Pandemia 1 – Presidente 0


Está confirmado que a variante delta é dominante em Lisboa, o que além de deitar uma sombra na esperada retoma turística, obriga a fazer uma retrospetiva do que foram as últimas semanas, a culminar com o qui pro quo entre Presidente e primeiro-ministro em Budapeste. Enquanto se manteve o alerta, suavizado, de que a pandemia…


Está confirmado que a variante delta é dominante em Lisboa, o que além de deitar uma sombra na esperada retoma turística, obriga a fazer uma retrospetiva do que foram as últimas semanas, a culminar com o qui pro quo entre Presidente e primeiro-ministro em Budapeste. Enquanto se manteve o alerta, suavizado, de que a pandemia não acabou, foi sendo transmitido aos portugueses a ideia de que havia uma cautela excessiva de alguns quando o momento é de transição. Consequência: o país que já tinha esta variante mais transmissível a circular no início de maio, relaxou. Não foi só no Sporting ou na final da Champions: nas ruas, nas esplanadas, nas famílias, deixou de haver vírus, mesmo com Lisboa com mais casos do que no primeiro confinamento. Desta vez Marcelo Rebelo de Sousa, durante muito tempo o porta-voz dos especialistas no fim das reuniões do Infarmed, foi um dos protagonistas da mensagem contraditória. Se houve pressão, foi para virar a página. E nisto não se seguiu o caminho da prudência, que não tem de significar confinar, mas valorizar os sinais de descontrolo quando surgem. Os novos diagnósticos na região de Lisboa aumentaram semana após semana, não foi só na semana passada. São oito vezes mais do que eram no início de maio e a testagem não aumentou oito vezes. Os internamentos começaram a acompanhar o aumento de incidência há três semanas – não é um pico como no inverno porque não é inverno e a vacinação tem um efeito protetor, mas ainda há muita gente não vacinada e gente vacinada que adoece. Os inquéritos epidemiológicos estão mais atrasados. Quando os ingleses excluíram Portugal da lista verde, o Governo reagiu no Twitter com honra ferida – como alguma razão no modo inglês de fazer os anúncios, mas fê-lo sem robustecer a análise, aproveitar para mais uma vez sensibilizar a população e operacionalizar questões como a testagem no acesso a festas, casamentos e batizados, etc. Só de há duas semanas para cá o discurso começou a mudar e ainda assim nos últimos dias ficou patente, inclusive nos não comentários de Marcelo Rebelo de Sousa sobre as decisões em relação à Área Metropolitana de Lisboa, que o Presidente parece ter uma visão distinta mas o Governo é que decide. Mesmo no Governo, deve ser complicado perceber o que fazer agora. O apelo é para acelerar a vacinação mas isso é o que tem acontecido e não resolve o problema imediato da AML, onde milhões se deslocam diariamente, onde o SNS não está sob pressão visível de ambulâncias em fila mas tem consultas e cirurgias por recuperar, numa altura em que o país estava já de férias marcadas. Mesmo que os outros países se sigam, Portugal vai começar o verão com um clima pouco soalheiro nas comparações internacionais. Talvez o Presidente possa explicar que plano teria em mente se fosse sua a decisão, pelo menos até nos termos de voltar a concentrar na bola na quarta-feira.