especial, por via de quem apoiando o governo no parlamento, não quis forçar a nota na negociação orçamental, para agora debitar diariamente reivindicações e anúncios de dádivas. Uns sem pingo de sentido de responsabilidade de gestão, além do imenso pecúlio imobiliário acumulado por legado da militância, asseguram que as empresas têm condições para aceder a um acrescido aumento do salário mínimo nacional, outros prosseguem o impulso do megafone da feira das ocasiões exigindo mais tempo de férias, decretando o fim das propinas e outras propostas sem enunciar as necessárias compensações para que a coisa funcione. A voragem populista e popular é proporcional à evidência da falta de sustentabilidade do exercício, mesmo quando a narrativa supera a realidade. É assim que, com o facilitismo do estalar de dedos surge a ideia de sair do Euro ou a pressão contagiante (até para alguns socialistas de cartão) para assumir a liderança pela renegociação da dívida na Europa. Tudo facilitismos, sem menção de qualquer dano colateral. É só excitação, sem explicação. Mas não, há sempre alguém que é lesado pelas ligeirezas políticas e do Estado.

Para responder às clientelas, sem cuidar da sustentabilidade das opções, é normal que a um degradado serviço de transportes públicos, agora municipalizado, se some, segundo a Unidade Técnica de Acompanhamento e Monitorização do Setor Público Empresarial, um prejuízo superior em 33% ao previsto na Carris, nos STCP, no Metro de Lisboa e no Metro do Porto.

Para responder a uns é normal que proliferem os sinais de degradação em serviços da responsabilidade do Estado, em linha com os quatro anos de governação PSD/CDS, no socorro de emergência do INEM, nas infraestruturas rodoviárias, na escola pública, no Serviço Nacional de Saúde e no funcionamento a meio gás de vários serviços públicos tolhidos pelas cíclicas cativações.

Para responder ao de sempre, os apoios dos contribuintes portugueses aos bancos, através do Estado, já atingiram 8% do Produto Interno Bruto. Catorze virgula três mil milhões de euros, um pecúlio suficiente para quase um ano de pensões da Segurança Social, dez anos de subsídio de desemprego e doze meses sem cobrar IRS ou sem encaixar a receita do IVA. São muitos e diversificados os lesados da errática gestão do Estado, que decide sem explicar, executa sem se responsabilizar, porque a rede dos contribuintes está sempre ali, à mão de semear. 

Por maior que possa ser o sentido de justiça, o resquício de coerência e o sentido de resposta ao presente, é um contrassenso deixar instalar a perceção de facilitismo, de que é possível tudo, para depois o Estado não conseguir responder às suas responsabilidades urgentes e emergentes em questões fundamentais para a integridade física e a segurança das pessoas e dos bens.

Agora que o outsourcing de um consultor do primeiro ministro anunciou uma solução a meses para os lesados do BES, é bom que se tenha a consciência de que o perfil da gestão governativa e do facilitismo dos apoiantes da solução é gerador de novos lesados do Estado, que somam aos de sempre, estruturais, esquecidos e sem relevância eleitoral que baste. Os que estão fora do sistema e do radar eleitoral de quem busca pouco mais que a sobrevivência política.

É o mesmo facilitismo do desenrasca centrado no umbigo que faz com que o PS Porto se castre da democrática participação político-partidária ao não apresentar uma candidatura ao Município do Porto. Por muito que custe aos usuários do momento, faz parte do ADN, do sangue democrático do PS combater pelos seus princípios e valores, aliás, na linha do que nos ensinou Mário Soares quando afirmou que “só é derrotado quem desiste de lutar”. São uns derrotados à partida, vencedores de Pirro sempre e em qualquer circunstância. Esteve assertivo José Luís Carneiro ao sublinhar a anormalidade democrática perante o rasgar de horizontes do oportunismo. Aliás, a anulação parece ser uma nova forma de estar de quem participa ativamente na política. Em Lisboa, para as autárquicas, conseguiu-se similar resultados com o Bloco de Esquerda e com Pedro Santana Lopes.

Entre a anulação de muitos e a histriónica ativação presidencial, vide a patética e grave cena do Teatro da Cornucópia, os estudos de opinião alentam o sentido da governação, apesar dos sinais, da requentada receita (há seis anos que não gastávamos tanto) e da insustentabilidade da voragem de facilitismo.

Diz o Povo que “tristezas não pagam dívidas”, mas a euforia também não as paga e tende a gerar mais passivos. É tempo de Natal, de tradições e de família, a todos um Feliz Natal.

NOTAS FINAIS

Trocar o passo. A falta de respeito por quem circula em Lisboa. Já não bastava o inacreditável processo de implosão do quartel dos Sapadores de Lisboa para alargar o Hospital da Luz, sempre no mesmo risco processual. Agora de um momento para o outro, sem aviso e sem respeito pelos cidadãos, três faixas de rodagem passam a uma para dar lugar à implantação, em espaço público, do estaleiro da operação privada. 

Marcha atrás. Os aumentos. Como num ápice a miríade de aumentos de final de ano consomem os ganhos de rendimentos aprovados, sendo que os combustíveis aprenderam a subir a escada e os custos serão repercutidos no consumidor.

Marcar passo. Ao invés do efémero, brilham no firmamento social sem o correspondente reconhecimento de estatuto, de apoio e de recursos. Na época de incêndios ou nas catástrofes proliferam as proclamações de apoio. Depois de iniciativas para a floresta, vai sendo tempo de haver respostas para os Bombeiros Voluntários, para que produzam efeitos, para que confiram sustentabilidade e para que sirvam de reconhecimento.