Se alguém tinha algumas dúvidas sobre a fragilidade da situação política portuguesa, o que se passou esta semana veio acabar com elas. O governo está claramente refém dos partidos da extrema-esquerda e, como estes se odeiam mutuamente, é obrigado a negociar separadamente acordos com cada um deles. O resultado é que o governo não governa, limitando-se, como qualquer governo de assembleia, a executar as medidas aprovadas nesses acordos. Como consequência, o poder governativo não está unificado, sendo antes disperso e fragmentado, já que cada um desses partidos, em lugar de acatar a disciplina essencial à sobrevivência de qualquer coligação de governo, aparece constantemente a exigir novas medidas que o governo e o primeiro-ministro prontamente acatam.
Foi assim que esta semana surgiu o “imposto Mortágua”. Viu-se que uma simples deputada do Bloco de Esquerda tem condições de mandar o governo aplicar uma medida de política fiscal absolutamente injusta e desastrosa, sem que dos governantes encarregados das Finanças se tivesse ouvido sequer um murmúrio. Pelo contrário, o PS convidou mesmo esta deputada para umas jornadas, tendo esta apelado a que esse partido “perdesse a vergonha” e avançasse para o ataque às poupanças dos portugueses, desafiando-o a ser “alternativa ao capitalismo”. Os aplausos que se seguiram demonstram bem o estado do PS atual.
António Costa sacrificou o país à sua sobrevivência política. Hoje vive em equilíbrio numa corda bamba permanente e só a sua reconhecida habilidade o mantém nessa corda. O problema é que, ao contrário dos equilibristas comuns, quando cair, não cai sozinho, arrastando todo o país com ele. E nessa altura dificilmente Portugal se voltará a levantar do chão.