Ordem dos Médicos abre inquérito a prescrição de antibióticos sem necessidade


O bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, afirmou hoje que vai ser aberto um inquérito ao caso da prescrição de antibióticos sem necessidade para “intervir pedagógica e, eventualmente, disciplinarmente”. A abertura de um inquérito visa “entender a razão de uma tão elevada prescrição de antibióticos de forma aparentemente injustificada”, disse o bastonário, acrescentando…


O bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, afirmou hoje que vai ser aberto um inquérito ao caso da prescrição de antibióticos sem necessidade para “intervir pedagógica e, eventualmente, disciplinarmente”.

A abertura de um inquérito visa “entender a razão de uma tão elevada prescrição de antibióticos de forma aparentemente injustificada”, disse o bastonário, acrescentando que a Ordem “não pode ignorar que isto aconteceu”.

Em causa está uma experiência da Deco – Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor para avaliar a prescrição de antibióticos, que demonstrou que, em 50 consultas médicas, 20 clínicos prescreveram estes fármacos sem necessidade para casos de dores de garganta.

A Ordem pretende avaliar em que moldes os médicos prescreveram os antibióticos, mas também “entender qual o comportamento dos falsos doentes, como é que induziram eventualmente à prescrição”.

“Mesmo assim, um exame objetivo facilmente permitiria perceber que não haveria indicação para a prescrição”, sustentou José Manuel Silva.

O bastonário alertou para o “exagero de prescrição” destes fármacos, considerando que “parte da responsabilidade também é da população, que muitas vezes pressiona o médico” para tal.

“Tudo isto faz parte de um processo de evolução, diria científico e cultural, para que se evite a prescrição exagerada de antibióticos, que é profundamente prejudicial para a saúde humana”, destacou.

José Manuel Silva lembrou, ainda, que esta problemática se prende também, e muito, com a indústria agroalimentar.

Cerca de “80% da utilização de antibióticos é na indústria agroalimentar. A sociedade deve começar a ter consciência” desta matéria, disse, lembrando que estes fármacos vão progressivamente deixando de fazer efeito por causa das resistências que as bactérias vão adquirindo.

 

*Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico aplicado pela agência Lusa