“Há dez anos eu tinha um telefone que pesava dois quilos e agora tenho um BlackBerry – a evolução dos tempos”, disse Mourinho quando confrontado sobre o novo dérbi da sua carreira: Chelsea-2004 vs. Chelsea-2013. O português diz que não faz sentido comparar as duas equipas, pois esta está em “transição” e respeita outra “filosofia”. Ainda assim, diz que agora tem mais qualidade…
Os números, esses, desmentem. Comecemos por comparar com os da 16.a jornada. O Chelsea-2004 era líder com 39 pontos, enquanto o Chelsea-2013 é terceiro com 33. Em 2004, os blues levavam apenas três empates (Aston Villa, Tottenham e Bolton) e uma derrota (Man City, 0-1) – Mourinho era criticado porque a sua equipa marcava poucos golos e era defensiva, mas após este desaire em Manchester à jornada 9 (o único!) a sua equipa aplicou cinco vezes a chapa 4 nas sete jornadas seguintes: Blackburn (4-0), WBA (4-1), Fulham (4-1), Charlton (4-0) e Newcastle (4-0).
Em 2013, os londrinos já perderam três (Everton, Newcastle e Stoke) e empataram mais três (Man. United, Tottenham e WBA) – apenas um tropeção caseiro; o mesmo é dizer que em oito jogos longe de Stamford Brigde, Lampard e companhia só venceram três. Muito pouco…
Em golos sofridos, este Chelsea leva uma sova: Cech já sofreu mais em 16 jornadas (18) que em toda a liga de 2004/05 (15) – apenas seis na jornada 16. Apesar de conhecermos o modus operandi de Mourinho – pôr os seus jogadores num pedestal -, estes números são conclusivos, mas também é verdade que esta equipa tem mais juventude e requer mais trabalho táctico, porque talento há.
Funny part: “Quem é melhor?” O guarda-redes é o mesmo – Petr Cech – que estava no topo da pirâmide em 2004, ao contrário de hoje, em que surgem guarda-redes com queda para o jogo com os pés – Neuer ou Valdés. O Chelsea-2004 tinha na defesa P. Ferreira, Ricardo Carvalho – campeões europeus com o FC Porto -, Terry e Gallas; Chelsea-2013 aposta em Ivanovic, Cahill, Terry e Cole. Quem vence? Bom, Ivanovic parece ser mais sólido e Cole é mais jogador do que Gallas a lateral, mas a dupla de centrais de 2004 era mais eficiente porque jogadores como Ricardo Carvalho eram e são raros…
Há nove anos o avançado era Drogba, que ganha com vantagem a Eto”o e Torres. O quebra-cabeças está no meio-campo: Makelele, Lampard, Tiago, Duff e Robben contra Ramires, Lampard, Oscar, Mata e Hazard. Chelsea-2013 tem mais um golo marcado na liga, mas sofrer muitos mais mostra também a fragilidade do meio-campo. É que em 2004 havia Makelele para controlar e congelar a bola, havia um Lampard com mais gás e extremos talhados para o contra- -ataque, o que permitia um bloco mais recuado. Agora, e aqui Mourinho é coerente, a filosofia é outra, os jogadores gostam de jogar curtinho, algo que convida a mudar o chip, a mandar no jogo e fazer subir a defesa (ou seja, ficam mais expostos).
José Mourinho é o homem dos papelinhos, aquele que gosta de números e factos, por isso cheira mais a acção de charme para moralizar as tropas…
