Portugal nas meias-finais


Estamos disponíveis para assumir a responsabilidade social de não pactuar com tais situações de fraude e corrupção?


1. O futebol desperta sentimentos únicos. Sobrepondo-se aos jogos políticos e às decisões que ignoram as emoções da nossa identidade, os desportos revelam quem somos e a vontade titubeante de sermos os obreiros do nosso futuro. Quando tudo corre bem, o orgulho faz parte do ar que respiramos. Quando o sucesso não é alcançado regressamos ao medo de existir e à desculpabilização.

O clubismo, metamorfoseado em patriotismo nas competições internacionais, alimenta a desatenção à realidade que nos rodeia, enfraquece a nossa determinação, deixa-nos seduzíveis pelo aparente, pelo sorriso postiço e pela mensagem maligna.

Aproveitemos o desporto que tanto idolatramos para reforçar a nossa vigilância, para pugnarmos por um desporto mais ético, hoje, por uma sociedade mais justa, amanhã, e sempre. Há bastante matéria de exercício porque o futebol transborda de fraude, assim todo o desporto, sobretudo quando catapultado a negócio de milhões, mas falemos do que agora nos apaixona.

2. Podemos classificar as suas fraudes em dois grandes grupos: as que são exclusivas do desporto; as que, sendo gerais, assumem especificidades importantes nas organizações desportivas.

As fraudes que justificam a adjectivação de “desportivas” são as que visam a viciação dos resultados das competições. E, grosso modo, essa viciação pode ser feita por dopagem ou por corrupção de alguns dos intervenientes no jogo. Quanto ao primeiro, com mercados diferentes para os atletas de alta competição e os restantes, pouco acrescentaremos, apesar de ser mais frequente do que se possa imaginar.

A via corruptora consiste em influenciar o resultado dos jogos pela corrupção de jogadores da equipe adversária que possam ter particular intervenção no jogo (ex. o guarda redes, um defesa, um ponta de lança), de elementos com carisma junto dos jogadores (ex. líder do balneário, treinador, dirigente desportivo) ou, ainda, dos árbitros.

Estes procedimentos podem provir de duas preocupações distintas. A primeira visa, como é do conhecimento geral, garantir à equipe corruptora uma posição na competição que lhe traga vantagens acrescidas. A segunda está relacionada com os resultados esperados nas apostas desportivas. Os procedimentos podem ser bastantes distintos. Uma envolve essencialmente agentes desportivos, outra é controlada pelas organizações criminosas transnacionais; uma tende a acentuar-se em determinada fase das competições, a outra pode acontecer a qualquer momento; uma centra-se dominantemente sobre o resultado do jogo, a outra sobre qualquer acontecimento relacionado com o evento desportivo (do resultado ao momento em que é marcado um golo, do seu autor ao número de cartões amarelos, por exemplo); uma tem um impacto local (dependendo este do âmbito da competição) a outra é à escala mundial. Uma tem por objectivo o «sucesso desportivo», a outra exclusivamente o lucro (ou, em certas situações, o branqueamento de capitais).

3. As especificidades futebolísticas das fraudes gerais resultam de uma multiplicidade de factores: dos milhões movimentados à aleatoriedade dos preços pagos em diversas transacções; do histerismo clubista que coarcta a lucidez dos adeptos à elevada quantidade de intervenientes nos negócios; da popularidade e aparente impunidade de destacadas figuras ao seu envolvimento em actividades ilegais; do impacto económico-social de diversos eventos desportivos à grande corrupção que gera. O branqueamento de capitais campeia pelos poros desta imensa malha.

Mas sobre eles não nos alongaremos, limitando-nos a remeter, se interessado, para o que escrevemos sobre o assunto há sete anos: “Entre golos e apitos se lava o dinheiro”

4. É degenerescência ética no futebol, uma amostra da vivência em todas as modalidades. É um facto desportivo que se interpenetra com a degradação da nossa sociedade.

Por isso duas perguntas se impõem viradas para cada um de nós: (1) estamos disponíveis para assumir a responsabilidade social de não pactuar com tais situações de fraude e corrupção? o que é que cada um de nós pode fazer para combater tais situações?

Entretanto continuemos a apoiar a nossa selecção nacional de futebol. Formulemos veementes votos de que Portugal ganhe, para contentamento de todos nós!

