Argentina.  A loucura andou de mãos dadas com a paixão

Argentina. A loucura andou de mãos dadas com a paixão


Cinco milhões de argentinos tomaram conta das avenidas de Buenos Aires tudo por culpa de Messi e companhia. A festa acabou mais cedo porque  os “hinchas” vinham de todo o lado, até do céu… 


Como se esperava, a chegada dos novos campeões do mundo à Argentina foi a loucura total. Trinta e seis anos a ver os outros ganhar é muito tempo – nem os dois títulos de vice-campeã em 1990 e 2014 aliviaram a dor – pelo que na altura de saudar os novos campeões os argentinos não se pouparam e fizeram do feriado um dia de orgulho nacional.

Ocorreram cenas curiosas e divertidas, mas houve também o lado negativo da festa com violência e duas mortes e, por pouco, não houve uma tragédia com Messi e Di Maria, que passaram perto de um cabo elétrico que estava solto entre dois postes.

O autocarro panorâmico que transportou os jogadores e equipa técnica estava ‘vestido’ com as cores das bandeira nacional e passou por vários pontos turísticos da cidade, onde milhares de pessoas esperavam a Albiceleste, muitas delas estavam ali sem dormir desde domingo. “Vamos ficar aqui o dia todo até que eles [jogadores] cheguem. O Maradona veio aqui e o Messi também deve vir. Tenho a certeza”, dizia uma adepta. Mas não foi só nos locais habituais que se festejou. A antiga casa de Maradona tornou-se um local de culto e foi aí que muitos ‘hinchas’ celebraram a conquista do título mundial. Sabe-se que o futebol é paixão, mas o que se viu em toda a Argentina é inigualável ao ponto de a festa ter terminado mais cedo por questões de segurança para os novos campeões do Mundo. 

Recebidos como heróis As autoridades de Buenos Aires estimam que cerca de cinco milhões de pessoas, aproximadamente 10% da população do país!, saíram à rua na terça-feira. Nem no tempo do ‘Deus’ Maradona se viu algo assim. Isso fez com que o autocarro onde seguia a comitiva demorasse três horas a percorrer 12 quilómetros. Os adeptos ‘enlouquecidos’ saltavam, dançavam, gritavam e bloqueavam a estrada à passagem do autocarro na ânsia de se aproximarem dos seus deuses pelo que o ritmo era do pára-arranca. Os excessos e o estado de loucura a que se chegou pela conquista do tricampeonato tiveram um momento crítico quando dois fanáticos saltaram de um viaduto para dentro do autocarro, um conseguiu entrar, mas foi de imediato retirado, e o outro caiu no chão de uma altura de mais de três metros, e quando estava a ser assistido por médicos continuava a cantar e a festejar. Essa insana atitude levou as forças de segurança a alterar os planos e, em vez de continuarem no autocarro aberto, os jogadores foram levados para o Parque Roca, onde vários helicópteros os transportaram até à sede da Associação de Futebol Argentina, em Ezeiza. A ‘caravana da felicidade’, como ficou conhecida, percorreu apenas 12 dos 70 quilómetros previstos, por questões de segurança. “Os campeões do Mundo estão a sobrevoar o percurso de helicóptero porque se tornou impossível continuar por terra devido à explosão de alegria popular”, escreveu Gabriela Cerruti, porta-voz da presidência argentina. Aliás, as autoridades já previam cenas destas, por isso impediram que a seleção fosse festejar com os milhares de “hinchas” no mítico Obelisco – funciona como o Marquês de Pombal para os festejos em Lisboa. Mesmo sem a presença dos jogadores, alguns corajosos decidiram escalar o monumento, com 67 metros de altura, muito ao jeito do Homem-Aranha.

Havia de tudo nas ruas, desde presos com pulseira eletrónica, a quem estivesse ferido e continuava a cantar e a gesticular como que se estivesse no estádio enquanto era transportado de maca, e muita gente pendurada em postes de eletricidade, semáforos e em gigantescas árvores de Natal, que tinham sido colocadas para celebrar a época em que estamos, e que serviram também para festejar o tricampeonato. Naturalmente que Messi foi o mais aplaudido e houve mesmo um adepto que colocou uma placa com a designação “Avenida Lionel Messi”, por cima do verdadeiro nome dessa rua! Houve igualmente espaço para lembrar outros heróis como foi o caso de um adepto que saiu à rua com uma baliza para homenagear o guarda-redes Emiliano Martinez, que foi brilhante durante todo o jogo e, especialmente, nas grandes penalidades. 

Dinheiro aos adeptos Não foram só os adeptos que tiveram atitudes insólitas. Otamendi decidiu enrolar um cigarro enquanto passeava por Buenos Aires e Papú Gómez deu-se ao luxo de atirar dinheiro aos adeptos, e já lhe chamam o “Lobo de Wall Street”, numa referência à cena do filme onde Leonardo DiCaprio lança dinheiro à agua a bordo do seu iate.

Houve também o lado negro da festa com quedas bastante graves, violência e roubos. Um jovem de 24 anos morreu ao cair do telhado de uma casa, outro de 22 anos que viajava de moto morreu asfixiado na bandeira da Argentina que transportava, uma criança de cinco anos está em coma e outras 31 pessoas tiveram de receber assistência médica. Houve também confrontos entre adeptos e bombeiros no Obelisco, quando estes quiserem retirar as pessoas que tinham escalado o monumento.