Sindicatos. A guerra de mercado dentro da PSP


Numa instituição com cerca de 23 mil agentes existem nove sindicatos. Falando com cada um deles é fácil perceber as divergências, ódios de estimação e diferenças de pensamento. Mas também há pontos em que todos concordam: existem demasiadas associações sindicais dentro da PSP, e a culpa é das últimas direcções nacionais e dos governos, e…


Numa instituição com cerca de 23 mil agentes existem nove sindicatos. Falando com cada um deles é fácil perceber as divergências, ódios de estimação e diferenças de pensamento. Mas também há pontos em que todos concordam: existem demasiadas associações sindicais dentro da PSP, e a culpa é das últimas direcções nacionais e dos governos, e o excesso de sindicatos tem dificultado as negociações com a tutela. Mesmo assim, nenhum dos sindicatos ouvidos pelo i estaria disposto a desaparecer para se fundir com um seu congénere.

O presidente do Sindicato Unificado (SUP) da PSP, Peixoto Rodrigues, admite que existe uma “guerra de mercado” entre sindicatos. O responsável pela Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP), Paulo Rodrigues, prefere falar em “concorrência”. Uma competição que tem contribuído para “agudizar” a instabilidade dentro da polícia. “Os sindicatos tentam angariar o maior número possível de associados e nem sempre da melhor forma. Basta ver o número de comunicados que algumas associações emitem a dizer mal de outras”, diz.

Em 2010 até foi criada a Federação Nacional dos Sindicatos da Polícia (FENPOL). Inicialmente, a estrutura avançou com três associações, mas um dos fundadores – o Sindicato Nacional de Polícia (SINAPOL) – acabou por sair em Janeiro do ano passado. Armando Ferreira, o presidente, queixa-se de não ter sido apoiado pelos restantes colegas numa altura em que foi suspenso de funções por fazer um pré-aviso de greve. “Acreditei que a unificação fosse possível. Hoje admito que a ideia é um fracasso, porque há valores, em alguns sindicatos, que vão além dos direitos dos polícias”, critica. A FENPOL continua a existir, mas o próprio presidente, Pedro Magrinho, assume que é “preciso coragem” para avançar com uma tentativa de unificação. “Há orientações e conotações políticas em alguns sindicatos e sede de protagonismo por parte de alguns presidentes”, justifica, acrescentando que muitas vezes se mistura “sindicalismo com política e venenozinhos”.

São de mais Pedro Magrinho defende que não são precisos tantos sindicatos na PSP. “Mas não há maneira de acabar com eles”, sublinha. E não é o único responsável sindical a pensar desta forma. Paulo Rodrigues, da ASPP – o sindicato com maior representatividade dentro da polícia e que congrega mais de 11 mil agentes – concorda que há um excesso. “E há alguns muito pouco representativos, que usam discursos radicais para aparecerem nas primeiras páginas dos jornais, o que afecta a credibilidade das restantes associações”, critica. O Sindicato Independente da Classe de Chefes (SICC), que integra 80 chefes principais da PSP, também concorda. “Nove sindicatos são de mais, mas só existem tantos porque as várias classes dentro da polícia querem puxar a brasa à sua sardinha”, diz Mário Pires, o presidente. Hélder Andrade, líder da Associação de Oficiais da Polícia (ASOP) – que não revela o número de associados do seu sindicato, mas garante ser o mais “representativo” dentro do grupo dos oficiais –, também considera que não são precisas tantas estruturas. “Bastaria um sindicato por classe e um ou dois generalistas”, defende.

A culpa da existência de tanto associativismo disperso, considera, é da própria direcção nacional da polícia. “No início só existia a ASSP, mas a direcção entendeu dividir para reinar e fragmentar a união sindical que existia”, acusa. Já Manuel Gouveia, do Sindicato Nacional da Carreira de Chefes (SNCC), diz que o problema é que os últimos directores da polícia não têm sido verdadeiros embaixadores dos agentes. “Se tivessem sido, não precisávamos de sindicatos para nada”, garante. Armando Ferreira, do SINAPOL, prefere não discutir o número de sindicatos. “O que importa discutir é o que cada um tem feito pela polícia, e há alguns que não mostram trabalho”, acusa.

“Não negoceiam nada” A existência de nove sindicatos até poderia ser sintoma de vitalidade dentro da PSP, mas os responsáveis sindicais garantem que não. E que este número só tem prejudicado quando se trata de negociar com o governo e com a tutela. “Não há qualquer poder de reivindicação, as negociações não dão em nada. Os sindicatos têm sido meras figuras decorativas”, refere Manuel Gouveia. Hélder Andrade explica porquê: “O que acontece é que os sindicatos não se sentam à mesma mesa antes de irem reunir com a tutela. Vai cada um por si. E a seguir às reuniões, mesmo que tenha ficado alguma coisa decidida, há sempre um ou outro que fura o sistema e envereda por um caminho isolado.”

Não me fundo por nada Se se perguntar aos sindicatos se admitiriam fundir-se com outros, dificilmente se arranca uma resposta afirmativa. No caso da categoria dos chefes, existem duas associações. Manuel Gouveia, líder da mais antiga, garante que a haver uma fusão deveria ser o outro sindicato a dar o primeiro passo. “Foi criado à nossa revelia e só para responder aos interesses dos seus corpos sociais, foi a isto que se chegou na PSP. Não posso fundir-me com quem não existe nem tem qualquer representatividade”, explica. No caso dos oficiais também há dois sindicatos. Hélder Andrade, que preside a um, diz que só admitiria uma fusão “se eles viessem para nós”. Porquê? “Porque eles têm cláusulas restritivas, por isso eles é que estão mal, a nossa visão é unir o oficialato”, justifica. Mário Pires, do SICC, acha que é muito difícil caminhar-se até para o federalismo. “É muito complicado congregar interesses que são tão diferentes”, resume. Mesmo assim, Hélder Andrade, que pertence à FENPOL, acredita no futuro da federação e até diz que há “pedidos de adesão pendentes”. O i não conseguiu falar com os restantes três sindicatos da PSP até ao fecho da edição.