Portugal nas meias-finais


Estamos disponíveis para assumir a responsabilidade social de não pactuar com tais situações de fraude e corrupção?


1. O futebol desperta sentimentos únicos. Sobrepondo-se aos jogos políticos e às decisões que ignoram as emoções da nossa identidade, os desportos revelam quem somos e a vontade titubeante de sermos os obreiros do nosso futuro. Quando tudo corre bem, o orgulho faz parte do ar que respiramos. Quando o sucesso não é alcançado regressamos ao medo de existir e à desculpabilização.

O clubismo, metamorfoseado em patriotismo nas competições internacionais, alimenta a desatenção à realidade que nos rodeia, enfraquece a nossa determinação, deixa-nos seduzíveis pelo aparente, pelo sorriso postiço e pela mensagem maligna.

Aproveitemos o desporto que tanto idolatramos para reforçar a nossa vigilância, para pugnarmos por um desporto mais ético, hoje, por uma sociedade mais justa, amanhã, e sempre. Há bastante matéria de exercício porque o futebol transborda de fraude, assim todo o desporto, sobretudo quando catapultado a negócio de milhões, mas falemos do que agora nos apaixona.

2. Podemos classificar as suas fraudes em dois grandes grupos: as que são exclusivas do desporto; as que, sendo gerais, assumem especificidades importantes nas organizações desportivas.

As fraudes que justificam a adjectivação de “desportivas” são as que visam a viciação dos resultados das competições. E, grosso modo, essa viciação pode ser feita por dopagem ou por corrupção de alguns dos intervenientes no jogo. Quanto ao primeiro, com mercados diferentes para os atletas de alta competição e os restantes, pouco acrescentaremos, apesar de ser mais frequente do que se possa imaginar.

A via corruptora consiste em influenciar o resultado dos jogos pela corrupção de jogadores da equipe adversária que possam ter particular intervenção no jogo (ex. o guarda redes, um defesa, um ponta de lança), de elementos com carisma junto dos jogadores (ex. líder do balneário, treinador, dirigente desportivo) ou, ainda, dos árbitros.

Estes procedimentos podem provir de duas preocupações distintas. A primeira visa, como é do conhecimento geral, garantir à equipe corruptora uma posição na competição que lhe traga vantagens acrescidas. A segunda está relacionada com os resultados esperados nas apostas desportivas. Os procedimentos podem ser bastantes distintos. Uma envolve essencialmente agentes desportivos, outra é controlada pelas organizações criminosas transnacionais; uma tende a acentuar-se em determinada fase das competições, a outra pode acontecer a qualquer momento; uma centra-se dominantemente sobre o resultado do jogo, a outra sobre qualquer acontecimento relacionado com o evento desportivo (do resultado ao momento em que é marcado um golo, do seu autor ao número de cartões amarelos, por exemplo); uma tem um impacto local (dependendo este do âmbito da competição) a outra é à escala mundial. Uma tem por objectivo o «sucesso desportivo», a outra exclusivamente o lucro (ou, em certas situações, o branqueamento de capitais).

3. As especificidades futebolísticas das fraudes gerais resultam de uma multiplicidade de factores: dos milhões movimentados à aleatoriedade dos preços pagos em diversas transacções; do histerismo clubista que coarcta a lucidez dos adeptos à elevada quantidade de intervenientes nos negócios; da popularidade e aparente impunidade de destacadas figuras ao seu envolvimento em actividades ilegais; do impacto económico-social de diversos eventos desportivos à grande corrupção que gera. O branqueamento de capitais campeia pelos poros desta imensa malha.

Mas sobre eles não nos alongaremos, limitando-nos a remeter, se interessado, para o que escrevemos sobre o assunto há sete anos: “Entre golos e apitos se lava o dinheiro”

4. É degenerescência ética no futebol, uma amostra da vivência em todas as modalidades. É um facto desportivo que se interpenetra com a degradação da nossa sociedade.

Por isso duas perguntas se impõem viradas para cada um de nós: (1) estamos disponíveis para assumir a responsabilidade social de não pactuar com tais situações de fraude e corrupção? o que é que cada um de nós pode fazer para combater tais situações?

Entretanto continuemos a apoiar a nossa selecção nacional de futebol. Formulemos veementes votos de que Portugal ganhe, para contentamento de todos nós!