Portugal


Episódios da história de Portugal contados de uma forma estúpida e sem um pingo de objectividade


– Estou sim? Olhe estou a ligar para fazer um registo de propriedade.

– Muito bem, é um registo de veículos ou predial?

– Bom… na verdade eu quero registar um país.

– Para registo de países só para o mês que vem que a pessoa responsável está de baixa de maternidade.

– Mas eu estou com alguma pressa sabe. É que isto por aqui anda tudo a modos que à lambada e vai daí para o mês que vem posso muito bem já não ter o país bem como está portanto queria despachar já isto para depois não me virem com chatices legais entende?

– Pois compreendo, olhe aguarde só um momento…

(Começa a tocar Enya)

30 minutos e 5 músicas de Enya depois.

– Vamos lá ver isso então, diga-me o seu nome por favor.

– Afonso.

– Afonso quê?

– Henriques.

– Ora então Afonso Henriques… tem pais vivos Senhor Afonso?

– Olhe trate-me por Dom se não se importa que eu não andei estes anos todos à bulha com meio mundo para agora chegar aqui e ser tratado como um gajo qualquer.

– Peço desculpa Dom Afonso. E os seus pais, qual é a situação deles?

– Quinaram. O meu paizinho que Deus o tenha imigrou de França para aqui quando era novo, veio nas Cruzadas como os outros, arreou forte e feio numa malta que cá estava para estes lados e estabeleceu-se com uma miúda espanhola que veio a ser a minha mãe.

– E qual o nome dos seus pais já agora para ver se tenho aqui alguma coisa nos registos centrais?

– O meu pai era o Henrique de Borgonha e a minha mãe Teresa de Leão, Teté para os mais próximos.

– Pois… o que tenho aqui é que o seu pai era o capataz de umas terras ali para os lados de Guimarães mas as terras pertencem a Castela e um bocado mais para sul é terra do Califado Almóada de Marraquexe.

– Isso está tudo desactualizado minha senhora! Não têm feito updates no software está-se mesmo a ver… Então eu mais meia dúzia de malta já despachámos os mouros todos para lá do Freeport de Alcochete. Olhe ainda na semana passada arrasámos Santarém e para a semana quero ver se dou um pulinho a Lisboa. Tenho de lá ir ver um primo e assim aproveito e também conquisto isso para aí.

– Mas olhe que não temos tido cá muitos mouros sabe? Isso é mais para Londres e Paris e assim.. Aqui há é muito alemão e chinês, parece que é moda agora vir para estes lados tá a ver?

– Pois eu é mais mouros e espanhóis mas se esses “vacances” se meterem em bicos dos pés também levam pelos queixos abaixo para não se armarem em espertos. Estou mesmo a ver… começam como turistas e não tarda nada querem vir para aqui ser donos de tudo, há que ter cuidado portanto na dúvida, é bater.

– Mas voltando ao assunto das terras, encontrei aqui algumas coisas mas está tudo em nome da sua mãe.

– Lá está você com isso desactualizado! Veja lá que há quase 20 anos que preguei uma coça à minha mãezinha na batalha de S. Mamede. Levou um arraial de porrada tão grande nesse dia que só parou com os costados na Galiza para não se armar aos cucos. Desde então tenho tudo em meu nome.

– Pois vou ter de mudar isto à mão, deixe-me lá ver. Então é tudo seu aí para cima não é?

– Pois para aqui está tudo despachado.

– (Escrevendo) muito bem… e vai até aonde sabe dizer mais ou menos senhor… perdão Dom Afonso?

– Vai até onde conseguir ir. Eu tenho ideia de ir até ao Algarve mas cheira-me que vai ter de ficar para o meu mais velho que o raça dos Mouros não são flor que se cheire e os Espanhóis também são tinhosos à brava para andar à chapada. Ainda é empreitada para demorar mais umas dezenas anos. Mas é como diz o outro, vai-se fazendo.

– Olhe então se calhar escrevo aqui que vai até Lisboa, já que até está a pensar vir para estes lados e tudo.

– Ponha, ponha. Lisboa é garantido.

– Muito bem… então e que nome é que é que dar ao país, que é para ficar já registado?

– Eh pá…nem tinha pensado nisso. Que tal Afonsolândia?

– Parece-me fraco… mas se quiser…

– Tem razão, tem razão… muito egocêntrico…não sei…o que é que tem para aí de nomes disponíveis?

– Deixe cá ver… olhe tenho Espanha II, Aquelamaltaquevaidescobrirobrasil masaindanãosabe, Ronaldomania…

– Pois também não… olhe ponha Portugal para já e depois logo se vê, o meu paizinho que Deus o tenha sempre gostou de virar cálices de vinho do Porto portanto vai dai fica já assim. Só mais uma coisa, ainda tenho de falar com o Vaticano ou trata-se já tudo por aqui?

– Desde o SIMPLEX que já se faz tudo por aqui, fique descansado que depois mandamos tudo em duplicado para o Papa meter o Santo carimbo.

– Ok, agradecido.

– Ora essa Senh… Dom Afonso.

