EUA. Mister Trump pronto para caçar os pokémons em Washington

EUA. Mister Trump pronto para caçar os pokémons em Washington


O polémico milionário tem a nomeação garantida, mas dificilmente ganhará as eleições. Nas elites do partido já se fala das medidas a tomar para evitar a eleição de novos candidatos antissistema no Partido Republicano


Em abril deste ano, 1000 quadros republicanos envolvidos em anteriores administrações republicanas juntaram-se em Dallas para recordar os seus feitos e falar do futuro do partido. Houve de tudo um pouco: o antigo presidente George W. Bush deu autógrafos com o seu chapéu de cowboy e o seu vice-presidente, Dick Cheney, foi pródigo nas selfies. A atmosfera só se toldou quando foi abordado o que iria suceder ao partido republicano nas próximas eleições. George W. Bush confidenciou, irónico, aos colaboradores mais próximos, segundo o site Politico: “Estou muito preocupado (…) serei muito provavelmente o último presidente republicano de sempre.”

O primeiro dia da Convenção Nacional Republicana, que se realiza em Cleveland, no estado do Ohio, de 18 a 22 de julho, foi um banho de multidão para o milionário Donald Trump: mais de 50 mil ativistas do partido puderam ver o candidato acompanhado da sua esposa Melania e com o fundo musical do célebre tema dos Queen “We Are The Champions”.

Os mais de 2500 delegados reunidos no estádio Quicken Loans vão certamente eleger o polémico milionário como candidato republicano a disputar a presidência com a democrata Hillary Clinton. Ganhar as eleições parece, no entanto, mais difícil para os republicanos, pois o partido não parece unido. Por exemplo, o governador do Ohio, o estado que acolhe a convenção, o republicano John Kasich, rival de Trump na nomeação, não vai lá pôr os pés, apesar de ser o anfitrião. Como ele, muitos dos notáveis do partido, nomeadamente o poderoso clã Bush, não irão à reunião magna dos republicanos.

Segundo declarou ao “El País” o investigador Geoffrey Skelley, do Centro de Política da Universidade da Virgínia, “[Trump] ainda tem muito trabalho pela frente, do ponto de vista de promover a unidade. Para ter uma hipótese de ganhar as eleições precisa pelo menos de garantir 90% dos votos dos republicanos e as sondagens dizem que, neste momento, ele só conta com 75% a 80% desses votos. Mitt Romney conseguiu 93% em 2012 e, mesmo assim, foi derrotado por cinco milhões de votos”, alertou. Acresce que a deriva de Trump contra os imigrantes hispânicos cria mais alguns dramas eleitorais: depois da eleição de Obama em 2008 e da sua reeleição em 2012, os estrategas e responsáveis pelas sondagens dos republicanos alertaram diversas vezes para que um discurso anti-imigrantes hispânicos era perigoso para o partido e que nenhum candidato poderia ter a ambição de chegar à Casa Branca sem uma fatia apreciável do voto dos hispânicos.

A nomeação de Trump causa pavor na elite republicana: mais do que a eventual derrota da sua candidatura, os donos do partido temem a alteração da natureza do partido. Como nota o articulista do “El País”, “ganhe ou perca as presidenciais, Trump mudou a história do partido. Porém, o ‘trumpismo’ tem mais de catalisador que de causa. Quando se busca a sua origem é comum olhar para o Tea Party, o grupo que, depois da vitória de Obama em 2008, fez uma oposição feroz ao presidente com o slogan ‘devolva-nos o nosso país’. Havia, por baixo desse clamor, um elemento nativista que Trump soube entender”. O mesmo confirma Geoffrey Skelley ao mesmo jornal: “Trump vai ser nomeado por um partido que parece ser cada vez mais nacionalista e populista, cada vez mais preocupado com as questões de identidade em desfavor do conservadorismo a nível ideológico.”

Apesar de Donald Trump ser empresário e multimilionário, há um aspeto antissistema e contra o capitalismo financeiro de Wall Street, como confessa uma tradicional militante republicana ao diretor do “Le Monde Diplomatique”, Serge Hallimi: “O establishment republicano deveria estar feliz por esta rebelião utilizar mais os boletins de voto que as balas.” Esta militante afirma que, durante a crise de 2008, “devia-se ter deixado arder tudo, seria muito duro mas tinha-se erradicado a corrupção”. Para estes eleitores que conseguiram a nomeação de Trump, os dois partidos do poder são basicamente iguais e a elite dos republicanos prefere a vitória de Hillary Clinton a permitir colocar o sistema em causa.

Já se fala nas estruturas do Grande e Velho Partido (como são conhecidos os republicanos) que nas próximas primárias só serão permitidos votantes que militem no partido para impedir fenómenos como Trump.