Cascais 2018: viva a juventude


Que sociedade desejamos quando a tecnologia ameaça milhões de empregos e até algumas das nossas crenças mais básicas? Será o tecnodeslumbramento uma posição irremediável perante o domínio que a tecnologia exerce sobre os indivíduos?


Está oficialmente aberta a Capital Europeia da Juventude – Cascais 2018.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e membros do governo, como os secretários de Estado da Juventude e dos Assuntos Europeus, juntaram-se ontem em Cascais para celebrar o acontecimento. E ele merece mesmo de ser assinalado.

Em primeiro lugar, hoje não é muito popular ostentar o título “europeu” no nome. Vivemos um tempo de euroceticismo demagógico. Tudo o que é contra a Europa e os burocratas de Bruxelas rende votos. Em Cascais, não pensamos dessa maneira. Olhamos para a identidade portuguesa como o produto da interceção de três círculos: o círculo da pertença europeia; o círculo da lusofonia presente na dimensão atlântica e na CPLP; e o círculo da globalização. Portugal é o ponto de interceção destes três círculos. Somos tão orgulhosamente europeus como orgulhosamente lusófonos e globalistas. Estas três identidades têm uma relação simbiótica, complementam–se ao invés de se anularem.

Em segundo lugar, esta é apenas a segunda vez que um município português é organizador desta iniciativa transnacional. Braga teve uma organização irrepreensível em 2012. Colocou alto o patamar de exigência. Temos a ambição de o atingir e ultrapassar. Isso leva-me à terceira razão: para que serve uma Capital Europeia da Juventude em 2018?

Os cínicos dirão: “Não serve para nada.” Os otimistas militantes, como eu, dirão que serve para ajudar a mudar a Europa. Que papel está reservado aos jovens na liderança da Quarta Revolução Industrial? Que Estado social sobrará para as gerações mais novas? Como é que os jovens podem reverter o declínio ambiental e galvanizar a agenda para as alterações climáticas? Que sociedade é que desejamos quando a tecnologia ameaça milhões de empregos e até algumas das nossas crenças mais básicas? Será o tecnodeslumbramento uma posição irremediável perante o domínio que a tecnologia exerce sobre os indivíduos?

Queremos encontrar resposta a estas questões. Queremos políticas para as enfrentar. O mundo está a mudar. Os jovens são os que melhor compreendem a mudança. Ora, ninguém melhor do que eles para liderar e moldar essa mudança.

Não há nenhuma dúvida de que é a tecnologia o grande disruptor das nossas sociedades.

As tecnologias de autocondução aplicadas aos nossos automóveis e aos transportes públicos tornarão motoristas e condutores peças secundárias na nossa mobilidade. As impressoras 3D ameaçam revolucionar toda a indústria logística, a prostética, entre outras, mandando milhões para o desemprego.

A IBM Watson, que presta serviços de aconselhamento legal nos Estados Unidos, pode fazer com que 90% dos advogados do país se tornem redundantes – não sei quantos nesta sala estão a estudar Direito mas, se estão a pensar ser advogados, pensem duas vezes.

As redes sociais estão a matar os jornais e a mudar a forma como consumimos informação. E os desenvolvimentos da inteligência artificial e da realidade aumentada prometem revolucionar a forma como nos relacionamos com os outros humanos ou até com os nossos próprios desejos. Até o dinheiro, espécie à qual a humanidade tem mostrado tanto apego, está a desmaterializar-se.

O risco, aqui, é que o tecnodeslumbramento nos deixe numa postura de perigosa contemplação, na qual facilmente as pessoas passam a servir a tecnologia em vez do inverso. É nos jovens que temos de confiar para nos guiar a um futuro que não aceite, como verdade absoluta, a desmaterialização da economia e da sociedade.

Com pequenos grandes passos, a partir de Cascais, começaremos a mudar a Europa. Destacaria a criação do Observatório Europeu para a Juventude como o grande legado de Portugal à juventude europeia. Mas para isso é preciso que o parlamento e a comissão se pronunciem. Até lá, abrimos a Loja Europa em Cascais – para aproximar a nossa união de todos os cidadãos – e reveremos o funcionamento do Conselho Nacional de Juventude.

Estaremos sempre de braços abertos para todos os leitores do i, mais ou menos jovens, que partilhem o nosso sonho de mudar a nossa cidade, o nosso país e a nossa Europa.

Escreve à quarta-feira