 

João Pedro Santos

Escritor e Humorista

 

 

 

 

 


Portugal


Episódios da história de Portugal contados de uma forma estúpida e sem um pingo de objectividade


– Estou sim? Olhe estou a ligar para fazer um registo de propriedade.

– Muito bem, é um registo de veículos ou predial?

– Bom… na verdade eu quero registar um país.

– Para registo de países só para o mês que vem que a pessoa responsável está de baixa de maternidade.

– Mas eu estou com alguma pressa sabe. É que isto por aqui anda tudo a modos que à lambada e vai daí para o mês que vem posso muito bem já não ter o país bem como está portanto queria despachar já isto para depois não me virem com chatices legais entende?

– Pois compreendo, olhe aguarde só um momento…

(Começa a tocar Enya)

30 minutos e 5 músicas de Enya depois.

– Vamos lá ver isso então, diga-me o seu nome por favor.

– Afonso.

– Afonso quê?

– Henriques.

– Ora então Afonso Henriques… tem pais vivos Senhor Afonso?

– Olhe trate-me por Dom se não se importa que eu não andei estes anos todos à bulha com meio mundo para agora chegar aqui e ser tratado como um gajo qualquer.

– Peço desculpa Dom Afonso. E os seus pais, qual é a situação deles?

– Quinaram. O meu paizinho que Deus o tenha imigrou de França para aqui quando era novo, veio nas Cruzadas como os outros, arreou forte e feio numa malta que cá estava para estes lados e estabeleceu-se com uma miúda espanhola que veio a ser a minha mãe.

– E qual o nome dos seus pais já agora para ver se tenho aqui alguma coisa nos registos centrais?

– O meu pai era o Henrique de Borgonha e a minha mãe Teresa de Leão, Teté para os mais próximos.

– Pois… o que tenho aqui é que o seu pai era o capataz de umas terras ali para os lados de Guimarães mas as terras pertencem a Castela e um bocado mais para sul é terra do Califado Almóada de Marraquexe.

– Isso está tudo desactualizado minha senhora! Não têm feito updates no software está-se mesmo a ver… Então eu mais meia dúzia de malta já despachámos os mouros todos para lá do Freeport de Alcochete. Olhe ainda na semana passada arrasámos Santarém e para a semana quero ver se dou um pulinho a Lisboa. Tenho de lá ir ver um primo e assim aproveito e também conquisto isso para aí.

– Mas olhe que não temos tido cá muitos mouros sabe? Isso é mais para Londres e Paris e assim.. Aqui há é muito alemão e chinês, parece que é moda agora vir para estes lados tá a ver?

– Pois eu é mais mouros e espanhóis mas se esses “vacances” se meterem em bicos dos pés também levam pelos queixos abaixo para não se armarem em espertos. Estou mesmo a ver… começam como turistas e não tarda nada querem vir para aqui ser donos de tudo, há que ter cuidado portanto na dúvida, é bater.

– Mas voltando ao assunto das terras, encontrei aqui algumas coisas mas está tudo em nome da sua mãe.

– Lá está você com isso desactualizado! Veja lá que há quase 20 anos que preguei uma coça à minha mãezinha na batalha de S. Mamede. Levou um arraial de porrada tão grande nesse dia que só parou com os costados na Galiza para não se armar aos cucos. Desde então tenho tudo em meu nome.

– Pois vou ter de mudar isto à mão, deixe-me lá ver. Então é tudo seu aí para cima não é?

– Pois para aqui está tudo despachado.

– (Escrevendo) muito bem… e vai até aonde sabe dizer mais ou menos senhor… perdão Dom Afonso?

– Vai até onde conseguir ir. Eu tenho ideia de ir até ao Algarve mas cheira-me que vai ter de ficar para o meu mais velho que o raça dos Mouros não são flor que se cheire e os Espanhóis também são tinhosos à brava para andar à chapada. Ainda é empreitada para demorar mais umas dezenas anos. Mas é como diz o outro, vai-se fazendo.

– Olhe então se calhar escrevo aqui que vai até Lisboa, já que até está a pensar vir para estes lados e tudo.

– Ponha, ponha. Lisboa é garantido.

– Muito bem… então e que nome é que é que dar ao país, que é para ficar já registado?

– Eh pá…nem tinha pensado nisso. Que tal Afonsolândia?

– Parece-me fraco… mas se quiser…

– Tem razão, tem razão… muito egocêntrico…não sei…o que é que tem para aí de nomes disponíveis?

– Deixe cá ver… olhe tenho Espanha II, Aquelamaltaquevaidescobrirobrasil masaindanãosabe, Ronaldomania…

– Pois também não… olhe ponha Portugal para já e depois logo se vê, o meu paizinho que Deus o tenha sempre gostou de virar cálices de vinho do Porto portanto vai dai fica já assim. Só mais uma coisa, ainda tenho de falar com o Vaticano ou trata-se já tudo por aqui?

– Desde o SIMPLEX que já se faz tudo por aqui, fique descansado que depois mandamos tudo em duplicado para o Papa meter o Santo carimbo.

– Ok, agradecido.

– Ora essa Senh… Dom Afonso.

 

João Pedro Santos

Escritor e Humorista