Casos abrandaram no Norte mas aumentaram  na região de Lisboa

Casos abrandaram no Norte mas aumentaram na região de Lisboa


Região de Lisboa reportou nos últimos dias o maior número de diagnósticos desde o início da epidemia. DGS admite que isso pode ser reflexo de rastreios, mas tendência está a ser analisada. Internamentos voltaram também a subir.


Os últimos dados reportados nos boletins da Direção-Geral da Saúde mostram que o número de diagnósticos de covid-19 tem estado a abrandar na região Norte, nos últimos dois meses o principal foco da epidemia no país, mas aumentou na região de Lisboa e Vale do Tejo. A tendência verifica-se já desde as últimas semanas, altura em que o crescimento de novos casos passou a ser maior a sul. Nos últimos dois dias, a região de Lisboa e Vale do Tejo reportou o maior número de diagnósticos desde o início da epidemia – na quarta-feira, mais 400 casos e, esta quinta-feira, mais 294 casos. Analisando os dados disponibilizados nos boletins diários da Direção-Geral da Saúde, percebe-se que, a nível nacional, os casos aumentaram 2% esta quinta-feira, mas são agora os casos diagnosticados em Lisboa a empurrar o balanço para cima. Na região Norte verificou-se um aumento de 1,2% nos casos enquanto, na região de Lisboa e Vale do Tejo, o aumento foi de 4,4%. Os melhores indicadores surgem no Alentejo, há três dias consecutivos sem novos casos. Na região Centro, o aumento foi de 1,1%, e na região do Algarve de 0,9%. O i analisou os dados diários da última semana, em que os casos reportados não refletirão ainda o período de desconfinamento, uma vez que existe o período de incubação do vírus e manifestação de sintomas, e verifica-se que o ritmo de crescimento de casos confirmados na região de Lisboa e Vale do Tejo entre domingo e quarta-feira (os últimos dados disponíveis à hora de fecho desta edição) foi superior ao da semana semana passada, ao passo que nas restantes regiões do país houve uma desaceleração do aumento de casos. De domingo a quarta-feira da semana passada, os casos confirmados aumentaram 2,9% na região Norte e 4,6% na região de Lisboa e Vale do Tejo. Já esta semana, no mesmo período de quatro dias, o aumento foi de 2% na região Norte e de 13% na região de Lisboa.

Efeito de rastreios?

Questionada ontem pelo i sobre o aumento de casos na região de Lisboa e Vale do Tejo nos últimos dias, a diretora-geral da Saúde sublinhou ser um facto, esclarecendo que as explicações estão a ser analisadas. “De facto, constataram-se na região de Lisboa e Vale do Tejo mais 400 casos ontem e, hoje, mais 294. Este é um facto, as explicações para o facto estão a procurar-se. Obviamente, estamos a estudar todos os dados que temos, quer a nível nacional quer com as autoridades de saúde da região de Lisboa e Vale do Tejo, para tentar perceber se isto corresponde a fenómenos isolados”, garantiu Graça Freitas, realçando também que têm sido feitos “rastreios maciços” na região de Lisboa, o que pode influenciar o número de casos que estão agora a ser diagnosticados. Questionada sobre o R0 na região de Lisboa, a diretora-geral da Saúde disse ser ligeiramente superior ao do resto do país. Fonte da ARS de Lisboa e Vale do Tejo admitiu também ao i que os últimos balanços podem incluir notificações atrasadas, não refletindo a situação atual. Por outro lado, há pelo menos um foco que parece ter contribuído para mais casos na região de Lisboa, nos últimos dias. No domingo, a fábrica da Avipronto, na Azambuja, foi encerrada depois de terem sido confirmados 34 casos entre os trabalhadores e, entretanto, já foram detetados cem casos positivos entre os funcionários, nem todos residentes no concelho. À Lusa, o presidente da câmara, Luís de Sousa, revelou que foram também detetados dois casos noutra empresa, a Solvensen. O autarca pediu o reforço de comboios à CP, sublinhando que as empresas do município empregam 8500 pessoas. “Diariamente, chegam à Azambuja milhares de pessoas, provenientes de várias zonas. É urgente evitar que viajem como sardinha em lata”.

 

“A epidemia está a testar em tempo real a nossa cidadania”

A chegar ao fim da primeira semana de desconfinamento, cujo impacto na evolução da epidemia só será possível avaliar nos próximos dias, há, no entanto, outros indicadores em que parece haver já algum recuo face à tendência de alívio progressivo na semana passada.

Depois de uma quebra continuada desde a segunda quinzena de abril, quando houve um pico de 1300 doentes internados com covid-19, o número de doentes hospitalizados tornou a aumentar consecutivamente nos últimos quatro dias, ainda que continue muito abaixo daquele que foi o momento de maior pressão no SNS, a 16 de abril. No entanto, na semana passada, entre domingo e quarta-feira, tinha havido um saldo de menos 27 doentes internados nos hospitais. Esta semana, de domingo até quarta-feira (os dados conhecidos ontem), verificavam-se mais 61 doentes internados face a domingo. A tendência de aumento não se verifica nos cuidados intensivos, que estabilizaram nos últimos dias.

Filipe Froes, pneumologista e coordenador do gabinete de crise da Ordem dos Médicos, sublinha que são indicadores a monitorizar nos próximos dias para perceber melhor as tendências. Numa fase crítica, em que será preciso avaliar de perto o impacto da reabertura do país, o médico defende que deve ser desde já reforçada a importância de seguir as orientações de distanciamento social e de etiqueta respiratória na retoma da vida do país. “É importante perceber que a epidemia não acabou. Andámos dois meses a testar o vírus com técnicas de biologia molecular, com as análises PCR. Agora é a epidemia que está a testar em tempo real a nossa cidadania, a nossa capacidade de adaptação e a nossa responsabilidade. Estes primeiros dias de teste, que não refletem ainda esta semana, estão a apontar-nos para um resultado menos favorável e isso significa que temos de nos preparar melhor, reforçar as medidas de adesão à etiqueta respiratória, distanciamento social e utilização das máscaras”, apela.