Parlamento Europeu. Reino Unido fora da Europa, já!

Parlamento Europeu. Reino Unido fora da Europa, já!


Brexit já mexe com as instituições europeias. PE esvazia trabalhos dos representantes do Reino Unido. A começar pelos eurodeputados e a presidência rotativa da União Europeia


O Parlamento Europeu (PE) quer impedir o Reino Unido de exercer a presidência rotativa da União Europeia no segundo semestre de 2017 (julho/dezembro), na sequência do Brexit. Nesse sentido vai aprovar hoje de manhã em Bruxelas uma resolução – subscrita pelas principais famílias políticas europeias – a exortar o Conselho a alterar aquela ordem das presidências “para evitar que o processo de retirada possa colocar em risco a gestão do dia-a-dia da União”, lê-se no documento a que o i teve acesso.

O texto da resolução – assinado pelo Partido Popular Europeu, pelos Socialistas e Democratas, pelos Liberais Democratas e Verdes – aponta também para a retirada de poderes aos eurodeputados do Reino Unido nas diversas comissões e na elaboração de relatórios.

“O Parlamento Europeu vai introduzir alterações na sua organização interna que reflitam a vontade dos cidadãos do Reino Unido para se retirarem da União Europeia”, lê-se no documento, de 16 pontos, que constitui a primeira tomada de posição da instituição ao Brexit decidido na passada quinta-feira.

Em declarações ao i, a eurodeputada socialista Maria João Rodrigues reconheceu que, apesar desta decisão, os parlamentares eleitos no Reino Unido estão na instituição em representação dos povos europeus e não dos países por que foram eleitos, devendo por isso manter-se em funções até ao final do mandato, em 2019.

No documento, os eurodeputados assumem que tomaram “nota da vontade dos cidadãos britânicos deixarem a UE e respeitam essa decisão”, defendendo que deve proceder-se de “imediato à ativação” do artigo 50 do Tratado de Lisboa que “permite a um Estado-membro autoexcluir-se”.

A resolução lembra igualmente que, na sequência do Brexit, são nulas as decisões assumidas no Conselho Europeu de fevereiro último, no qual se “alcançou um acordo que reforçou o estatuto especial do Reino Unido na União Europeia”, designadamente nos domínios da competitividade, governação económica, soberania e prestações sociais e livre circulação.

Para as principais famílias políticas do PE, “qualquer nova relação entre o Reino Unido e a União Europeia não pode ser estabelecida antes da conclusão do acordo de saída”.

Os eurodeputados advertiram que deve ser evitada “a incerteza prejudicial para todos” e que, para “proteger a integridade da União, a notificação prevista no artigo 50 do Tratado da União Europeia deve ter lugar imediatamente”.

Apelam igualmente ao primeiro-ministro demissionário do Reino Unido, David Cameron, para notificar o resultado do referendo já no Conselho Europeu que hoje começa em Bruxelas e que se prolonga até amanhã, quarta-feira.

Para os parlamentares, essa “notificação vai lançar o procedimento de retirada”.

O documento, que vai depois ser entregue ao Conselho Europeu, à Comissão, ao Banco Central Europeu, aos parlamentos nacionais e ao governo do Reino Unido, apela ainda para a “criação de um roteiro para uma melhor União, baseada no aprofundamento do Tratado de Lisboa, a qual será completada com a revisão do Tratado”.

Maria João Rodrigues confirmou ao i que vai coordenar as negociações entre os vários grupos políticos na definição de uma “primeira versão deste Roteiro do Parlamento Europeu, que mais não é do que um conjunto de soluções e respostas da União Europeia a problemas como desemprego, segurança, zona euro, imigração e terrorismo”.

Para a deputada, os eurodeputados reconheceram haver “insatisfação entre os cidadãos perante a Europa” e que “o caminho passa por encontrar respostas e aprofundar a cooperação e reforçar o projeto europeu”.

com Ana Sá Lopes